Era uma vez

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Estamos no quarto, a luz do sol entra pelas cortinas de forma irregular, desnudo eu me levanto, observo a paisagem. Lá fora um lindo jardim onde diversas aias e jardineiros trabalham para manter a limpeza. Por um breve momento me pego pensando na construção desse lugar, em como as ideias pioneiras de meus antepassados foram se cultivando e se transformando nesse belo reino do qual disponho hoje. Meu bisavô, meu avô e agora meu pai e tão logo eu. A ideia de tomar o lugar de meu pai me irrita um pouco, ouço muito sobre os sacrifícios reais, sobre os deveres com o reino, sobre observar bons negócios e negociantes, estar atento às pessoas. É cansativo, por vezes divertido e outras nem tanto assim.

- Espero que o que esteja ocupando sua mente não o leve longe, meu príncipe! - Uma voz suave me lembra da presença no quarto, uma risada baixa me faz voltar o olhar para o jardim, agora sem tantos pensamentos.

- Não tão longe quanto eu gostaria, mas o suficiente! Mas o importante é que eu estou aqui agora!

- De fato, meu príncipe! Acho que preciso ir, está tarde, ou cedo, e logo darão falta de minha presença em outro lugar!

Me aproximo da cama, olho para aquele belo corpo disposto por baixo dos lençóis, o sorriso discreto nos lábios e o olhar curioso e atento. Pego sua mão, a beijo e passo pelo meu corpo, ela usa os dedos para me tocar e as unhas vez ou outra arranham minha pele.

- Você poderia ficar mais! - digo em sussurro, meu corpo esquenta.

- Não posso, meu príncipe! Eu gostaria de ficar mais, mas meu lugar não é aqui! Você bem sabe que a essa hora eu deveria estar em outro lugar!

- Já conversamos sobre isso! Você não precisa mais!

- Eu preciso. Se for vista, logo mais não terei qualquer reputação nesse reino, nem mesmo isso será bom para você!

- Eu pouco me importo com isso!

- Desculpe, meu príncipe!

Ela levanta-se, tirando a mão de meu corpo, recolhe suas roupas e sai do quarto, aquiles a guiaria para fora. Sinto-me bem, ainda com o corpo quente de desejo, tinha sido uma noite adorável, dormimos juntos e acho que por momentos sonhamos juntos também.

Alguns instantes após entra aquiles e inicia o direcionamento das limpezas e vestimentas junto com as aias, o café começaria a ser posto no jardim e minha mãe logo estaria de pé para tomarmos café juntos. Saí do meu quarto e me direcionei àquele lugar, as aias já tinham quase tudo pronto, me sentei e aguardei minha mãe.

- Acordou cedo hoje, meu filho! - Ela passava pelo arco que delimitava o jardim. - Achei que demoraria um pouco mais na cama essa manhã, não o ouvi chegando ontem pela noite!

- Acredito que a senhora tenha dormido cedo, minha mãe, pois não tardei a chegar. - me servi de chá e leite, enquanto notava um olhar desconfiado de minha mãe.

- Sim, deve ter sido isso mesmo, meu filho! - Ela andava ao redor da mesa, procurando algum defeito na postura dos talheres. - Que bom que acordou cedo, afinal temos visita e é bom que os aguardemos aqui, não sabemos os costumes noturnos dos nossos amigos, então é educado que os recebamos!

A mesa estava posta para oito pessoas, eu me sentava a direita da cadeira de meu pai, minha irmã, sentava-se à esquerda, logo após a cadeira de minha mãe.

- Seu pai já estava se arrumando! Espero que todos vocês estejam prontos para hoje! Impecáveis!

- Sim! Estamos sempre, mamãe!

- A família real de Alenor! - aquiles anunciou da porta, enquanto entravam o Rei Carlo, a rainha e sua filha. Eles entraram com cerimônia e se sentaram à mesa. 

Meu pai logo chegou também, acompanhado de minha irmã. Todos se sentaram. Logos as aias começaram a nos servir, havia um certo silêncio que pairava com peso no ar.

- Imagino que tenham passado uma boa noite nas acomodações do castelo! -Minha mãe quebrava o silêncio.

- Foi excelente, o castelo é tão bom quanto o da capital de Alenor, imagino que o reino esteja em festa com colheitas e economia auspiciosas. - respondera a rainha de Alenor.

- Sim, embora algumas intercorrências marítimas! - Meu pai olhou para o Rei Carlo.

- Sim, sabemos! Não só sabemos, como nossa proposta é de cooperação entre todos nós! Nada me faria mais feliz do que ajudar um reino tão proeminente!

- De fato, acredito que possamos cooperar com vocês, sempre precisamos de peixes no reino, temos um comércio grande por essas partes.

A conversa continuou por toda a manhã, eles contavam sobre o que sabiam sobre o reino um do outro, meu pai e o rei Carlo sorriam e pareciam lutar ao exibir o que era feito em seus respectivos reinos.

- Me faria muito feliz que essa potência entre nossos reinados prosseguisse! E sabemos como é importante garantir isso através das gerações futuras!

- Sim. - Meu pai se levantou. - Conversamos, eu e o Rei Carlo e achamos que o futuro está com a família e que é prudente que nossos filhos se casem!

Eu já sabia, mas minha garganta deu um nó, olhei para a princesa de Alenor, ela estava corada. Todos se levantaram aplaudindo a ideia, eu me levantei também, suspirei e sorri, afinal a noite com ela não tinha sido tão ruim assim. 


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