Terceira taça

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Olá! Já vou avisando que esse capítulo não é dos melhores: eu estava sem ideias e sem vontade de escrever porque o episódio 2 da quinta temporada (que saiu hoje) me deixou com uma leve depressão:) Está bem curtinho, mas espero que gostem.

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     Foi apenas depois de muita insistência que Atsushi e Ryūnosuke aceitaram acompanhar seus veteranos em uma espécie de passeio pela cidade, naquela noite. Dazai comentou algo sobre um "encontro duplo" que os dois mais novos fizeram questão de fingir não prestar atenção sobre, embora suas bochechas vermelhas denunciassem que tinham escutado cada palavra.
     No fim, o que deveria ter sido uma programação para os quatro se resumiu em assistir Osamu e Chuuya agirem como um casal [quase] normal. Ali, iluminados pela luz da lua e cercados de cidadãos normais andando pelas mesmas ruas que eles, nem pareciam ser os tão temidos "Soukoku", "Double Black" ou "dupla cruel de Yokohama". Eram apenas dois caras simples, apaixonados e tentando mudar o passado (ou simplesmente esquecê-lo).
     Apesar de estranhar um pouco o comportamento deles no começo, Nakajima e Akutagawa sabiam que ambos mereciam aquilo, por isso não os julgaram ou qualquer coisa do tipo. Bem, julgamentos não teriam feito diferença, mesmo; mas o apoio ao casal era sempre bem-vindo.
     O passeio não era nada muito elaborado — um pedido de Chuuya, — e envolvia apenas caminhar por Yokohama desfrutando de como o lugar ficava bonito à noite. Também aproveitaram para experimentar comidas de algumas barraquinhas e estabelecimentos não muito lotados, porque enfrentar filas não estava no planejamento e porque todos sabiam como o ruivo ficava quando estava irritado.
     A parte mais "divertida" da noite seria o passeio na Cosmo Clock 21, a roda-gigante de mais de 110 metros de altura. Com suas 60 gôndolas e a possibilidade de uma vista mais que maravilhosa, era sempre um atrativo para os turistas de dentro e fora do país, mas hoje não recebia muita atenção do público, um ponto positivo.
     O ex-mafioso praticamente exigiu que fossem em duas gôndolas separadas, e fez questão de comentar o caminho inteiro sobre como seus "pupilos" ficariam presos e sozinhos por 15 minutos, o que os dava liberdade para fazerem o que quisessem. Talvez ele estivesse mais preocupado com o relacionamento alheio do que com o seu, apenas talvez.
     A fila não estava grande, mas ter que ser atendido depois de uma dúzia de pessoas era, certamente, suficiente para irritar o homem mais baixo ali. Enquanto esperavam, se engajaram numa conversa aleatória envolvendo os Ratos na Casa dos Mortos e Fyodor. Todos ali concordavam que havia tudo sido muito "simples e fácil" e que havia terminado rápido demais, o que só podia significar que havia um plano maior por trás daquilo. De toda forma, era um assunto que não merecia antenção no momento, por isso foi logo deixado de lado.
     Antes que pudessem evoluir para outro tópico, um grupo de mulheres um tanto alteradas e cheirando à bebida alcóolica esbarrou neles, e ao invés de um pedido de desculpas, tudo que fizeram foi despejar uma enxurrada de elogios em um alguém específico.
     Vários "nossa!" e "você é tão lindo!" podiam ser ouvidos, além de muitos agradecimentos por parte do moreno, os quais eram carregados de falsa modéstia. Já passamos da parte de comentar sobre o quanto ele poderia atuar numa peça de teatro se quisesse, e sem precisar fazer aulas e cursos de atuação algum. Que talento!
     "Você não quer vir na roda-gigante com a gente?" Uma delas propôs em meio à todo o caos de frases desconexas. "É ainda mais fácil apreciar a boa vista com um bonitão como você do nosso lado." É necessário muito esforço para descobrir que ele aceitou? Assim como no dia anterior, seu objetivo era irritar seu namorado, ele só devia ter previsto tudo melhor.
     Os outros três homens foram juntos numa gôndola, aproveitando um novo assunto muito melhor que o anterior. Ao chegar no topo, todos ficaram em silêncio para apreciar o brilho da cidade uma centena de metros abaixo deles. Era a ambientação perfeita para um encontro romântico, e foi pensando nisso que o único detetive ali no momento se atreveu a fazer uma pergunta que rondava sua mente à um certo tempo.
     "Chuuya-san?" Chamou baixinho, como se com medo de quebrar o encantamento de paz no ambiente. O ruivo a sua frente o encarou e acenou com a cabeça para que proseguisse. "Você não... erm... q-quer dizer..." Tentou procurar as palavras certas mas acabou gaguejando mais que o planejando. Olhou para o homem da Máfia ao seu lado, que apenas o encarou de volta com aqueles olhos escuros que diziam "você está passando vergonha, pare.". Ele respirou fundo antes de cuspir tudo de uma vez. "Você não sente ciúmes do Dazai-san? Não te incomoda que ele passe tempo com outras mulheres e flerte com elas?" Akutagawa acompanhou a pergunta sem dizer nada, mas também estava curioso sobre.
     Dizer que o silêncio que se sucedeu foi ensurdecedor seria um eufemismo. Atsushi pensou em retirar o que tinha dito e deixar a questão no esquecimento, porém uma risada logo cortou qualquer tensão. "O quê?!" O Nakahara tentou falar, ainda rindo.
     "Chuuya-san! É uma pergunta séria!" Reclamou. "E não ria tanto, ou vai passar mal!" O mafioso respirou fundo algumas vezes para se acalmar, limpando algumas lágrimas nos cantos dos olhos no processo. Teria sido tão engraçado assim a ponto de fazê-lo chorar?
     "Vocês realmente me perguntaram isso?" Os dois mais novos assentiram. "Claro que não! Por que eu sentiria?"
     "Bem... Vocês estão juntos, não é?" Foi a vez de Ryūnosuke indagar. "Chuuya-san gosta do Dazai-san, não é? O normal seria sentir ciúmes." Ele fez uma careta, não conseguindo entender como alguém gostaria tanto de seu antigo mentor àquele ponto, embora ele mesmo tivesse passado por uma fase de [não tão] simples obsessão para com Osamu. Mas ele tinha superado! Nem se importava mais com o moreno, ou com o atual pupilo dele! Não ligava para Dazai ou Atsushi, — a última parte é uma mentira — pode confiar!
     "Aí está, Akutagawa." Respondeu enquanto brincava com uma mecha de seu cabelo. "Gosto. E sei que ele gosta de mim, também. Por isso não faz sentido sentir ciúmes ou ficar inseguro." Ainda recebia olhares confusos. "Vocês vão entender, um dia. Eu espero que entendam, pelo menos." Continuou. "Depois de tudo que eu e aquele idiota passamos, depois de ver o que ele fez para arrumar todos os seus erros do passado, confio nele o suficiente para não me incomodar com as tentativas dele de me irritar. Não me olhem assim! É a verdade: se confio nele para me salvar quando uso a forma corrompida, não vou desconfiar de ele me largar por um bando de mulheres bêbadas e desesperadas por atenção."
     "Mas, elas se jogam nele na sua frente!"
     "Sempre foi assim. Ele tem o charme dele, afinal de contas. Vocês precisam concordar." Eles não o faziam.
     "Chuuya-san—"
     "Esqueçam isso. Aproveitem o passeio." Terminou quando a gôndola já estava próxima do chão. "Eu confio nele. Vocês não deveriam se preocupar." E, assim, o assunto se encerrou tão rápido quanto começou. Eles saíram e se afastaram enquanto esperavam o outro detetive terminar o passeio, também.
     "Chibi!" Ele correu das mulheres e se jogou no ruivo assim que teve a chance. "Sentiu minha falta?" Perguntou animado e esperançoso.
     "Só nos seus sonhos, Dazai. Eu tive os melhores quinze minutos da minha vida." Revirou os olhos. "Por que não aproveitou pra' se jogar lá de cima?"
     "Chuuya!" Vociferou em falsa ofensa. "Como você consegue ser tão mau comigo?! Ainda mais na frente das nossas crianças! Que tipo de pai você é?!"
     "Nós não somos seus filhos!" Os mais novos contrariam em uníssono. "Isso seria errado." O usuário do Rashōmon completou, se arrependendo logo em seguida.
     O detetive mais velho os importunou sobre a relação dos dois "pupilos" por alguns minutos, até que o ruivo os salvasse daquela tortura, pedindo para que continuassem o passeio de uma vez.
     "Chibi! Nós não podemos ir ainda! Nem fomos na roda-gigante juntos!" Osamu exclamou.
     "Não fomos porque você não quis."
     "Então vem!" E ele puxou o mais baixo para entrar numa gôndola consigo, furando a pequena fila e sem se importar com as reclamações dos outros clientes. Só não foram impedidos de ir no "brinquedo" porque ele pagou o dobro do que a entrada custava (usando o dinheiro do Nakahara, óbvio).
     Atsushi e Akutagawa apreveitaram mais quinze minutos de paz para conversar e comer algodão-doce — com o último reclamando que estava muito doce, mas comendo mesmo assim em respeito ao homem ao seu lado.
     Quando viram os dois mais velhos novamente, podiam jurar que suas roupas estavam amassadas e o clima entre eles estava diferente. Nada que eles quisessem comentar sobre.
     O restante da noite seguiu tão calma quanto poderia, e ninguém mais foi abordado por mulheres malucas.

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Sinceramente, será que é possível deixar o Chuuya com ciúmes?

Cinco taças de vinho e uma de vinagre - SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora