Capítulo 5

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Varang sorriu em meio ao escuro da cabana, ao perceber que estava envolta nos braços fortes de Quaritch. Ele a tinha segurado daquela forma e acabaram adormecendo naquela posição. Olhando pela janela e pela altura do sol, deduzia que estava mais do que na hora de se levantar.

Com certa dificuldade, ela procurou se mexer o menos possível para não acordá-lo, e então se desvencilhou dele, ficando de pé. Seu marido apenas se remexeu e se virou para o outro lado, reajeitando sua posição, ainda com olhos fechados e orelhas se mexendo de forma instintiva e alerta. Apesar de certa pressa, Varang admitia que observá-lo daquela maneira era no mínimo curioso e intrigante.

Ela então se agachou perto dele, observando suas características físicas mais uma vez. Podia notar o movimento repentino das orelhas aqui e ali, e como as narinas se expandiam na sua respiração, suas mãos tinham dedos grossos, o que a fez imaginar o poder e força de seus socos. Tinha um pescoço musculoso e firme. Ele era estranho de certa forma, com o corpo de um homem da floresta, mas com dedos do povo do céu. Os olhos também eram pequenos demais, ainda assim, Varang tinha que admitir que ele tinha um rosto bonito.

No meio de sua inspeção, avistou o desenho em seu braço, uma espécie de criatura voadora demarcarda ali para sempre, assim como as marcas dos Metkayina, mas certamente tinha um significado diferente do que as expressões corporais dos Na'vi.

Ela se sentiu tentada em tocar a figura e ainda mais tentada em perguntar o que significava, mas estava certa de que levaria uma resposta esquiva outra vez. Tinha que ter paciência, mas um dos seus desejos em relação a Miles certamente era que ele confiasse nela e contasse sobre seu passado. Varang tinhw consciência de que não seria uma tarefa rápida ou fácil.

Sua frustração em relação a ele o fez se levantar de vez, se preparando para o dia. Se afastou e escolheu os adornos que usaria. Brincos com penas vermelhas gigantes, um colar de pedras vulcânicas roxas e as tradicionais faixas em volta de seu tronco, vermelhas dessa vez.

-Eu o verei mais tarde, meu querido... - ela se despediu em uma voz baixa, deixando-o ainda adormecido.

Varang retornou à sua cabana para a primeira refeição, onde encontrou Miles já acordado, tendo um pouco de dificuldade em escolher o que usar como adorno.

-Não esqueça de um suporte pra faca, é essencial - ela passou o adorno por sobre o pescoço dele, ajeitando-o sobre seu peito, deixando seus dedos tocarem em sua pele levemente, o que fez Quaritch estremecer.

-Estou bem assim? - ele estendeu os braços, procurando a aprovação dela.

-Está ótimo, como sempre - ela elogiou abertamente - venha, vamos comer.

Ela o convidou, puxando-o pelos pulsos, o que o fez segui-la. Sentaram-se da mesma forma com que já estavam acostumados e compartilharam da comida juntos. Saboreando a carne de caça, um pensamento veio à mente dele.

-Seria bom eu sair pra caçar, não acha? - ele sugeriu - eu tenho um ikran, o que pode ser de grande ajuda e vantajoso.

-Claro, mas como é parte do povo das cinzas agora, vai fazer as coisas do nosso modo - Varang explicou, enquanto tomava uma espécie de chá.

-Modos esses que eu preciso aprender - ele coçou o pescoço, um tanto desconfortável - mas não esquenta princesa, eu tenho uma noção de como funciona, vi os caçadores subindo e descendo as montanhas, eu posso fazer isso.

-Sabe atirar uma flecha? Sabe manusear uma lança? - Varang questionou, se inclinando para mais perto dele.

-Não, mas eu posso aprender - Miles deu se ombros, o que fez Varang rir.

Dessa vez, ele não demonstrou a irritação rosnando, mas franzindo o cenho.

-Sua força de vontade é no mínimo graciosa - ela comentou rindo mais um pouco.

-Posso ser tudo, menos gracioso, boneca - ele cerrou os dentes para ela.

Varang apenas riu de novo, chegando até a virar a cabeça, de maneira desafiadora. Ela então se aproximou mais dele, passando um dedo por seu braço, bem em cima da tatuagem.

-Deixe-me perguntar, Miles - ela disse de forma misteriosa, olhando direto nos olhos dele - por que te irrita tanto eu rir de você?

-Porque me faz pensar que estou sendo apenas seu objeto de humilhação, como se duvidasse das minhas capacidades - ele cruzou os braços completamente sério.

-Ah não, você se engana - ela fez questão de ficar de pé, segurando o queixo dele, o fazendo olhar para cima - eu confio totalmente nas suas capacidades pode ser tão bom como qualquer outro Na'vi, é só que a maneira como reage às coisas me diverte.

-Ah é isso? Ficaria tranquila se eu me divertisse com o seu jeito de reagir a mim? - ele se desvencilhou do toque dela, também ficando de pé.

-Eu já fico - afirmou Varang sem dúvida - como o jeito humano que me chama às vezes, não faz sentido me chamar de princesa, já que seria considerada uma rainha dentro dos termos que você usa, e bebê, eu certamente não sou uma criança, mas há um certo encantamento no jeito que me chama assim, me sentir encantada por você me faz sorrir, isso não deveria ser bom, Miles?

-Colocando nesses termos, me sinto melhor - ele ponderou, resolvendo ceder ã esposa - tecnicamente, acabou de me chamar de encantador.

-Porque você é - ela afirmou, satisfeita.

-Deixe-me mostrar um pouco mais do meu charme - ele se levantou de uma vez, usando um dos movimentos típicos dela.

Tirou-a do chão sem dificuldade e a pós em seu colo, deixando Varang paralisada e quieta por um tempo. Quaritch avançou e depositou um beijo profundo nos lábios dela. Depois, decidiu deitá-la de volta ao leito deles.

-Apenas relaxe - ele recomendou.

Uma de suas mãos repousou na clávicula de Varang, seu dedo indicador tocando levemente o pescoço dela. Deixou sua mão deslizar pelo meio do torso dela lentamente, até parar sobre seu ventre e apertá-lo levemente. Varang segurou sua mão, guiando-a para que repetisse o movimento. Ele assim fez mais algumas vezes, até que ela se inclinasse pra cima, segurando o rosto de Miles e o beijando outra vez. Certamente, a convivência com ele provava o quanto era de fato encantador.

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