CAPÍTULO 3: Futuro que se esconde nas asas dos dragões

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Aemond acordou com os gritos da mãe que ressoava pelas paredes, ele podia ouvir ao fundo a voz estremecida de Aegon. Ele esfregou o olho bom com a palma da mão e soltou um suspiro cansado. Aemond não tinha uma relação amigável com Aegon, visto que o mesmo sempre encontrava prazer em suas brincadeiras traiçoeiras.

Aemond balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos do caos que ocorria no quarto ao lado. Ele não queria se envolver nos problemas alheios. Levantou-se da cama e caminhou até a janela, observando o sol que já começava a iluminar o horizonte. Após a conversa com a meia-irmã sua mãe retornou ao seu quarto e organizou seus pertences. Naquela mesma manhã voltaram a Porto Real. Era um novo dia e fazia dois meses que zarparam de Driftmark e ele ainda não tinha entrado em contato com Rhaenyra desde então.

Ele não era ingênuo o suficiente para acreditar que a conversa com Rhaenyra resolveria todos os problemas entre eles. Aemond sabia que o ressentimento e a desconfiança ainda estariam presentes, mesmo que eles compartilhassem o sangue do dragão ele não queria dar o primeiro passo, sentia-se como um traidor ao compactuar com o inimigo. Após o incidente rumores sobre a sanidade da rainha circulavam pelo reino, pelos corredores ele podia escutar os cochichos quando ela passava, ele percebeu também que a mão da mãe encontrava-se sempre machucada e com sangue fresco ao redor das unhas, além de sua personalidade estar mais irritadiça e explosiva - mas tais características eram sempre destinada a Aegon. Há três dias eles receberam a notícia que Daeron estava com fluxo sangrento e agora sua mãe sempre parecia a um passo de desabar.

Com um suspiro resignado, Aemond decidiu enfrentar o novo dia de cabeça erguida. Ele se vestiu rapidamente, jogando seu típico manto negro sobre os ombros e ajeitando sua aparência diante do espelho. Ele era um príncipe Targaryen, mesmo que seus olhos revelassem sua imperfeição aos olhos do mundo.

Desceu as escadas e seguiu pelo corredor até a sala de jantar, onde o café da manhã estava sendo preparado. Ao entrar na sala, encontrou sua mãe conversando com Larrys Strong, Aegon estava cabisbaixo ao lado de sua mãe e Helaena brincava distraidamente com um boneco de dragão. Alicent sorriu ao vê-lo e acenou para que se juntasse à mesa, o lorde Strong se afastou.

Sentou-se à mesa, cumprimentando sua mãe e o lorde com um aceno de cabeça. O clima na sala era tenso, mas Aemond se esforçou para manter uma postura calma e serena. Ele notou a ausência do rei Viserys.

Enquanto saboreava seu café da manhã, os olhares se cruzaram entre os membros da família, carregados de sentimentos não expressos. Aemond sentia a necessidade de quebrar o silêncio e iniciar uma conversa, mas a presença de Viserys em sua mente era um lembrete constante de que as coisas não estavam completamente bem.

— Onde está o nosso pai? — Aemond perguntou, tentando soar casual, mas a preocupação estava evidente em sua voz.

Alicent suspirou, desviando o olhar por um momento antes de responder. — Seu pai está doente, Aemond. Ele está de cama e não se sente bem o suficiente para se juntar a nós no café da manhã.

Aemond franziu o cenho, ele sabia que a situação era grave, mas não podia deixar de estranhar a situação. Optou por manter sua expressão neutra e continuar com a conversa.

— Espero que ele se recupere em breve —, disse Aemond, tentando soar genuíno.

Alicent assentiu com tristeza. — Sim, é verdade. Seu pai é um líder forte e sua ausência é sentida por todos nós.

— Você está certa, mãe —, disse Aemond.

Quando ele estava quase se acostumando com o silêncio, Aegon, que já se encontrava bêbado, o rompeu com o baque de suas mãos na grande mesa. — Ouvi algo essa manhã —, todos os olhares se fixaram nele, — Aparentemente nossa irmã e nosso amável tio finalmente se casaram.

Aemond não pode deixar de se surpreender, ele sabia que Laenor tinha morrido a um pouco mais de um mês e sabia que muitos especulavam sobre suicídio, mas com tal informação ele desconfiava que tinha dedo dos recém-casados nisso.

— Imagino a tristeza de Laena, seu corpo mal esfriou e já repartiram suas heranças, Aemond ficou com seu dragão e Rhaenyra pescou seu marido —, Aegon gargalhou da própria piada, sua mãe deu-lhe um tapa em seu ombro, mas ele apenas encolheu seus ombros.

— Esse assunto é algo sério Aegon! — replicou sua mãe.

— A rainha tem razão. — disse Larrys disse — Agora ela tem Daemon ao seu lado, ele tem conhecimento de guerra e apoio do povo comum, isso apenas a fortalece.

— A casa Velaryon. — sua mãe chamou a atenção do Strong. — Diante dessa patética situação, ainda permanecem ao lado dela?

— É isso que seu pai está analisando neste momento, Vossa Graça.

Ele viu sua mãe relaxar na cadeira, mas percebeu a mesma cutucar os seus dedos já machucados. Aemond nunca viu sua mãe com a mão sem ferimentos, apesar dela nunca ter trabalhado pesado na vida. Ao fundo ele escuta sua irmã murmurar.

— Na dança das sombras, onde o coração esconde seus segredos, os laços de amor são mais fortes que laços de interesse. Galhos secos podem queimar com mais fervor, mas consomem tudo que vêm pela frente.

A rainha tenciona novamente, ela tenta chamar a atenção de Helaena tocando sua mão, mas a mesma se afasta abruptamente.

— Árvores vivas! Nas entrelinhas da floresta, onde segredos se entrelaçam, as árvores vivas fornecem sombra e descanso.

A tensão na sala aumentou à medida que todos os olhares se voltaram para Helaena. Aemond observou sua irmã com um misto de preocupação e curiosidade. As palavras enigmáticas que escaparam dos lábios de Helaena eram típicas dela, a jovem sempre foi conhecida por sua excentricidade, mas naquele momento, suas palavras pareciam carregar um significado oculto, como se fossem um presságio do que estava por vir. Alicent também pareceu intrigada pelas palavras da filha, mas decidiu não aprofundar no assunto naquele momento. Em vez disso, ela dirigiu sua atenção de volta a Aemond.

— Sir Lorent Marbrand estava lhe procurando, Aemond —, disse ela com um sorriso forçado. — Talvez seja para lhe ajudar com o treino de espadas que havia comentado, já que Cole não está durante esses dias. — Aemond abriu a boca para responder, contudo sua irmã o interrompeu.

— Na dança das sombras, onde o coração esconde seus segredos, os laços de amor são mais fortes que laços de interesse. Galhos secos podem queimar com mais fervor, mas consomem tudo que vêm pela frente, enquanto nas entrelinhas da floresta, onde segredos se entrelaçam, as árvores vivas fornecem sombra e descanso.

Aegon explodiu em risos mais uma vez, embora seu riso soasse nervoso agora. — O que diabos isso significa, Helaena? Você enlouqueceu como a rainha?

Sua mãe lançou um olhar severo para Aegon, silenciando-o momentaneamente e tentou novamente acalmá-la. — Helaena, querida, não é hora para esses jogos enigmáticos —, Alicent disse com um tom de preocupação em sua voz, Helaena pareceu ignorar a advertência de sua mãe e continuou a repetir, seus olhos fixos em um ponto distante.

Aemond percebeu que a menção aos rumores que se espalhavam pelo reino acerca da possível loucura da rainha Alicent não era um assunto que deveria ser tratado levianamente, especialmente em sua presença, mas decidiu ignorar, uma vez que todos não pareciam bem devido às circunstâncias da irmã.

O café da manhã prosseguiu com conversas tensas e incertas e Aemond não podia deixar de se perguntar sobre a relação de Rhaenyra com Daemon e como isso afetaria o equilíbrio de poder na família. Enquanto a conversa continuava, Aemond também pensou nas palavras de Helaena. Elas pareciam mais do que apenas um devaneio de uma mente perturbada. Talvez sua irmã estivesse tentando transmitir uma mensagem cifrada, algo que ele precisava entender. Ele decidiu se aproximar dela quando a oportunidade surgisse.

Naquela tarde Sir Lorent Marbrand entregou a ele uma longa pena negra e várias folhas de papéis perfumados, presentes de sua irmã Rhaenyra. Ele os guardou no fundo de seu baú.

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