Transmigrei Por Acidente Para Um Mundo De Cultivo.

Capítulo 10 - Várias Dimensões

Li Jiong pensou que estava em um sonho. Tem certeza que este homem não tem nenhum tipo de poder espiritual? Ele se aproximou por trás devagar para verificar novamente os meridianos mas Meng Fei tinha terminado a música.

Ele percebeu que havia uma lágrima solitária presa no canto dos olhos do outro. Sua mão inconscientemente se ergueu para colher aquela pequena pérola, porém o próprio Meng Fei a enxugou com a manga da blusa,como que fingindo uma leve coceira.

"Você gostou?" Ele se virou. Seus olhos estavam mesmo um pouco avermelhados e ele sorria fracamente.
"Sim. O som que ele produz é tão cristalino, foi como se eu mergulhasse na própria paisagem." Li Jiong respondeu abrindo um sorriso discreto mas sincero. "Esta deve ser sua música favorita mesmo, você toca com tanto sentimento.

Meng Fei corou e respondeu um pouco constrangido.
"Humm, sim. Eu gosto muito dela."
Li Jiong olhou o ramo de flores sobre a mesa e tocou as pétalas. Ele murmurou algo baixinho e as pétalas emitiram um brilho sutil.
"O que está fazendo?"
"É um encanto para que as flores não murchem. Assim você poderá tê-las para sempre e vai se lembrar de mim quando eu não estiver mais aqui."

Os olhos de Meng Fei brilharam na hora.
"Isso é incrível! Muito obrigado!" Ele admirou as flores olhando-os de perto. Porém seu coração se apertou um pouco depois. Li Jiong lembrou que ele um dia não estaria mais aqui.
Só faz dois dias que ele está aqui e eu já me apeguei.

"Fico feliz que você tenha gostado. Eu gostaria de ter uma forma melhor de te agradecer..." Li Jiong comentou com certa timidez. Ele queria dar algo melhor embora ele tivesse percebido que este Meng Fei era do tipo que ficava feliz com as coisas mais simples.
"Hmmm... "
"O que foi?"

"Você... poderia tocar mais um pouco?"
"Claro! O que você gostaria de ouvir?"
"Ahh, eu não sou bom para me expressar como você e seu tutor o são... mas seria bom ouvir algo que pudesse expressar o que eu sinto, mas não sei explicar o que é, talvez tristeza...?"
Meng Fei voltou-se para o piano, refletiu um pouco e começou a tocar Tristesse, de Chopin [1]. Li Jiong sentou-se próximo.

Essa pessoa me compreende, ou talvez tenha um olhar sensível sobre qualquer um, porém para mim tanto ele quanto o outro Meng Fei são um enigma para mim.
Ouvir esta música era como se Li Jiong fosse levado a fazer uma viagem interior. Lembranças do passado, de sua infância na vila, de quando entrou na seita e conheceu seu shizun... as memórias vieram como ondas na praia, trazendo sentimentos de tristeza e saudade.

"E esta, como se chama?" Ele perguntou quando a melodia acabou.
"Chopin não deu um nome a ela, mas os críticos a batizaram de Tristesse." Ele balançou a cabeça contemplativo. "Significa tristeza, mas eu e Dai Lu discordamos desse nome. Acho que Melancolia ou Saudade soam melhor." Ele acariciou as teclas do piano, refletindo.

"Meng Fei." Era a primeira vez que Li Jiong o chamava pelo nome sem ser com ódio ou raiva. Havia uma certa hesitação no tom de voz até que ele formulasse a pergunta. "Por que você não se tornou músico?"
Meng Fei tinha essa resposta na ponta da língua. "Dai Lu faleceu quando eu estava com quinze anos. Ele deixou tudo para mim mas não era muito. Aos poucos tive que vender as coisas, procurar um trabalho. Eu mal conseguia comer dando aulas de música. Fui vendendo o que tinha e então quando vi só me restava o piano."

Ele inclinou a cabeça, esboçando um sorriso triste. "Para não perdê-lo entrei para a área de construção como ajudante e segui a carreira nisso... mas eu toco todas as noites, a cobertura aqui tem um bom isolamento acústico e eu não tenho vizinhos. Só não pude fazê-lo ontem porque chegamos um pouco tarde."
Li Jiong sentiu-se triste pelo outro, não pelo desperdício de talento e sim porque essa pessoa parecia um pássaro com as asas cortadas.