Um rugido ressoou pelas paredes do quarto, enquanto os primeiros raios de sol pareciam mais tímidos do que o habitual, filtrando-se lentamente através das nuvens cinzentas que pairavam sobre os telhados do castelo, lançando uma luz pálida e fria sobre o ambiente, o que fazia a ferida quase cicatrizada, local onde ficava seu olho direito, ardesse.
O ar estava impregnado com uma sensação de iminência, como se o próprio clima estivesse em conluio com os temores de Lígia, na qual já duravam duas semanas, sobre a chegada iminente do inverno.
No silêncio da manhã, os passos de Lígia e das demais criadas ecoavam pelo corredor, sua voz firme e assertiva quebrando o silêncio com suas palavras de advertência sobre a estação que se aproximava. Era como se cada sílaba fosse carregada com o peso das preocupações, e Aemond podia sentir a tensão em sua voz, mesmo antes de vê-la.
Quando o príncipe finalmente a encontrou, ela parecia mais tensa do que nunca, os vincos de preocupação marcando sua testa enquanto ela mantinha seu olhar fixo nas mantas que dobrava. Ele não podia culpá-la por sua preocupação; afinal, o inverno anterior havia sido brutal, levando consigo a vida de inúmeros plebeus que não estavam preparados para enfrentar suas garras geladas.
- Lígia, como está hoje? - perguntou, desejando dissipar a atmosfera carregada que os envolvia. Ela virou-se, os vincos em sua testa revelando o peso de suas preocupações.
- Preocupada, Alteza. Mais do que nunca. O inverno está se aproximando rapidamente e me preocupo com as pessoas fora do castelo. Ele concordou em silêncio, compartilhando seu sentimento sombrio.
- O inverno passado foi cruel. Este chegou mais cedo que o calculado. Espero que possamos nos preparar melhor desta vez.
Enquanto conversavam o estrondo distante de Dreamfire reverberava pelas paredes novamente, uma nota discordante na tranquilidade da manhã. A dragão parecia agitada nos últimos dias, negando-se a ir ao fosso e relegando-se a um canto sombrio nos fundos do castelo, enquanto se recusava a comer. Sua inquietação era palpável, como se ela própria pudesse sentir a chegada iminente do inverno e as mudanças que ela traria, todavia Aegon achava que era o mau agouro do casamento que a tinha deixado desse modo.
- Parece que até mesmo os dragões estão inquietos - comentou, observando a reação de Lígia.
Ela assentiu, seus olhos fixos em um ponto distante. - Sim, e os rugidos de Dreamfire estão assustando as criadas nos quartos. Elas mal conseguem dormir à noite com tanto barulho.
- Ela está mais agitado do que o normal - observou, lembrando-se das últimas vezes em que estivera perto da dragão. - Você acha que algo está incomodando-a?
Lígia franziu o cenho, pensativa. - Não sei, Alteza. Mas algo definitivamente parece estar tirando sua paz. Talvez ela também esteja sentindo a aproximação do inverno.
Enquanto ponderavam sobre suas palavras, um murmúrio distante chamou a atenção, viraram-se para encontrar Helaena bordando, sua expressão distante enquanto murmurava palavras desconexas para si mesma.
- Helaena parece mais perdida do que nunca - Aemond comentou, preocupado com o estado da irmã. Lígia concordou, seus olhos fixos em Helaena.
- Precisamos manter um olhar atento sobre ela. Parece estar se afastando cada vez mais da realidade.
Enquanto isso, Aegon continuava sua rotina noturna de ausência, retornando ao castelo apenas quando as sombras da noite envolviam a terra. Sua presença era sempre acompanhada pelo cheiro enjoativo de mel e pela imundice das ruas, um lembrete constante de suas aventuras além dos muros do castelo.
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Dragões de Tinta
RomanceCom o acontecimento de Driftmark, Rhaenyra decide que precisa se resolver com os verdes antes que a situação piore e a guerra ecloda, seu irmão, Aemond, está feliz em ajudar.