Capitulo quatro- Muito muito tempo depois.

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-Um tempo depois, Primavera de algum ano, Yokohama.

Era a primeira vez após quase sete anos que Nakahara Chuuya voltava para Yokohama, depois de todo aquele ocorrido nunca mais pisou os pés naquele lugar e também sua vida se tornou algo que nunca imaginou; Hoje em dia trabalha no ramo de joalherias e vende pedras preciosas para grandes empresas e artesões do mundo todo, após sua tia vir a falecer e acabar por continuar com o investimento já que a mesma não havia tido filhos. Já seu pai...bem, era complicado pois nos três primeiros meses até se falavam mas depois nunca mais teve contato, e pra ser sincero? Chuuya preferia até assim já que ainda nutria um pequeno ódio pelo mesmo. Nunca em todos esses anos deixou de se esquecer de suas memórias pelas ruas, galerias e becos do porto aonde vivia com Osamu, sentia saudades do garoto mas será que ele ainda se lembrava? Será que estava casado? Ou será que ainda estava vivo? O ruivo nunca chegou a pesquisar nada sobre Dazai e nem nada do tipo. Mas também, o que esperar de uma paixonite na adolescência? Nem sequer tiverem algo e nem confessou seus sentimentos ao garoto, nem devia se lembrar dele de qualquer jeito. 

Saía do grande aeroporto da cidade rumo a sua estadia que era um grande hotel no centro da cidade tão movimentada, mas, escolheu seu quarto justamente na frente da ruazinha aonde tinha pequenos bares, restaurantes e botecos que sempre eram bem visitados. Um amigo que vivia na cidade que acabou conhecendo nas férias em Londres pediu para que se encontrassem mas no meio do tempo tiveram que cancelar já que a esposa do amigo havia acabado de dar a luz, então, como Chuuya não queria perder a viagem, acabou por apenas ficar três dias para matar a saudade e visitar algumas pessoas que mantinha contato como sua ex-governanta e alguns funcionários que ainda trabalhavam na mansão. 

Já eram quase uma da manhã quando o rapaz resolveu andar nas ruas do local de hospedagem, escutava pessoas comemorando e conversando, sentia falta daquele barulho havia de confessar. Se arrumou rapidamente apenas colocando um casaco por cima do colete, e claro, não deixando o chapéu de fora. Descia pelo elevador do hotel e por algum grande motivo, estava feliz, talvez precisava daquele ar de nostalgia da cidade para melhorar; Após passar da saída do hotel e ver duas senhoras conversando não pode deixar de escutar a conversa:

''Você viu? Aquele garoto toca tão bem, soube que estava de passagem por aqui, lembro-me de ter ouvido ele tocar na Suíça uma vez.''

Um pianista famoso? Chuuya nunca foi muito de ouvir música clássica, bom, a não ser naquelas ocasiões em que o amigo o fazia escutar, mas no fundo, gostava e não podia negar. Começava a caminhar pela rua iluminada por postes, pequenos neons e painéis de led chamativos, podia notar pessoas de toda parte do mundo animadas e apaixonadas, gostava tanto como cada pessoa havia seu mundo particular. A noite estrelada deixava tudo melhor juntamente com a brisa anoitecida do verão, era sem duvidas a melhor parte do ano e era extremamente apaixonado.

Mas, seus pensamentos foram subitamente cortados ao escutar aplausos e uma multidão sentada até mesmo no meio da rua, o que estava acontecendo? Por ser baixinho, conseguia se infiltrar rapidamente na multidão, escutando agora com clareza as teclas do piano dedilhando uma música já conhecida, era ''Clair de lune'' disso tinha certeza, será que seria o pianista que estavam todos falando?Porém, apenas deu de ombros e desistiu de tentar ver de perto, apenas se sentando em um dos bancos do outro lado da rua que estava tão cheia. Mas, foi ai que não somente as memorias como a saudade invadiu o peito do garoto, todo aquele sentimento misturado com uma tristeza inabalável o fez abaixar o rosto e chorar nem se for um pouquinho.

Odiava demonstrar sentimentos e sempre se fazia alguém forte, mas com aquela música tocando apenas sentia falta de seu eu com 15 anos de idade, sentia falta de Dazai e também de todos aquelas borboletas no estomago. Notou que a música havia parado sem ao menos terminar o repertorio e as pessoas estavam balbuciando algo que não conseguia decifrar, mas, entendeu assim que levantou seu rosto e seu olhar foi de encontro ao pianista, que, agora estava nítido quem era. Os fios marrom escuro sobre o rosto, o sobretudo bege e aquele olhar...Parecia que havia voltado no tempo ou até mesmo que estava em um sonho, não queria acordar se esse fosse o caso.

Os olhares se cruzaram e Chuuya podia jurar que o tempo parou ali, não sentia a presença de ninguém além do rapaz que hoje em dia já teria seus 22 anos também, seria ele o tal pianista então? Queria se levantar mas não sentia as pernas, estava paralisado e com receio de que na verdade tudo aquilo não passava de uma miragem, será que estava ficando insano ou bebeu demais em seu quarto do hotel? Não sabia responder mas por um impulso do corpo se levantou, tentando manter a calma já que haviam pessoas ali encarando os dois homens, estavam até pensando que iria sair uma briga. Até que notou que o homem se levantou do piano, agradecendo quem talvez seria o dono do lugar e dando tchau as pessoas que se encontravam ali para ouvi-lo tocar, e assim, andando em sua direção e parando na frente do garoto que ainda o encarava, incrédulo, como o destino era uma coisa louca.

-Você continua brega, sabia?.- E naquela hora, Chuuya amaldiçoou Dazai com todas as pragas do mundo, realmente, não havia mudado nem depois de sete anos.-Você manteve o que disse, conseguiu me ouvir tocar depois de um tempo.

O sorriso que se fez presente em seus lábios fez com que o mais alto se assustasse, nunca havia visto Chuuya daquela forma, na verdade, ninguém nunca o viu assim. Mas, desta vez, era hora de fazer Osamu se surpreender. Ali, naquele momento, Nakahara começou a escutar que naquele bar em frente aos dois tocava ''Everybody Loves Somebody'', o que fez o mesmo ter uma ídeia que queria a muito tempo fazer.

Deixou o chapéu encima do banco que estava sentado, esticando sua mão para a do homem a sua frente, sorrindo ladino.

-Aceita uma dança, senhor Osamu?

Jurava aos céus que nunca, jamais viu os olhos de Dazai tão brilhantes como agora, finalmente estava com ele ali, na sua frente.

-E tenho como recusar, senhor Nakahara?

Um choque interno percorreu o corpo inteirinho do ruivo após as mãos se tocarem depois de tanto, mas tanto tempo afastados. Mas, curioso era que seu corpo parecia nunca ter se esquecido de como era dançar na companhia do mais alto, toda a harmonia, toda a energia parecia a mesma de quando eram dois adolescentes dançando nas docas do porto vazio. Não conseguia nem se quisesse tirar os olhos do mesmo, o contato das duas íris era tão magnético quanto dois imãs.A mão de Dazai que antes estava em sua cintura subiu indo de encontro ao seu queixo, acariciando a pontinha e já sabendo do que aconteceria logo depois, e não seria como da outra vez, não iria negar nem fugir, ia aceitar de uma vez por todas o que gostaria de fazer durante todo esse tempo. Osamu se curvou de forma mínima e aproximou os lábios dos de Nakahara, causando um atrito macio ao se encontrarem e entrarem em sincronia com o beijo, Chuuya podia sentir o coração querer sair rasgando o peito, e também, as borboletas que a tempos não sentia.Acabaram por parar a dança, e então, finalizarem o ósculo pela maldita falta de ar, colando as testas.

-Eu...-O mais alto foi o primeiro a se pronunciar.-Eu sinto muito por não ter lhe dito nada do que sentia por você, eu nunca lhe esqueci muito menos joguei fora todas nossas memórias juntas, eu..

-Dazai, está tudo bem.-Chuuya soltava um risinho de canto, acariciando o rosto do amado.-Estamos juntos agora e somente isso importa, não é?

E assim, ambos continuaram a dançar por toda a madrugada mas, ao nascer do sol resolveram ir andando até o cais do porto que fez parte da história deles, e naquele lugar, que se separaram e puderam finalmente dizer as três palavras.

''Eu te amo''

Do you remember me? ( soukoku )Onde histórias criam vida. Descubra agora