Primeira taça

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Olá! Bem, eu estou com essa ideia na cabeça faz um bom tempo, só não tinha coragem para postar, mas a minha colega escritora favorita disse para que eu o fizesse então cá estou. Essa história se passa entre as temporadas 3 e 4, ou seja, entre os arcos do Canibalismo e do Crime Perfeito. Enfim, é isso, boa leitura!

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     Era como se todos ali pudessem, finalmente, respirar. Inspirar e expirar, deixar o ar entrar e sair, repetidas e repetidas vezes. A sensação de que tinham acabado com o mal, pelo menos por enquanto, era boa o suficiente para esquecer todo o resto.
     A cidade estava em paz. Depois de todos os acontecimentos dos últimos meses, os cidadãos de Yokohama podiam dormir sem se preocupar com tigres assassinos, mafiosos em busca de uma recompensa, aeronaves em formato de baleia caindo do céu ou ratos procurando um livro mágico.
     Todos estavam dispostos a manter o estado de paz, então não foi exatamente uma surpresa quando a Agência de Detetives Armados e a Máfia do Porto se aliaram. Um contrato beneficiando ambas as partes foi assinado e era como se nunca tivessem sido inimigos.
     A surpresa, mesmo, surgiu apenas quando revelada a relação entre um certo detetive e um mafioso. Claro que era óbvia a existência de algo além de puro ódio entre Osamu Dazai e Chuuya Nakahara, apenas não haviam prestado tanta atenção naquilo.
     "O quê?!" O garoto de cabelos platinados exclamou, quando estavam todos reunidos na Agência. "Dazai-san e Chuuya estão namorando?!"
     "Não." O ruivo foi rápido em responder. "Não estamos namorando." Sua voz era firme, mas suas bochechas adquiriram um tom de rosa-claro e ele precisou desviar o olhar.
     "Chuuya!" O ex-mafioso protestou. "Como pôde ser tão mau assim?! Vai acabar magoando meus sentimentos." Ele apenas recebeu um revirar de olhos em resposta. "Chuuya!"
     "Bem..." A atuação dramática foi interrompida pelo usuário do Rashōmon. "Se Dazai-san e Chuuya-san não estão juntos..." Disse de uma maneira que deixava claro o quanto tinha desgostado daquela ideia: o Nakahara merecia mais, em sua opinião.
     "Nunca disse que não estávamos juntos." O executivo retomou. "Disse que não namorávamos. É diferente." Todos os olhares se voltaram para si, e eles eram confusos e julgadores, quase como se estivessem chamando-no de idiota ou algo parecido. "O que foi? Ele..." Apontou para o homem ao seu lado. "...nunca pediu para namorar comigo."
     "Eh?!" Osamu desatou a rir, parando apenas quando recebeu um tapa na nuca. "Ai, ai, Chibi... Você também nunca pediu para namorar comigo, o que siginifica que a culpa também é sua."
     "É porque esse é o seu papel, idiota." Logo uma discussão extremamente sem sentido começou.
     "Por que meu?!" Ele parecia incrédulo. "Está admitindo que você não consegue pedir alguém em namoro, Chu-Chu?" Provocou, divertido. "Ai, Chuuya! Pare de me bater!"
     "Já falei pra' não me chamar assim, Mackerel¹." Os dois pareciam crianças brigando, era quase engraçado. "E não tem nada a ver, eu consigo, sim!"
     "Então prova!"
     "Provo! Namo—" Foi quando ele percebeu o plano alheio e se interrompeu. "Eu não vou cair na sua armadilha, não sou burro."
     "Tem certeza?" Perguntou num tom brincalhão. "Você quase disse."
     "O que está querendo insinuar, Dazai estúpido?!" Ele rosnou as palavras. "E quer que eu diga tanto isso por quê?" Foi sua vez se revidar a provocação. "Parece que é você que não consegue pedir pra' namorar alguém."
     O moreno fez uma expressão de falso choque. "Como pôde...?" Levou a mão à testa para enfatizar o drama. "Pra' sua informação, eu já pedi várias garotas em namoro." A última frase fez a atenção de todos os presentes redobrar. Por algum motivo, eles tinham a sensação de que aquilo não deveria ter sido dito, principalmente para o ruivo, como se fosse gerar uma discussão maior ou um ataque de raiva (e ciúmes), mas isso nunca veio, inesperadamente.
     "É, eu sei." Revirou os olhos, se lembrando de algumas ocasiões específicas. "Você me arrastava atrás de mulheres com você, quando estava na Máfia." O jeito como ele disse aquilo sem parecer se importar era, de certa forma, chocante. "E eu não acredito que algumas delas realmente aceitavam ficar com você."
     Dazai riu, convencido. "Ninguém resiste ao meu charme, você é prova viva disso."
     "Vai sonhando." Desdenhou, talvez fosse demais para o seu ego confessar que os esforços do outro geravam resultados. "De qualquer forma, elas sempre chutavam sua bunda quando descobriam que você ficava 'aos amassos com o seu companheiro de trabalho o tempo todo'."
     Ele riu mais uma vez, achando graça da história. "Ah, sim!" Falou entre risos. "Uma delas disse isso uma vez!" Se havia alguém naquele cômodo (além daqueles dois) que não estivesse perturbado com tudo aquilo, então essa pessoa merecia um prêmio.
     Chuuya não reprimiu um sorriso vitorioso. "Disse. Mas, ela estava certa. E você é um idiota por isso, por ter mentido para todas elas." Deu um soco fraco em seu braço. "Elas também eram idiotas: 'tá escrito na sua testa o quão 'não hétero' você é."
     "Chibi!" Fingiu estar ofendido. 
     "É a verdade." Deu de ombros. No fundo, os dois sabiam que aquele assunto era mais profundo e sensível do que deixavam transparecer. Eles passaram por coisas difíceis para chegar até ali, mas relembrar os verdadeiros erros do passado não valia a pena. "E isso só prova que você que não resistiu ao meu charme." Desviou do tópico.
     "Sim, sim, com certeza." O tom sério foi usado apenas para aumentar a ironia. Antes que ele pudesse levar outro soco por isso, Kunikida resolveu interferir.
     "Ok, chega, os dois." Massageou as têmporas, aquilo era uma tremenda dor de cabeça. "Se forem 'sair no tapa', façam isso lá fora. Ou então, resolvam o assunto de uma vez, temos trabalho a fazer." Alguns reclamaram em desaprovação, querendo ver a briga acontecer, então ele não teve outra escolha. "Façam o que quiserem." Suspirou, desistindo de manter um ambiente calmo. No fim, todos estavam acompanhando empolgados uma briga de socos e chutes muito bem dados.

 
•••

 
     "Ai, ai, ai, Kunikida-kun!" Osamu reclamou enquanto o loiro colocava um pedaço de algodão em sua narina para tampar o sangramento. "Seja mais cavalheiro, como vai conquistar damas ass— Ai!"
     "Cale a boca, Dazai." Quando ele terminou o serviço, olhou para o Nakahara, com um curativo já muito bem feito na bochecha inchada. "Vocês dois parecem crianças. Só não são piores que Atsushi e Akutagawa."
     Os dois garotos mencionados se entreolharam antes de protestarem em uníssono. "Não somos tão ruins assim!" O detetive mais velho apenas murmurou um "tanto faz" em resposta.
     "Vocês têm certeza que não querem uma ajudinha com os ferimentos?" Foi a vez da doutora da agência falar, se referindo aos homens sentados lado a lado como se estivessem de castigo por terem brigado. "Foram uns socos bem feios, esses aí." Mas, os dois recusaram a ajuda. "Tudo bem então..." Era quase como se estivesse desapontada.
     "Valeu de alguma coisa?" O outro ruivo da Máfia finalmente perguntou. "Quer dizer, vocês caíram na porrada, legal. Mas, e aí? Tipo, os dois ainda 'não namoram', é isso?" E, enfim, ele verbalizou o que todos estavam pensando. "Cara, vocês só não são piores do que o homem-tigre e o Akutagawa." Novamente, os dois se encararam antes de começarem a discutir com Tachihara sobre ele não saber do que estava falando.
     "Ahem!" Dazai limpou a garganta, fazendo com que voltassem a prestar atenção nele. "Como o Slug² disse..." Parou de falar para desviar de um golpe. "...não namoramos. Mas, é óbvio que se eu pedisse, ele aceitaria."
     "Ah, é? O que te faz ter tanta certeza, huh? Eu poderia, muito bem, dizer 'não'."
     "Você aceitaria porque me ama, Chu-Chu." O mais baixo revirou os olhos, sentindo seu rosto esquentar. "E, também, porque você perdeu a aposta e é meu cachorrinho; então, vai fazer tudo que eu mandar³." Completou, recebendo um olhar de pura descrença em sua direção.
     "'Tá maluco, sua máquina de gastar bandagens?!" Gritou, se embolando um pouco nas palavras, pela vergonha. "Quer parar de dizer coisas estranhas na frente de todo mundo?!"
     "Aw, Chibi! Você fica tão bonitinho corado, assim!" O Nakahara realmente estava vermelho, mas não tanto quanto o sangue de Dazai que começou a escorrer depois de outro soco. "Ei!"
     "Apenas pergunte logo, idiota..." Murmurou quase inaudível.
     Osamu sorriu. "Em, Chuuya, você quer namorar comigo?"
     "Tanto faz." E então ele foi atacado por uma série de abraços e beijos. Apesar de ter reclamado, não conseguiu esconder um sorriso, se deixando levar e retribuindo tudo quase na mesma intensidade.
     Os dois esqueceram que tinham plateia, até receberem uma salva de palmas e muitos "finalmente!", numa espécie de comemoração.
     Bem, ao menos eles estavam juntos.

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Notas:
¹ "Mackerel" era o apelido que o escritor Chuuya Nakahara deu para o escritor Osamu Dazai (pseudônimo) na vida real. Significa "cavala".
² "Slug" era o apelido que o escritor Osamu Dazai (pseudônimo) deu para o escritor Chuuya Nakahara na vida real. Significa "lesma".
³ Refere-se à aposta que Dazai e Chuuya fizeram na temporada 3 para descobrir quem estava por trás do "caso Arahabaki". Quem descobrisse o culpado primeiro ganhava, e quem perdesse seria o "cachorrinho" do outro na Máfia, fazendo tudo que fosse mandado. Dazai descobriu que Rimbaud era o culpado antes de Chuuya, ganhando, portanto, a aposta.

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Ok, não ficou tão bom quanto eu esperava, mas o puro caos foi, de certa forma, engraçado de escrever. Este capítulo ficou bem curtinho, mas os próximos serão melhores. E, por falar em próximos, prometo postar um por dia até que os seis capítulos acabem. Até mais!

Cinco taças de vinho e uma de vinagre - SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora