Noiva...

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— Luz Noceda, Alteza — respondi, minha garganta seca, impedindo-me de falar em voz alta para ela.

— Desejo que a humana Luz Noceda participe dos duelos para se tornar minha noiva — meus ombros se tensionaram ainda mais, sentindo a dor em minha mandíbula com a força que eu estava exercendo. Murmúrios surgiram atrás de mim, vindos de uma multidão insatisfeita.

— Noiva? — minha voz escapou num sussurro inaudível.

— Amity, você está ignorando a vontade de seu pai — a rainha interveio, transformando aquilo em um espetáculo, onde os protagonistas eram a rainha e sua filha.

– Não há leis que proíbam a participação da garota e, por minha ordem, quero que ela lute – pude sentir Stringbean se mover em meus ombros, eu me sentia pequena no meio daquilo. Eu desejava gritar e dizer que não, mas o que aconteceria se eu contradissesse as palavras da princesa? Preferi me contentar com o silêncio.

— Alador, você não permitirá uma humilhação como essa para a nossa raça! — novamente a rainha bradou, desta vez com raiva. Encarei o Rei, que mantinha uma expressão calma e observadora.

— Ambas sentem-se – ele ordenou, as duas obedeceram às condições dadas e sentaram-se, parecendo extremamente contrariadas ao fazê-lo. Eu nunca fui boa em estar no meio de muitas pessoas, minhas mãos suadas denunciavam meu desconforto em ser o centro das atenções. O rei, por sua vez, demorava demais para dar seu veredito, muito tranquilo em ter todos o olhando — Luz, você pode se retirar, não sofrerá consequências por um erro que não foi cometido por você. Pode ir —  silêncio. Engoli o nó na garganta e ergui a cabeça.

— Agradeço, Majestade — virei-me sentindo aquele par de olhos dourados me observando, preferi não encarar também a plateia, pois já bastava a ansiedade e o nervosismo que senti minutos antes.

Ao sair da arena, minhas pernas tremeram. A adrenalina havia deixado completamente meu corpo, fazendo-me perder o equilíbrio e cair de joelhos no chão. Logo, uma sensação de aperto no peito tomou conta de mim, como se o ar estivesse se esgotando, e comecei a hiperventilar. 

Meu coração palpitava, martelando em meu peito e causando uma dor angustiante. Eu lutava para respirar, sufocando com o ar, enquanto uma onda de desespero me invadia, temendo não conseguir respirar.

Meu corpo encolheu involuntariamente, a falta de ar me fazia ofegar gradativamente. Havia muito tempo desde a última vez que senti essa sensação, e era aterrorizante. As pessoas passavam por mim sem se importar, imersas em seus próprios mundos ou pouco empáticas para perguntar se eu estava bem.

É claro, não tinha como esperar que alguém me ajudasse.

Aquela situação me fazia lembrar o quão miserável eu era, minha vida sempre se resumiu a viver em uma pacata cidade do interior, sem amigos, colhendo verduras frescas pela manhã. Mesmo sendo uma vida simples, eu não precisava me importar em ser um incômodo constante para as pessoas ao meu redor, mas por que eu tinha que sentir repulsa de mim mesma por estar estagnada e presa a uma existência que não queria? Sim, eu deveria sentir, mas tinha medo de não ter força suficiente para enfrentar meus medos internos, que foram trancafiados por tanto tempo.

Eu desejava evitar o arrependimento de sair da minha zona de conforto.

The Crown (Lumity)Onde histórias criam vida. Descubra agora