Transmigrei Por Acidente Para Um Mundo De Cultivo.

Capítulo 50 - Corpo liberto, alma prisioneira

Ji Piao conduziu Li Jiong pelos corredores de pedra, levando-o até várias salas de paredes brancas e iluminadas por lanternas que emitiam uma luz branca e fluorescente. Chegava a doer a vista, então dificilmente os vigias estavam lá sem um véu negro sobre o rosto. Eles pararam em frente a porta de uma das celas e o secretário abriu a estranha combinação da fechadura que nada mais era do que uma matriz.

O coração de Li Jiong batia tão forte que ele podia sentir a pulsação em suas têmporas. Meng Fei estava atrás daquela porta. Fazia vários dias que ele não o via desde que partiu para Daiqian. Durante todo esse tempo ele nutriu a expectativa de vê-lo bem e brincando com os gêmeos na Residência da Garça e agora ele estava suando frio só de supor o estado em que ele estava. Se Gang Cong tivesse exagerado no interrogatório, ele iria parti-lo ao meio!

Ji Piao abriu a porta e eles entraram na cela branca. A iluminação era exatamente como a de fora, assim os prisioneiros não conseguiriam dormir nesse período. E paralisados pelo bloqueio dos pontos de acupuntura, se sentindo indefesos, a carga de estresse suportada era muito grande.
Li Jiong estava com a garganta seca. Meng Fei foi deixado sobre uma cama simples de bambu.

Diferente dos outros presos que seriam interrogados novamente, ele foi deixado totalmente inconsciente, o que tornava mais fácil para ele permanecer naquele ambiente opressor. Uma cortesia de Gang Cong, que no fundo acreditava que ele não era o assassino.

Li Jiong caminhou até ele, cada passo dado como se todo seu corpo pesasse como ferro. Ele olhou para as agulhas douradas presas no corpo, mantendo um bloqueio contínuo e na respiração lenta e suave de Meng Fei.

Se não fosse por isso ele pareceria um morto, pálido e frio.
Ele estendeu a mão para retirar as agulhas, mas Ji Piao se adiantou. "Mestre Li, deixe que eu faço isso, precisa ser retirado em uma determinada ordem."

Li Jiong assentiu, se afastando. Com habilidade, Ji Piao as retirou com rapidez, mas mesmo assim Meng Fei ainda permanecia desacordado.

"Ele não deveria acordar logo?" Li Jiong perguntou ansioso.
"Mestre Gang disse que provavelmente ele não era o assassino, então ele o deixou dormindo para não sofrer mais. É normal ele demorar um pouco para acordar. Mesmo assim, ele pode despertar um pouco nervoso devido às condições em que ele chegou.
"Ele estava... tão chocado assim?"

"Bem, ele não estava..." Ji Piao estava falando quando Meng Fei agarrou o braço de Li Jiong com força, abrindo os olhos em pânico. As pupilas estavam contraídas e ele começou a suar frio.

"Por favor...ajude..." Ele murmurou com a voz rouca como se tivesse gritado até esgotá-la. Seus olhos estavam nublados e era como se ele só enxergasse a escuridão a sua frente. Ele nem mesmo conseguia localizar o cultivador. Sua mão agarrou o que estava mais próximo de si.

Li Jiong o abraçou em resposta. "Meng Fei! Sou eu, Li Jiong! Está tudo bem agora!" Ele sussurrou baixo, próximo ao ouvido do outro, tentando apaziguá-lo. Sua voz saiu mansa, quase como uma canção de ninar.
"Li...Jio..." A voz de Meng Fei estava entrecortada. Tanto a visão quanto a voz estavam retornando lentamente após o bloqueio dos meridianos.
"Wen Liu... sinto... muito."

Ele se engasgou com soluços estrangulados, as lágrimas começaram a escorrer pelo canto dos olhos como delicadas pérolas. Li Jiong não o soltou, sentindo sua própria dor estravasar junto. Ele perdeu seu shifu que era como um pai e vivia correndo risco de perder essa pessoa também. Ele queria poder abraçá-lo e não largar mais, mantendo-o protegido de todas as ameaças e perigos deste mundo.

As lágrimas que ele vinha segurando até agora rolaram livremente, silenciosas como um pequeno córrego. Uma das mãos subiu até a cabeça de Meng Fei, afagando-lhes os cabelos, tão lisos e macios, enquanto a outra mão apoiava as costas, agarrando suas escápulas.

"Me desculpe... eu não pude fazer...nada..." Meng Fei conseguiu ainda dizer, com a voz embargada. "Eu juro... vou... descobrir quem matou..."

Li Jiong percebeu que ele estava muito mal ainda, então com pesar no coração, ele disfarçadamente pressionou alguns pontos de acupuntura, fazendo-o dormir novamente. Ele retirou sua túnica externa e usou para cobrir e aquecer o corpo gelado de Meng Fei.

Ji Piao estava observando da porta, então ele comentou: "Mestre Gang disse que ele só está assim porque associou a morte do pai adotivo com a de Wen Liu... parece que foram muito parecidas as condições."

Li Jiong estava como alguém que engoliu um pote de vinagre. Agora até Gang Cong sabia mais detalhes da vida de Meng Fei do que ele??? Embora ele soubesse que este último preferia evitar esses assuntos tristes, ele queria poder compartilhar de todos os seus segredos.

"Obrigado, Ji Piao." Li Jiong se despediu, dessa vez educadamente, carregando Meng Fei para fora. Sentindo sua respiração em seu pescoço e segurando-o com firmeza em seus braços, toda a ansiedade e desespero foram varridos do coração do cultivador. Ele foi direto para a Residência da Garça, lembrando-se de pedir depois que Deng Huan fizesse uma avaliação e trouxesse consigo Feng e Huang.

A médica também ficou cuidando dos gêmeos, para evitar que eles tivessem alguma reação hostil quando Meng Fei foi preso. Deng Huan disse que a mãe deles apenas teve que sair para depor sobre a morte de Wen Liu, porém as duas fênix não estavam muito convencidas. Eles lembravam vagamente de como a Seita Taoista funcionava e isso não os tranquilizou nem um pouco.

Com algum custo Deng Huan conseguiu mantê-los ao seu lado, convencendo-os a ficar somente depois que disse que avisaria Li Jiong. Assim os dois yao decidiram esperar. Li Jiong com certeza ajudaria a mãe mais depressa do que eles. As crianças decidiram então sentar em meditação e cultivar enquanto esperavam por notícias. Eles concluíram que se ficassem mais fortes, poderiam impedir que Meng Fei fosse intimidado novamente no futuro.

Li Jiong colocou Meng Fei com cuidado na cama de seu quarto, cobrindo-o com duas cobertas para tentar aquecê-lo mais rápido. Apesar disso, ele percebeu que ele estava começando a ficar febril.

Ele se sentou à beira da cama, acariciando-lhe a mão, enquanto esperava a chegada da médica. Ele se recordou das últimas palavras que o outro balbuciou para ele.
"Você não tem que se desculpar." Ele disse. "Não havia nada que pudesse ser feito para salvá-lo."

"Eu que deveria te pedir perdão... por deixar que toda hora alguém venha e te prejudique. Mas de agora em diante não sairei do seu lado nem por um instante! Não deixarei que mais ninguém te intimide!" Li Jiong se aproximou dele e pousou-lhe um beijo suave e trêmulo na testa, como o toque de uma brisa. Ele não sabia, mas sua alma já havia perdido a liberdade há muito tempo.

Nota da Autora:

Ah! Finalmente Li Jiong resgatou Meng Fei! Já estava ansiosa por isso! E que desenlace romântico, ele libertou o corpo de Meng Fei, mas sua alma já é prisioneira dele, hehe.