Trofie Al Pesto

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A vitória de um é a derrota de outro.
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Estávamos na cozinha agora, um cômodo alto e contemporâneo que não parecia fazer parte do restante da casa.

A cozinha em estilo francês alternava entre bege e preto, um balcão no meio da cozinha, com duas luminárias acima em estilo gótico presas a duas vigas de madeira preta contrastava com as cores neutras. Logo ao lado do balcão onde Thaisa estava, havia armários embutidos na parede com duas pias em detalhes pretos, três janelas largas logo acima dos armários estavam abertas, arejando o ambiente.

Elise, uma mulher baixinha e de cabelos castanhos claros como mel, conversava baixinho com Rosa vez ou outra sobre assuntos aleatórios em italiano. A mulher cozinhava divinamente bem, Rosamaria havia me dito que ela trabalhava para si a 3 anos. Preparava sobre o fogão o seu tão elogiado por thaísa Trofie al Pesto.

- Senhorita Elise, se me permite, o que exatamente seria o jantar de hoje? - Perguntei em italiano, certamente não falo tão bem quanto Thaisa, mas consigo conversar tanto quanto ela. A mulher pareceu maravilhada com minha fala, dando atenção imediatamente a mim.

- Não fale tão formal menina, estamos entre nós. - Comentou gentilmente, me oferecendo um sorriso carinhoso. Retribui no mesmo instante, Elise devia ter por volta dos 50 anos, mas era tão juvenil que sua idade não significava nada. Mantínhamos o diálogo em italiano, já que ela não entendia português.

- Elise tem razão Carol, para que tantas formalidades? - Rosamaria ergueu-se da cadeira aonde estava com uma bandeja contendo alguns legumes cortados em fileiras exatamente iguais, jogando-os dentro de uma panela. - Você está entre amigos, espero que me considere assim também. - Disse desta vez em minha língua mãe.

- É claro Rosa.

- Carol vê essa massa aqui? - Assenti e aproximei-me mais de Elise. - O Trofie é uma massa popular da Liguria e diz a lenda que as mulheres da região costumavam ficar o dia todo sentadas em cadeiras pela costa da Riviera, torcendo pedaços de massa enquanto esperavam os maridos pescadores voltarem. E é perfeita para esta receita, vê essas voltinhas? - mostrou-me as pequenas ondulações que a massa dava nas bordas. Essencial para segurar o molho.

Elise me explicou mais sobre a receita enquanto Rosa se ocupava de mexer a panela, escutava nossa conversa Silenciosamente e vez ou outra sorria quando eu não entendia o nome de certos ingredientes.

Quando a comida já estava pronta e a mesa posta, Elise se despediu de nós dando um abraço apertado em cada uma. Ela era do norte da Itália, nasceu e morou sempre em Milão, ela era exatamente como eu achava que o povo italiano seria e não eram tão diferentes dos brasileiros. Embora mais comedidos e apaixonados pela língua deles, eram muito receptivos e gostavam de conversar.

Ela havia me dito que não há ninguém mais apaixonado pela Itália que o próprio povo italiano.

Aquela frase havia feito os olhos de Rosamaria brilharem e ela concordar com um sorriso radiante. Embora não fosse totalmente italiana, ela amava aquele país com todas as forças. Isso era nítido.

Quando nós sentamos a mesa, Rosa e Thaísa começaram a comer maravilhadas, entendi o sentimento depois de minha primeira colherada.

- Questo è divino! (Isso é divino). - comentei surpreendida.

- Agora sabe o porquê prefiro ficar aqui quando venho a Milão. - Thaísa divulgou arrancando risadas de todas.

- Oh, então não é pela minha maravilhosa presença? - Rosa exclamou com uma falsa irritação, um sorriso divertido despontando dos lábios.

Noi due - Rosattaz.Onde histórias criam vida. Descubra agora