Prólogo - De volta a Toca

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Eu não estava falando com Alya Malfoy. Recebi uma coruja em minha janela na primeira manhã de férias, Aly escreveu uma única frase:

"Nós estamos bem?"

-A.

Eu posso ter aberto a Câmara Secreta dominada pela lembrança de Lorde Voldemort, mas Aly me encurralou, enfeitiçou e me humilhou na frente de metade da escola, posso não ser uma Sonserina, mas tenho o mínimo de orgulho. Também entendo o motivo que a levou a fazer isso, ela não era mais uma garota má da Sonserina, pelo menos não pra mim, mas todo mundo achava que sim, o fato de não demonstrar estava dando as pessoas certas liberdades, como se fosse uma fraqueza e isso ela não toleraria. Eu entendo, mas não queria ser racional, queria sentir raiva.

A realidade, é que eu ansiava por conversar com ela, estava me sentindo desamparada, minha família tentava, mas eles não sabiam o que fazer, ninguém tinha sido possuído antes, mamãe não tinha referências, eu só acenava concordando com tudo que diziam, esperando que meu sorriso fraco fosse suficiente para afastar as perguntas e os olhares preocupados.

Eu tinha muitos pesadelos, todas as noites, achei que sair de Hogwarts aliviaria minha mente, mas não, eu acordava ofegante todos os dias, me perguntando o que eu tinha feito agora, do que eu não me lembraria dessa vez. Acabei cedendo ao desejo de escrever para Aly, que se dane também, ela foi a única que se aproximou de mim o ano inteiro, foi me procurar na Câmara Secreta, eu devia a ela uma resposta, pelo menos... Então, uma semana depois, reuni coragem e respondi:

"Estamos. Qual a chance de nos encontrarmos nessas férias?"

A resposta chegou no mesmo dia:

"Inexistente. Como você está? De verdade, não ouse mentir pra mim Weasley, conte em detalhes."

Eu adorava o quanto ela era direta nas cartas, não deixando espaço para que eu me esquivasse de responder, então eu respondia:

"Eu estou constantemente assustada, Aly, tenho pesadelos todas as noites, não confio na minha memória, fico sempre esperando que algo que eu fiz e não me lembro surja do nada, meus pais não sabem o que fazer, eu fico distribuindo sorrisos falsos esperando que todos achem que estou bem para que eu possa ficar no meu quarto sozinha, não sei o que fazer para melhorar e todo mundo fica me olhando com pena. 

Mas me conte como estão suas férias, em detalhes (risos)".

-G.

"Depois de tudo que você passou sozinha esse ano G, acho que você poderia se permitir compartilhar seus sentimentos com sua família, pelo menos tente, se não der certo, você sempre pode me enviar cartas mais extensas. Minhas férias estão boas, passo muito tempo na biblioteca, papai mandou fazer um anexo no meu quarto, então agora tenho meus livros favoritos mais perto de mim, ou seja, estou como você, me mantendo sozinha no meu quarto. Me conte se tentar conversar com alguém da sua família, em detalhes."

-A.

"Eu definitivamente consigo imaginar você sozinha em uma mansão na sua biblioteca privada, lendo e tomando chá. Já eu, passo olhando para o teto e tentando discernir quais são as minhas lembranças e quais são do Tom Riddle, bem menos excitante. Tentei falar com o Ron, por Merlin, que ideia idiota, ele tem o emocional de uma pedra, então fui falar com a mamãe, e foi bom, eu acho. Pelo menos ela parou de me olhar com pena, mas acredito que nunca mais vou ficar sozinha na vida (risos), vamos ir ao Beco Diagonal na semana que vem, comprar algumas roupas (as minhas estão pequenas) e ela disse que podemos até ir na sorveteria do sr. Florean, seria bom ter sua companhia. Se puder ir, envio mais detalhes."

-G.

Seguimos nos correspondendo, Aly sempre muito reservada sobre seus dias, mas me encorajava a compartilhar. Acho que ela sabia que era disso que eu precisava, não nos vimos no Beco Diagonal, nem em nenhum momento durante nossas férias, o que não comprometeu em nada sua presença e nossa proximidade. Suas palavras estavam sempre ao alcance de um bater de asas de nossas corujas.

Alya Malfoy e o Servo de VoldemortOnde histórias criam vida. Descubra agora