4° Capítulo

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A minha boca tinha um intenso sabor a sal. A minha cara queimava com o sol escaldante. Abri os olhos dolorosamente e, assustada, só vi água à minha frente. Felizmente tinha o colete salva vidas vestido. O acidente...
Toquei com as pernas em algo. Virei-me. Jake? Tinha os olhos fechados e o seu corpo flutuava sob a água quase morna. O cabelo castanho dele ficava de um tom mais escuro estando molhado.
-Jake? Jake?-gritei desesperada. Do nada, formou-se um sorriso nos seus lábios, seguido de uma forte gargalhada. Mas o que é que...?
-Não vivias sem mim!-riu-se
-Como podes? Como podes gozar quando estamos perdidos no meio do oceano sem absolutamente nada à nossa volta? Só... água!- disse chapinhando
-Tem calma, não há nada que que possamos fazer. Não podemos desesperar! Pelo menos aproveito as minhas últimas horas de vida flutuando sob o imenso oceano azul- disse calmamente.
Como podia ele estar tão calmo? Na verdade ele tinha razão. Não podíamos fazer nada. Apenas deixar que a corrente do mar nos levasse. Jake tirou uma fivela do meu colete salva vidas vermelho, tal como o seu, de modo a ficarmos presos um ao outro através das fivelas dos coletes. Olhei-o com um ar intrigado.
-O que é? Eu quero dormir e tu não vais sobreviver sem mim e eu sei que queres estar chegadinha a mim e...
-Cala-te!-interrompi- Dorme lá.- ele obedeceu, fechou os olhos e adormeceu. Eu tinha os olhos tão pesados que decidi fazer o mesmo.
Acordei com uma mão cheia de água na cara. Como eu tinha a boca aberta, entrou-me água salgada pela garganta e pelo nariz. Tossi freneticamente numa tentativa vaga de expulsar a água do meu organismo. Abri os olhos e vi Jake rindo-se como um tonto. Eu estava com tanta vontade de lhe pregar um estalo na cara!
-Porquê que me fizeste isso?-tossi novamente
-Tem piada. E estavas a ficar com a cara vermelha, não queria que te queimasses, querida Theresa.- disse num tom brincalhão.
-Desculpas! E já te disse para não me chamares Theresa! Nem querida!- atirei.
-Mas irei chamar-te Theresa sempre que não fores querida.- porquê que ele gosta tanto de me picar? Que raiva!
Olhei em minha volta: água, água, água e... bem, Jake. Porquê ele? De tantas pessoas, porque é que tinha de ser logo ele? Mas se calhar se não fosse ele eu não estaria viva. Deveria agradecer-lhe. Não, espera. Eu não tenho garantias de que vou sobreviver. Mas tenho de acreditar.
-Tenho sede- queixei-me.
-Não te chegou a água que bebeste? Tens mais à disposição!-disse ele rindo.
-Ah-ah-ah que engraçadinho!- disse sarcástica.
-Pois sou. Olha, tenho fome, Theresa.
-Tessa!- reclamei- que horas serão?- perguntei ignorando-o.
-Umas 21h? O sol está quase a pôr-se.- virámo-nos em direção ao sol e assistimos ao pôr do sol. Juntos. Mas este momento estava todo errado: eu deveria estar na areia da praia, com o meu biquíni vermelho (que está na minha mala, sabe-se lá onde) e com um rapaz especial e querido. Não Jake.

#Sarah a narrar#
Eram 21h! Tinham passado exatamente 12 horas de espera. Ao início, todos pensámos que o helicóptero deles se teria enganado na ilha ou estivesse a vir mais devagar. Mas, naquele momento, com toda a turma concentrada na receção do hotel, todos rezávamos silenciosamente para que todos chegassem bem. Do silêncio perturbador, toca o telemóvel da professora. Ela, que sempre fora uma pessoa bem disposta e positiva, no fim da chamada, esse lado da professora desaparecera.
-Perderam qualquer contato com o rádio do helicóptero. Não têm nenhuma localização possível onde possam estar pois aquele era o helicóptero mais antigo que a companhia tinha. E ainda por cima com o rádio estragado! Isto vai levar a uma grave pena!- comentou- Talvez eles...
-Não!-interrompi-a- por favor professora, não diga isso. Eles estão bem- a voz falhou-me. Comecei a chorar, assim como Chloe. Chorámos toda a noite.

# Jake a narrar#
Era de manhã e foi a minha bexiga que me acordou. Assim como no dia anterior, não precisei de baixar as calças, apenas urinei. Assim como Tessa deve ter feito pois durante o dia senti por vezes correntes quentes.
Eu tinha muita fome. E sede também não faltava.
Pus a cabeça debaixo de água e pensei em sacudir a cabeça de modo a molhar Tess. Isso iria fazer com que ela acordasse e chatear-se, e eu gosto de a chatear. Então foi o que fiz. Abanei a cabeça e ela começou a mandar vir
-Qual é a tua?
-Acordar-te!-ela mandou-me água e eu mandei-lhe também. E assim começou uma guerra. Até que ela parou e subitamente baixou a cabeça e colocou as mãos na cara. O quê? Que mudança de humor foi esta? O que devo fazer? Ah pois, ok. Comecei por colocar os braços à sua volta e...
-Buuuu- ela gritou e eu assustei-me impulsionando automaticamente o meu corpo para trás.

#Tessa a narrar#
Ele olhava por cima do meu ombro, assustado. Traumatizei-o assim tanto? Quando me voltei para olhar na direção que ele olhava, deparei - me ao longe com uma ilha com palmeiras altas rodeadas de uma extensa camada de areia. Meu Deus! Conseguimos! Espera! Não eram 118 ilhas? Oh não! Que seja esta, por favor!

The Island - A ilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora