VyH - parte 9

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Heriberto foi direto para seu apartamento assim que saiu do estacionamento da empresa de Victória, seus lábios não conseguiam esconder o riso ao recordar como a estilista tinha devorado um pote de sorvete em sua frente sem se dar conta de que ele estava ao seu lado a servindo de chantilly. Mulheres grávidas tinham a capacidade de surpreender a cada instante, tinha várias histórias para contar, afinal Marina vivia em seu apartamento e pelo menos duas vezes na semana estava comendo algo inusitado para aplacar seu seus desejos.

Marina.

O sorriso sumiu de seu rosto, há dias vinha sendo um completo canalha com a mulher que carrega sua filha, tinha sido ele a sair com ela daquele bar após colocar um fim em seu caso com a estilista, insistiu que precisava ser feliz. Marina o aceitou mesmo sabendo que estava quebrado, machucado em seu coração, queria manter as coisas discreta com o medico, se divertir, jantar, almoçar e fazer sexo onde bem entendessem e foi numa dessas aventura que a engenheira ficou grávida.

Heriberto tomou a gravidez como um sinal que deveria seguir em frente, Victória estava seguindo sua vida normalmente – a menos era assim que via e ouvia falar – Mas a verdade era que a estilista estava tão quebrada quanto ele, se amavam tanto e parecia que cada passo que davam para frente, regrediam três no que dizia respeito a história de ambos.

Um passatempo.

Uma paixão avassaladora.

Uma gravidez.

Se tivesse o poder de saber que sua vida mudaria tanto em dois anos, ele não acreditaria ou ao menos não teria feito metade das coisas que aconteceram. Não se arrependia da pequena que chegaria em poucos meses, era sua princesa, a filha que sempre sonhou em ter, mas ao longo dos anos, sua carreira e a vida viajada que tinha, o sonho tinha ficado para depois e o depois chegou.

E agora tinha dois bebês a caminho.

Ao abrir a porta do apartamento, não precisou olhar ao redor para encontrar Marina sentada no sofá, tinha o pensamento longe, a mão apoiava o queixo e a outra acariciava a barriga protuberante de cinco meses. Era difícil o apartamento ficar silencioso, sempre se escutava uma música baixinha ou a televisão em algum canal de construção ou jornal informativo.

— Oi. — Heriberto a saudou e se aproximou beijando sua testa.

Marina o analisou minuciosamente enquanto se afastava para sentar-se no sofá ao seu lado.

— Onde estava? — Perguntou com a maior naturalidade do mundo.

— Fui resolver uns assuntos. — Foi vago em sua resposta e a encarou. — Precisamos conversar!

— Pensei que tivesse ido comprar o que eu te pedi. — A engenheira abaixou a mão que estava no queixo e ignorou as últimas palavras. — Queijo com goiaba, era isso que eu queria comer, mas pelo jeito surgiu algo mais importante.

Heriberto acabava de ser pego na mentira, ficou de pé, tinha passado no mercado, mas na volta pra casa simplesmente tinha tomado outro caminho e se esquecido completamente do que tinha saído pra fazer.

Canalha.

Cretino.

Fanfarrão.

— Está no carro... — Tarde demais, ele pensou.

Marina sorriu com tristeza, se segurava tanto pra não chorar que seu rosto começava a se avermelhar pelo esforço.

— Ela voltou, não é? — O queixo tremeu ao apertar os lábios. — Voltou para a sua vida!

— Marina...

— Não minta pra mim, eu não sou idiota e não vou desempenhar esse papel tão tardiamente na minha vida. — O encarava com decepção. — Eu vou facilitar as coisas para você.

Virada do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora