Encantado

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Mais um dia comum por aqui, acordo, o sol da manhã está um pouco alto, entra pela janela do castelo sem muita cerimônia, cubro brevemente o rosto enquanto penso sobre como é completar 18 anos. 


Já tive que vivenciar muitos rituais, meu pai me apresentou às mulheres alguns anos atrás, e devo dizer, ficou melhor apenas com o tempo. Me senti um pouco desencorajado enquanto ainda tinha meus 16 anos, me assustava a ideia de me deitar com alguém. Meu pai me disse que era aquilo, também, um compromisso com o reino, me tornar homem. Me tornei homem naquele dia, e venho me tornando homem muitos dias ao longo desse ano. Percebo isso quando meu pai sorri para mim nos cafés da manhã, um sorriso de orgulho disfarçado entre nossas conversas.

Me levanto finalmente, meu servo está ao lado - aquiles - me veste com as roupas reais da manhã. Minha mãe tem o costume de por a mesa para que todos nós possamos comer juntos e conversar. Especialmente hoje pela manhã eu gostaria de evitar as conversas de meu aniversário e dos compromissos que terei com o reino enquanto príncipe. Minha irmã não gosta muito dessas conversas também, ela sempre me olha com certa raiva e não consigo perceber exatamente de que ela está com raiva.

Vestido e devidamente trajado eu me retiro do quarto enquanto os demais servos chegam para limpar a latrina e os resquícios da noite anterior, saio pelos corredores que levam ao átrio principal, onde recebemos os familiares, e logo estou na mesa de café, no pátio interno do castelo, mamãe já está sentada, conversa com sua ama enquanto observa a correta postura dos itens na mesa.

- Bom dia, querido! - os olhos dela me observam rapidamente, me inquirindo sobre alguma coisa, que ainda não sei de que se trata.

- Bom dia, minha mãe! - me aproximo de seu rosto e falseio um beijo, mas sei que não posso borrar a maquiagem que ela passa todas a manhãs e deixa sua pele branca. - O que temos para o desjejum hoje?

- Aguarde um pouco, meu filho, sente-se e iremos servir assim que seu pai chegar! Mas trouxemos bastante frutas do pomar e silene está terminando de pôr a mesa. Aparentemente todos resolveram atrasar um pouco essa manhã. Acredito que a noite não deve ter sido bem dormida! - ela olha para silene e tenta disfarçar a raiva que está sentindo. - Mas temos muito a conversar essa manhã, seu aniversário de 18 anos é na próxima semana, e bem sabe que terá uma festa. Chamaremos todas as boas moças dos reinos vizinhos para estar aqui!

- E do nosso próprio reino também, não é mãe!? - falei sem pensar muito enquanto devorava uma maçã. Um olhar pouco satisfeito pousou em mim, parei de comer.

- Bom dia! - meu pai aparecia subindo as escadas, pouco satisfeito. - Os  reinos da Maurísia e de Alenor tem  propostas muito boas para nosso reino, e a força de nossa tropa marítima seria duplicada com uma boa posição entre eles. Não acho que você pode pensar de forma tão rasa assim!

- Mas pai, é meu aniversário. - fico espantado com meu pai sem seu sorriso orgulhoso essa manhã, ele está sério, o que é bem comum, mas sempre sobra espaço para conversas mais amenas. - Se não convidarem todas as mulheres daqui eu não farei o baile.

Minha mãe paralisa, sentada e meu pai me olha com seriedade. 

- Rapazinho, acho que você se esqueceu de quem você é! Nós faremos o baile, você estará lá e convidaremos apenas as boas famílias! A única coisa que você fará é sorrir e receber bem os convidados! Vamos comer!

- Estou sem fome. Saio da mesa, jogando a maçã sobre os talheres. Minha irmã, que acabara de chegar, sorri enquanto saio.

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