Rhaenyra Targaryen caminhou com passos firmes pelos corredores escuros e úmidos do castelo de Driftmark, ela sentia que os primeiros raios de Sol começavam a esquentar as paredes do castelo e agradeceu por isso, seu vestido não era suficiente para tolerar a noite fria e angustiante que passou. Sentindo-se cansada encostou-se em uma das paredes. O machucado em seu rosto ardeu, apesar dos remédios passados pelo meistre, ficaria uma cicatriz segundo o velho e ela estava apelando aos deuses para que tal marca fosse o suficiente para apaziguar a fera que residia dentro da rainha Hightower, mesmo que só um pouco.
As notícias que se espalhavam por Porto Real eram cada vez mais preocupantes, a tensão entre a família Targaryen só aumentava, ainda mais com o ocorrido da noite. Rhaenyra sabia que precisava agir com cautela, mas seu orgulho e teimosia a impeliam a tomar uma atitude. Ela continuou a caminhar e clamou para que não houvesse ninguém em seu caminho.
Ao chegar ao quarto de Aemond, olhou ao redor e não encontrou nenhum guarda em sua porta, ela revirou os olhos com tal constatação. Ainda sim, cautelosa, manteve-se em espera e não demorou até Alicent, Cole e Otto passarem pela porta do quarto do irmão, ela viu a antiga amiga ser arrastada pelo braço por seu pai enquanto Cole os seguia. Quando já não via ninguém deu um passo para frente, hesitando por um momento. Seria perigoso procurá-lo, mas Rhaenyra estava cansada de esperar que as coisas se resolvessem sozinhas. Com um suspiro, ela bateu à porta.
Do outro lado, Aemond estava sentado em sua cama, com os olhos fixos na paisagem de sua janela, ao longe era possível observar Vhagar repousada no monte que ficava ao lado oeste de Driftmark.
Ele não tinha conseguido dormir nem por um instante, sua mãe ofereceu descansar com ele como forma de conforto, mas o avô a interrompeu grosseiramente. Aemond sentiu como se estivesse em uma espécie de limbo, lutando para manter a mente ocupada e não pensar nas consequências que o esperavam. Não achava que conseguiria descansar. Ele sobressaltou ao ouvir o som da porta, mas sentiu um alívio por pensar ser sua mãe.
Ele abriu a porta e viu Rhaenyra parada diante dele, com os cabelos platinados caindo sobre os ombros e a típica expressão "sagrada". Por um instante, Aemond ficou sem saber o que dizer, mas a familiaridade entre os dois rapidamente tomou conta da situação.
— O que você quer, Rhaenyra? — perguntou ele, sua voz fria e implacável.
— Eu preciso conversar com você — , respondeu Rhaenyra, olhando para ele com firmeza. — As coisas estão ficando cada vez mais complicadas, e eu acho que precisamos nos unir — , ele notou um pequeno tique no olho esquerdo da irmã, — Pelo menos por enquanto.
Aemond franziu a cenho, mas algo no olhar dela o convenceu a ouvir o que ela tinha a dizer. Ele abriu caminho para que entrasse no quarto. Rhaenyra passou por Aemond com passos decididos. Ela sabia que precisava conversar com ele, mesmo que isso significasse lidar com sua personalidade explosiva e teimosa.
O quarto em que estavam era amplo e bem iluminado. Grandes janelas de vidro permitiam a entrada de luz do amanhecer e proporcionavam uma vista panorâmica do monte onde Vhagar descansava. A mobília era de madeira escura, com poltronas confortáveis e uma grande mesa de centro de mármore branco. A lareira acesa no canto da sala dava um clima aconchegante ao ambiente, Rhaenyra agradeceu internamente e sentiu seus músculos relaxando suavemente.
Rhaenyra sentou-se em uma poltrona disposta, sua coluna ereta e observou o grande dragão empoleirado. Aemond manteve seu olhar fixo em seu machucado enquanto sentava em uma poltrona oposta, mantendo uma distância respeitosa entre eles. Ela foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Eu queria conversar com você —, ela disse, sem perder a compostura. — Acho que é importante que nós dois tenhamos uma conversa honesta e aberta.
Aemond soltou uma risada sarcástica. — Honestidade e abertura, vindas de você? Isso é novidade.
Rhaenyra franziu o cenho, sentindo a ironia em suas palavras. — Eu entendo que você está irritado comigo, mas eu não posso voltar atrás no que já foi feito. Eu vim aqui para tentar corrigir as coisas entre nós.
Aemond ergueu as sobrancelhas. — Oh, você quer conversar agora? — Aemond levantou-se e cruzou os braços, observando-a com cautela. — E o que você acha que pode fazer para corrigir isso? Você não pode simplesmente fazer meu olho brotar novamente, Rhaenyra.
Rhaenyra respirou fundo, tentando manter a calma. — Eu sei disso. Eu só quero que você entenda que eu não fiz o que fiz para prejudicar você ou nossa família e sei que o que Luke fez não foi de propósito.
Aemond riu — Isso não importa mais, importa? — questionou levantando a sobrancelha. Sentou-se novamente na poltrona. Rhaenyra se questionou como aquele pequeno corpo possuía tanto fogo de dragão. O sangue é espesso, ela pensou.
— Eu quero que possamos trabalhar juntos para garantir o futuro da nossa família e dos Sete Reinos. Se nós dois estamos lutando pelo mesmo objetivo, não há razão para estarmos em guerra um com o outro — Rhaenyra explicou, mantendo a voz calma e controlada. — Se não agirmos agora, temo que caminharemos por um caminho sem volta.
Aemond ficou em silêncio por um momento, considerando as palavras dela. — E o que você sugere que façamos?
— Podemos trabalhar juntos, compartilhando informações e ideias, para proteger a nossa família e os Sete Reinos.
Aemond a avalia por longos minutos, ele mantém-se cético em relação às intenções de Rhaenyra, mas não pode negar que a proposta tem mérito. Ele reconhece que trabalhar ao lado de Rhaenyra seria mais eficiente para ambos os lados. Com a perspectiva de uma aliança, Aemond concorda.
— Podemos tentar. Mas não espere que eu confie em você imediatamente. — Aemond desviou o olho bom para Vhagar, ele sentia como se ela fosse sumir a qualquer momento.
— Eu entendo. — Rhaenyra não conseguiu evitar que seus olhos caíssem no corte no rosto de Aemond. Ela respondeu com um sorriso fraco. — Eu não espero que confie em mim de imediato, mas podemos começar a construir essa confiança. Podemos trocar cartas, mantendo-nos informados sobre os acontecimentos em Porto Real e no resto dos Sete Reinos. — Aemond acenou com a cabeça, concordando.
Rhaenyra suspirou e levantou de sua poltrona e aproximou-se do irmão — Estarei ansiosa para ouvir suas notícias, Aemond. — ele não a respondeu e ela apenas sorriu e virou-se para ir embora.
Aemond observou Rhaenyra se afastar, seus pensamentos tumultuados enquanto processava a conversa que acabara de ocorrer. Ele sabia que não seria fácil confiar nela novamente, especialmente depois de tudo o que aconteceu, mas reconhecia a importância de agir em conjunto para proteger a família e os Sete Reinos.
Enquanto refletia, uma mistura de raiva e ressentimento ainda ardia em seu coração, mas Aemond também sentia uma pontada de esperança surgindo dentro de si. Talvez, apenas talvez, Rhaenyra pudesse ter mudado genuinamente. Ele tinha visto um brilho de determinação em seus olhos e uma sinceridade em suas palavras que o fez reconsiderar suas impressões anteriores.
Aemond suspirou e dirigiu seu olhar para Vhagar. Aquele dragão representava o legado e a força de sua família. Ela lembrava a Aemond das histórias que ouvia quando criança, dos heróis e conquistadores Targaryen que governaram os Sete Reinos. Agora, esse legado estava em perigo.
Decidido a dar uma chance a Rhaenyra, Aemond se levantou e caminhou em direção à janela, observando a paisagem lá fora. Ele sentiu o calor do sol matinal tocar seu rosto e fechou os olhos por um momento.
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Dragões de Tinta
RomanceCom o acontecimento de Driftmark, Rhaenyra decide que precisa se resolver com os verdes antes que a situação piore e a guerra ecloda, seu irmão, Aemond, está feliz em ajudar.