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Like if you hold me without hurting me,
you'll be the first who ever did.




| Woodsboro

Talvez isso tenha sido uma péssima ideia. Tara Carpenter se amaldiçoou silenciosamente na parte de trás do carro do Chad. Ela havia deixado Liv e Mindy convencê-la a acompanhar seus amigos em uma festa, as que adolescentes costumavam dar quando os pais viajavam. Típico de criança que cresceu engaiolada.

Tara sempre deixou bem claro aos seus amigos que mantinha em pé a tradição de voltar cedo para casa, em todas as festas que a morena milagrosamente comparecia, o horário continuava demarcado. Não por respeito e sim, por obrigação. Não sabia o que Christina, sua mãe, seria capaz de fazer caso a filha chegasse tarde demais ao seu ver. Tara podia sentir arrepios ao imaginar chegar na hora não desejada e encontrar sua mãe a esperando, provavelmente alcoolizada com os vinhos mais vagabundos da cidade. Ela ficava agressiva quando ingeria bebida alcoólica e descontava as suas frustrações na morena de franja.

Afinal, o que uma adolescente de 17 anos poderia fazer contra uma mulher de idade e que tem total influência em Woodsboro. Tara não tinha para onde ir ou com quem contar, não mais desde que sua irmã, Samantha, à deixou aos treze anos.

Tara carregava a marca do dia em que sua irmã decidiu sair da cidade e deixar a caçula nas mãos da mãe alcoólatra. Inclusive, uma adolescente viciada em entorpecentes e uma mãe solo viciada em bebidas alcoólicas não era uma boa combinação, não mesmo. Tara cansou de presenciar discussões entre as duas, verbal e muita das vezes, física. A garota tinha apenas oito anos quando viu a sua família desmoronar. Não é muito para uma criança?

Tara, mesmo com a pouca idade e tão pouco tamanho, sempre se envolvia nas brigas violentas das duas mulheres com quem dividia a casa. Todas as noites, durante anos... Até que um dia, Tara pagou pela inconsequência de duas mulheres que deveriam zelar e cuidar da criança mais nova. Sam com o efeito dos analgésicos correndo pelas veias grossas e Christina com o álcool rodando em sua cabeça, começaram a discutir, mais uma vez.

A Carpenter mais nova teve que intervir, e prontamente se pós na frente da irmã mais velha quando sua mãe apareceu com uma faca afiada e extremante pontuda. Foi assim que ela ganhou uma cicatriz visualmente feia e dolorosa na sua pequena mão. Que a atravessou e lhe deu cinco meses de atestado médico, cinco meses tendo que lidar com sua mãe alcoólatra. O quão cruel a vida pode ser com uma criança? Era o questionamento que rondava a cabeça da Tara enquanto jogava as suas Barbies para o lado. Não tinha vontade de brincar. Ela não entendia o porquê de não ter uma vida igual a dos seus amigos.

Uma criança não deveria se martirizar tanto com pensamentos notoriamente pesados, não é?


— Chegamos, Tar. Você acha que pode caminhar até a porta sozinha? Sabe, bebemos muito. — Chad proferiu para ela do banco do motorista, alterado, obviamente. Não que tenha sido a primeira vez.

— Sabe que eu não bebo, Chad. Obrigado pela carona, vejo vocês amanhã no colégio. — Ela se despediu com um sorriso amarelo no rosto, Mindy abriu a porta e deu espaço para a mais baixa passar.

Tara caminhou em passos lentos até a porta de sua casa, a residência não era muito grande como a dos seus amigos. Mas Tara não se importava com o tamanho porque, o único lugar que ela realmente gostava, era do seu quarto. Podia trancar a porta, colocar o seu fone preto de fio e ler um livro em paz. Sem mãe, sem problemas, sem confusão mental.

Era uma boa tática.

— Mãe? — Tara chamou por Christina assim que adentrou a casa silenciosa, ela não gostava desse silêncio. Sabia muito bem que o cantar dos grilos e a escuridão da sala indicavam problema.

cinnamon girl | tamberOnde histórias criam vida. Descubra agora