Capítulo 8

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Depois de suas reflexões culposas, Quaritch sentiu um líquido amargo tocar seus lábios e passar por sua garganta. A partir de então, não sentiu mais nada, apenas mergulhando em sono profundo.

Varang dispensou os curandeiros e ficou com o marido, em vigília, esperando que ele acordasse, até sentir o cansaço da espera no próprio corpo. Ele então abriu os olhos lentamente, vendo-a ao lado dele. Percebendo que Miles estava desperto, ela se levantou num impulso de uma vez, observando cada aspecto dele.

-Varang... - Miles murmurou e a esposa colocou uma mão firme em seu peito.

-Não se levante nem faça esforço - ela ordenou com a voz cansada.

-Está bem - ele concordou - só me faça um favor em troca.

-Do que precisa? - ela estava disposta a fazer o que fosse necessário.

-Não quero que derrame suas lágrimas por mim - ele pediu categoricamente, ainda sentindo o corpo fraco.

-O que? Não, esse é um pedido que eu não poderia aceitar - ela explicou de imediato, um tanto indignada com a atitude - por que me pediria tal coisa?

-Eu vi o que minhas ações provocaram em você - ele declarou - eu sou um homem que não merece lágrimas sinceras de ninguém, se me conhecesse não choraria por mim.

-Eu conheço quem você é pra mim - ela segurou uma das mãos dele - e eu sei que meu coração ficaria partido se você morresse.

-Pelo bem ou pelo mal, eu ainda estou aqui - ele disse em tom de desdém, nada disposto a reconhecer seu valor no momento.

-Quem é você, Miles Quaritch? Me conte agora - questionou Varang, disposta a ouvir a história toda.

-Aí é que está, princesa - ele suspirou - eu tive duas vidas, eu não sei se essa de agora é uma continuação dela ou uma nova vida.

-Explique - ela exigiu com toda autoridade que podia colocar em uma única palavra.

-Eu era um ser humano, um homem com a aparência do povo do céu - sentindo-se derrotado, Miles escolheu contar sua história - eu era o guerreiro líder, eu fiz tudo que me mandaram, destruí o lar dos Omatikaya, matei com todo prazer, apenas querendo conquistar o que eu acreditava ser o futuro do meu povo; eu fui morto, o antigo eu foi morto pela esposa de Toruk Makto, mas o povo do céu me trouxe de volta à vida, querem que eu o mate, era pra isso que eu vivia, mas agora eu encontrei você, encontrei seu povo e não posso negar a conexão profunda que eu tenho com você.

Aqui, o recombinante fez uma pausa e tocou o rosto da esposa, observando os olhos comovidos dela.

-Você me pergunta quem eu sou, Varang, nem eu mesmo tenho essa resposta - ele voltou a falar - nem eu mesmo esperava encontrar a vida que eu tenho com você, vivendo como um do seu povo.

-Eu entendo - ela assentiu - mas a vida que quer viver está em suas mãos agora, você decide o que quer, mas se eu posso pedir, eu imploro, me escolha, escolha o que nós temos, escolha a nós porque eu amo você.

Varang tomou uma das mãos dele e a colocou sobre seu coração latente, Quaritch pôde sentir a forte pulsação, muito parecida com a dele.

-Eu tive algo parecido com isso antes, muito tempo atrás - ele confessou, lembrando-se de Paz - mas com você é diferente, é tudo mais intenso, eu quero que as coisas sejam certas com você, Varang, eu também amo você.

Ela não hesitou em beijá-lo, completando o momento. Ambos sentiram o conforto de suas palavras e a gratidão de estarem juntos, vivos e terem um ao outro.

Varang se deitou ao lado dele, se agarrando ao seu torso, prendendo-se em seus braços. Adormeceram juntos, e a companhia um do outro fez com que Quaritch se tranquilizasse e focasse na sua recuperação.

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