VyH - parte 7

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De fato, o motel foi o último encontro entre Victória e Heriberto. O médico até tentou entrar em contato, mas a estilista não o atendeu, não o recebeu em sua empresa quando tentou encontrá-la, era melhor manter a distância e sua estranha calma a assustava.

Marcelo já estava fora da sua casa, da sua vida e não poderia culpá-lo por ter dignidade o suficiente para deixá-la depois do modo como o tratará e ainda tinha estado na cama de Heriberto na mesma noite. Victória esperava os meios de comunicações anunciarem seu divórcio, certamente viriam diversas especulações de quem teria sido o traidor e dessa vez seria ela a estampar a capa dos tablóides de fofoca.

"Estilista famosa trai marido, quem será o homem misterioso que destruiu um casamento de anos?"

"Qual será o motivo do divorcio entre Victória Gutierrez e Marcelo Sandoval?"

Victória nem conseguia pensar em todas as manchetes que estamparia, mas seria verdadeira, não deixaria que manchassem o nome de Marcelo e nem tinha como ser assim as conseqüências chegariam antes do que imaginava. A morena estava sentada em sua cadeira, tinha o pensamento longe, os olhos cheios de lágrimas, sua vida se transformaria num inferno.

Já fazia um mês desde o encontro, seu corpo estremecia sempre que recordava das mãos do médico em seu corpo, suspiros escapavam de sua boca sem que tivesse controle.

O orgulho falava mais alto e isso a estilista tinha de sobra.

— Um mês... — Balbuciou. — Tão ferrada ou pior.

Victória olhou os papéis sobre a mesa, tinha trabalho de sobra, mas não conseguia se concentrar em nada que não fosse o calvário que estava sua vida. Max perguntava pelo pai todos os dias, queria saber quando voltaria para casa e mesmo tentando fugir das respostas muitas vezes só respondia um "logo".

O que era a mais pura mentira, não teriam Marcelo nunca mais em suas vidas, além claro, dele como pai. Victória pegou o objeto na mesa no mesmo instante que a porta se abriu bruscamente revelando a imagem do médico e sua secretária logo atrás com os olhos arregalados.

— O que é isso? — Vick questionou.

— Ou você me ouve ou vamos passar o dia aqui presos nessa sala. — Heriberto foi bem franco.

Victória respirou fundo, escondeu as mãos embaixo da mesa e se encostou melhor na cadeira confortável.

— Pode ir, Ligia. — Victória a liberou.

A porta se fechou atrás de Heriberto, levaram alguns instantes para terem coragem de começar aquela conversa que estava atrasada há um mês.

— Quer sentar? — Foi o que Victória conseguiu dizer.

— Como pode ser tão orgulhosa ao ponto de não responder minhas mensagens, minhas ligações e tentativas de contato como essa de hoje? — Cuspiu as palavras em sua cara.

— Não temos nada para conversar ou não teria acordado sozinha naquele quarto. — Continuava a não demonstrar o que realmente sentia.

— Eu não consegui ficar...

Victória riu incrédula.

— É claro que não.

— Victória, as coisas mudaram, não sou mais um homem livre e você sabia perfeitamente bem disso quando me propôs...

— Os papéis se inverteram. — Riu sem sentimento algum. — Você agora é um homem casado e eu divorciada.

Heriberto não conseguiu esconder a surpresa ao ouvir suas palavras, a boca secou, as mãos não conseguiram ficar paradas ao lado do corpo e quando se deu conta já tinha uma tapando os lábios e a outra arruinando os cabelos.

— Eu contei a Marcelo que tinha um amante depois do nosso encontro, não esse último, mas sim o do carro. — Vick seguiu vendo o quanto o afetou. — Eu estava com ódio, não consegui medir as palavras e joguei na cara dele, mas o divórcio só saiu há um mês e no mesmo dia eu estava na cama com você.

Riu debochadamente, uma risada baixa, rouca, queria mesmo era uma bebida bem forte para lavar o amargo da sua boca e sua alma.

— A ironia de toda essa história era que eu queria ficar com vocês dois e no final acabei sozinha e... — engoliu o restantes das palavras e olhou a mão. — Não temos que explicar nada um para o outro, Heriberto.

Victória apertou os dedos envoltos ao objeto em sua mão, olhou para ele e suspirou.

— Pelo amor de Deus, Victória, eu... — Estava nervoso demais com tanta informação. — Eu te amava e você sabia disso.

— Sabia!

— Meses sendo seu amante, tendo migalhas do seu tempo e agora... agora você diz que... — avançou contra a mesa e a puxou para que ficasse de pé. — Por que você complicou tanto as coisas?

— Eu sou complicada. — Passou o braço por seu ombro, assim esconderia o que tinha na mão. — E com você, consigo ser ainda mais.

Heriberto encurtou um pouco mais a distância entre eles, uma mão esquentou a cintura da estilista e a outra subiu por suas costas.

— Eu te amo...

— Shhhhh! — O calou com os dedos, os narizes se roçaram numa carícia necessária. — Estamos em etapas diferentes da nossa vida, você vai ser pai.

— Esse bebê poderia ser nosso... — As palavras eram sussurradas, as mãos se moviam nas costas de Victória em busca de mais contato. — É muito difícil se manter longe de você.

Victória sorriu, beijou seus lábios de leve, só para senti-lo.

— Não se esqueça que foi você quem veio atrás de mim.

Os olhos se encontraram.

— Eu te deixei naquele quarto, dormindo e fui embora. Eu não sou um canalha, você estava dormindo tão linda que não consegui te acordar e se acordasse tenho certeza que não iríamos embora tão cedo e o pior é que não me importaria.

— Mas poderia ter deixado um bilhete, algo... — Victória acariciava o rosto do médico, precisava guardar qualquer recordação dele.

— Eu queria falar com você pessoalmente, mas você simplesmente não facilitou.

— Eu nunca facilito...

— Eu percebi...

As palavras eram dispensáveis e Heriberto a beijou. Victória tinha certeza que em toda sua vida nunca havia sido beijada dessa maneira, o corpo estremecia, a pele arrepiava e seu estômago parecia ter borboletas fazendo cócegas.

Um beijo sem pressa, um desejo que nunca teria fim.

Amor.

Victória o amava, tinha certeza disso, não tinha mais como se enganar ou o teria mandado embora assim que colocou os pés dentro de sua sala, mas simplesmente não conseguia, precisava de sua presença, do toque de suas mãos em seu corpo, da sua boca lhe fazendo estragos, queimando sua pele como brasa e a levando ao máximo do prazer.

— Eu te amo Heriberto. — Sussurrou. — Te amo de uma maneira que não pensei ser capaz de amar, como achei que só amaria o meu marido, mas você chegou, ganhou cada pedacinho do meu ser e do modo errado como começou não teria como dar certo.

— Não pode dizer que me ama e logo em seguida me mandar embora. — Heriberto a abraçou antes que pudesse dizer mais alguma coisa.

Victória sentiu os olhos se encherem de lágrimas, olhou para o que estava em sua mão e, apertou Heriberto um pouco mais em seus braços, sentiu seu cheiro. Como havia sido tola ao não despertar para o que sentia antes, tudo teria sido tão mais prático, fácil, mas agora não podia ficar remoendo o que já tinha passado, tinha que seguir em frente.

— Eu vou para Milão, Heriberto. — Confessou. — Daqui a pouco a notícia do meu divórcio vai sair na mídia, eu não estou preparada pra ter tantos repórteres na minha cola, preciso de tranquilidade pra... — Mordeu o lábio e o soltou para terminar de falar. — Eu...

— Você o quê? — A olhou tão intensamente que era impossível não estremecer.

— Eu estou grávida!

Eitaaaaaa

Beijus;

Virada do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora