cap 3.

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—Ah, desculpa! — Eu disse quando percebi que havia trombado com Paulo.

—Vê se olha por onde anda, moranguinho! — Disse arrumando a roupa.

—Eu disse desculpas. —Eu disse pausadamente, já perdendo a paciência com esse menino.

—Não acredito que estou perdendo meu tempo aqui com você. — Estava virando para abrir a porta, e eu o puxei.

—Temos que discutir nosso trabalho. Eu sei que você não gosta de mim e eu muito menos de você, mas é um trabalho e é importante como todos os outros. Ah! e... —Fui interrompida com sua mão em minha boca.

—Shh! Você fala demais. — Olhei para sua mão. — Tá. Quando você terminar de falar mal da vida alheia com minha querida irmãzinha eu te deixo ter a honra de me entrevistar. — Revirei os olhos e ele se aproximou.

—E para de revirar os olhos. Que coisa feia, baixinha. — Corei pela forma que estavamos próximos. Próximos. Demais.

—Paulo Guerra! Onde você estava? Sua irmã chegou sozinha e... — Lilian Guerra, mãe de Paulo, abriu a porta e começou a xingar o menino, até que reparou que eu também estava lá. —Olá Alana, querida! Marcelina me contou que viria ajudar ela, vem entrem! —Entramos juntos pela porta, e a mesma me ofereceu um copo d'água, que neguei. Logo vi que o Sr. Guerra estava lendo seu jornal no sofá e fui cumprimentar.

—Boa tarde, Roberto. Tudo bem? — Estendi minha mão.

—Boa tarde, Alana. Tudo bem. — Ele apertou minha mão. — Como vai seu pai? Preso nos negócios, como sempre?

—Sim... Sabe como é, consultorio novo. — Eu disse, meio sem graça. A Sr. Guerra parecendo perceber o silêncio desconfortável que se instalou no ambiente, falou:

—Pode ir lá, Alana. A Marcelina deve estar te esperando no quarto dela. Vamos precisar ter uma conversinha com esse garotinho aqui. — Ela disse, olhando com desgosto para o filho. Eu concordei, dando um olhar confortador ao menino, que estava estático, e segui ao quarto da Marcelina.

Eu nunca gostei da forma como esses dois só criticam e maltratam o filho, e quando é a Marcelina eles passam a mão na cabeça. Posso contar a vezes que cheguei aqui e Paulo estava cheio de marcas ou com cara de choro, isso quando não dá para escutar lá de casa os gritos, isso sempre me fez ficar triste pelo menino. Eu posso não gostar dele, mas ninguém merece isso e graças a Deus fui educada muito bem e sei que violência nunca é a solução. Já percebi a muito tempo que a forma de receber atenção dos pais é quando ele apronta, eles nem ligam para o filho e nunca ligaram, então essa foi a forma que ele encontrou de receber atenção parental. Bati na porta do quarto de Marce.

—Pode entrar! — ela respondeu.

O quarto da menina é todo decorado em rosa e vermelho, as cores favoritas da mesma. O cômodo fica no final do corredor, perto do quarto de Paulo. Ela estava sentada em sua escrivaninha, perto de sua estante, que é cheio de livros e algumas decorações, deixando o quarto mais colorido. Sua cama fica do outro lado da escrivaninha, encima de um tapete felpudo branco. O quarto é todo iluminado em fitas de led coloridas e uma única lâmpada tradicional no centro do teto.

—Já comecei alguns exercícios da aula de hoje. Mas estou com dúvidas nesses aqui. —Deixei minha mochila na cama e fui me sentar para ajudar-la. Ao fundo, já podia escutar a gritaria vinda da sala, me deixando com um aperto no coração. Marcelina, parecendo perceber isso, me deu um lado de seu fone, mas não consegui me concentrar sabendo que possivelmente ele está apanhando nesse exato momento.

Me recompus e me foquei em ajudar minha amiga, afinal, esse é o motivo pelo qual eu vim aqui. Continuamos nos exercícios por algum tempo e estamos assistindo vídeo-aulas pelo YouTube. Eu sempre tive facilidade em aprender e em decorar as matérias da escola, então sempre ajudo meus amigos quando posso explicar. Meu boletim sempre foi impecável, e minha alta validação acadêmica é o principal motivo disso.

Não que meus pais ou alguém me cobre isso, mas eu sinto como se fosse uma obrigação sempre saber tudo e sempre ir bem, então já passei mal diversas vezes antes de provas. Já me conformei com isso, essa sou eu...

—Vou buscar um copo d'água na cozinha. Você também quer? — Ela assentiu em resposta, e fui a cozinha.

Ao chegar lá, me deparei com Paulo sentado no balcão com um gelo nos olhos.

—O que aconteceu com você? — Eu disse surpresa, com o olho roxo dele.

—Não parece óbvio? — Ele apertou o gelo nos olhos, soltando um gemido de dor.

—Sim, desculpas. Força do hábito. — Tirei a bolsa de gelo dos olhos dele e caminhei até os armários de pia, onde sei que fica a caixinha de primeiros-socorros da casa. Já me machuquei muito aqui brincando com Marcelina. Coloquei um pouco de soro no algodão e caminhei em sua direção, para tentar limpar seu corte. Quando levantei o braço na altura de seus olhos, ele segurou meu pulso.

—Porque está fazendo isso?

—Porque você está machucado e eu aprendi a fazer um curativo com meus pais. — Com isso, me desviei de suas mãos e passei o algodão em seu pequeno corte perto dos olhos. — Sua mãe?

—Meu pai. — Ele disse, seco.

—Sinto muito... — Depois de limpar, passei um remédio para cicatrização que encontrei e uma pomada para lesões. Em seguida, peguei esparadrapo e uma gaze, para fazer um curativo no corte. — Depois de tomar banho, passe mais um pouco dessa pomada no seu olho roxo. Se não conseguir fazer outro curativo, pode colocar um band-aid e...

—Alana? — Ele me interrompeu.

—Oi?

—Obrigado. Por tudo.

Direcionei meu olhar para seus olhos. Ele não merece o que seus pais fazem com ele. Ele deve ter chegado no máximo uns 20 minutos após o horário do final da escola, provavelmente ele estava de castigo, mas isso não dá o direito de seus pais fizerem qualquer coisa com ele... Me dei conta de que estavamos muito próximos quando escutei a voz de Marcelina adentrando a sala.

—Alana? Que demora é essa? Tô com sede. — Pigarreamos em resposta, e Paulo virou, para que sua irmã não visse seu estado. Guardei rapidamente a caixa de primeiros socorros e nossos copos, caminhando na direção dela.

—Eu... Ahn... Estava conversando com seu irmão sobre... O trabalho das duplas! Sim, isso. — Ela arqueou as sobrancelhas, em dúvida. Que história é essa, Alana! Você e o Paulo não conversam!

—Ah, sei. Vamos então, o vídeo já acabou.

Ufa, ela acreditou. Corei ao me lembrar de como estava entre suas pernas a alguns centímetros de distância de sua boca e o jeito que ele me encarava...

—Alana? Tá muito avoada hoje, o que está acontecendo? — Ela disse, passando os braços sobre meus olhos, pedindo atenção.

—Ahn, desculpa. Estava pensando longe, vamos para os para casas agora? – Ela concordou.

O que está acontecendo comigo?!


Oioi gente! Tudo bem com vocês? Espero que sim :))
Mais um capítulo para vocês, espero que estejam gostando da fic!
Ah! E para quem caiu de paraquedas aqui, eu também tenho uma fanfic do Mário, que se chama: "Unrequited love", passem lá depois <3
Beijocas para vocês.
-A.

My sister's friend | Paulo Guerra. Onde histórias criam vida. Descubra agora