Capítulo 4

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Após um merecido banho e descanso na companhia de seu consorte, Varang tinha consciência de que o tempo de retornar à vila tinha chegado, e pensando nisso, certo receio invadiu seu coração. Não queria deixar aquele lugar, ficar ali com Miles tinha sido bom, melhor do que ela poderia imaginar, até. Ainda assim, suas responsabilidades falaram mais alto e ela se encaminhou para a volta. 

-Temos que voltar - ela anunciou ao marido - já passamos tempo demais aqui.

-Eu achei que como Olo'eyktan você tinha esse direito - ele apontou, mal humorado, pensando em ficar mais tempo ali, assim como ela.

-Eu tenho, mas eu também sou a líder deles, tenho que assumir minha posição - ela afirmou com a cabeça erguida, um tanto arrogante - liderar é mais difícil do que imagina, Miles.

-Eu sei do que tá falando - ele suspirou, de repente um tanto nostálgico ao lembrar da sua equipe tática.

-Na verdade, eu não sei, se refere ao seu tempo guerreiro do povo do céu, não? - ela se aproximou dele com passos diligentes, repousando uma mão sobre seu peito.

-É isso - ele segurou o pulso dela, decidindo se a puxava para mais perto ou a afastava, dependendo de para onde Varang levaria a conversa.

-Por que não me conta mais sobre isso? - ela tentou uma resposta direta dele.

-Agora não, Varang, quem sabe uma outra hora, mas agora não - o coronel foi categórico, tirando a mão dela de seu peito, o que deixou a esposa magoada.

Mas Varang logo tratou de disfarçar, com mais um de seus sorrisos despretensiosos, misteriosos. 

-Está bem, vamos indo, consorte, a vila nos aguarda - ela o apressou a segui-la e ele o fez de bom grado, mas sem mãos dadas na caminhada dessa vez.

Cumprimentos respeitosos e silenciosos foram dados a Varang conforme ela abria caminho no meio da vila, enquanto olhares curiosos e até mesmo temerosos ainda observavam o recombinante com desconfiança.

Entrar na cabana que pertencia a Varang tirou o incômodo de Quaritch por ter sido julgado, dando lugar à sensação de alívio e conforto. O lugar tinha mais estrutura do que uma caverna e além disso, comida esperava por eles. Sem muita cerimônia, Miles desabou no chão sentando-se de pernas cruzadas em frente à cesta com frutas e carne, atacando por completo os alimentos oferecidos ali.

Varang acabou rindo mais baixo, se aproximando dele, suas mãos envolvendo os ombros do marido, que ainda mastigava como uma verdadeira fera faminta, que era basicamente o que ele era naquele momento.

-Eu sinto muito por deixá-lo faminto por tanto tempo - ela fez questão de se desculpar - mas deixe um pouco para mim, não é porque não pareço estar com fome que quer dizer que eu não queira comer um pouco.

-Me desculpe - Quaritch finalmente disse alguma coisa, com a boca ainda cheia de comida, sentindo-se como um menino pego numa travessura.

-Eu compreendo, Miles - Varang beijou sua bochecha antes de se sentar na frente dele e comer também, muito mais comedida que ele.

-Então esses são seus aposentos? - ele queria ter certeza, depois de terminar suas últimas mastigadas, sentindo-se satisfeito.

-Não são mais apenas meus, sãos seus também - Varang explicou - além disso, eu tenho mais algumas surpresas para você.

-Suas surpresas foram boas até agora - ele sorriu completamente satisfeito para ela, o que a deixou mais contente.

-Eu mandei que preparassem roupas e armas para você, fique à vontade para desfrutar delas quando quiser, estão na sua parte da cabana - ela contou - acredito que o consorte mereça um lugar reservado e particular para ficar à vontade quando quiser.

-Você me trata de um jeito que eu nunca fui tratado na vida... - o coronel balançou a cabeça - eu realmente me sinto um consorte, obrigado por isso, esposa.

-Eu já disse que é um prazer te servir - ela se aproximou mais dele - no entanto, me pergunto sobre a vida a que se refere.

-Varang, a vida que eu deixei pra trás, que eu tinha, realmente importa agora? - ele desviou do assunto outra vez - no meu ponto de vista, o que importa dela é o que eu conheço do povo do céu, não é? Vamos se ater a isso, porque como eu disse, eu estou adorando a vida que eu estou tendo agora, e adorando você.

-Me adorando? - o elogio pegou Varang de surpresa, fazendo com que corasse e suas orelhas ficassem perfeitamente em pé - o que é que adora em mim?

Ela voltou a exibir a expressão convencida, chegando a cruzar os braços, disposta a investigar a fundo os pensamentos dele. Estava claro que Miles não estava disposto a se abrir, no entanto o interesse dele no momento era claramente Varang, e usando isso como vantagem para conhecê-lo mais e ao menos saber um pouco dos pensamentos do marido, ela esperou para ouvir o que ele diria sobre ela.

-O jeito como parece ter tudo sob seu controle - Quaritch confessou sua opinião - como sorri sem preocupação, como é mandona, o jeito elegante com que anda, é feroz e gracioso ao mesmo tempo, isso me fascina...

-Parece que escolhi o homem certo para ser meu consorte - Varang declarou satisfeita, olhando diretamente nos olhos dele.

Foi a vez de Quaritch sentir algo profundo ao ouvir o comentário dela. Sentir-se lisonjeado pela mulher que ele tinha acabado de descrever pensar isso dele. Durante o silêncio reflexivo dele, Varang tocou o rosto dele com delicadeza.

-Talvez seja isso que eu sou, nem Na'vi, nem do povo do céu, mas o homem escolhido por Varang - ele comentou, olhando nos olhos dela, lembrando-se da conversa que tiveram mais cedo.

-Está de bom tamanho para mim - ela decidiu, fechando os olhos, suspirando, então olhou para o marido de novo - você queria desfrutar dos seus aposentos, não queria?

-Sim, ainda quero - ele afirmou, assentindo.

Ela se afastou de uma vez, como costumava fazer, então se aconchegou à esteira. Varang apenas lhe transmitiu um olhar que foi compreendido rapidamente. Miles se juntou a ela, deitando-se ao seu lado, absorto nos olhos cor de fogo dela, em infinitos tons de laranja.

Ainda em silêncio, ela segurou uma das mãos dele sem aviso, massageando seus longos dedos, se demorando no dedo mínimo, impressionada com o fato de ele ter cinco dedos ao invés de quatro.

-Estranho demais pra você, bebê? - ele comentou, apreciando os gestos dela.

-Sim, confesso que sim - Varang respondeu, reflexiva - mas não menos interessante.

-Isso não me torna menos perfeito pra você, não é? - ele quis saber a opinião dela.

-Você não é perfeito, Miles - ela disse de uma vez, soltando a mão dele - não existe tal coisa, todos foram criados com um propósito, e devem servi-los. 

-Acha que meu propósito é estar aqui com você? - ele perguntou numa voz baixa.

-Eu tenho certeza que é, embora Eywa tenha nos abandonado, pode ser que no fim das contas, ela esteja criando outra história para nós, uma que comece com você bem aqui - Varang compartilhou o que acreditava.

-Eu não sei no que acreditar, sinceramente, mas sei que você é bem real - Miles se aproximou ainda mais, repousando sua testa sobre a dela, uma mão segurando sua cintura.

Não havendo muito mais espaço entre eles, Varang o eliminou de vez com um beijo apaixonado, puxando o marido para mais perto dela pelo seu pescoço. 

Por mais respostas que ele quisesse dele, numa coisa ele tinha razão, era bom estarem os dois juntos ali e deveriam aproveitar isso ao máximo.

Melhor que o EsperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora