02. Ethan

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Sábado, 18 de janeiro.

A manhã seguinte foi desconfortável.

As roupas de Liz faziam um rastro começando na porta e atravessando todo o quarto. Todo o ambiente cheirava á três coisas: bebida, cigarro e sexo - mesmo que não tivesse havido sexo - Facilmente confundível com um prostíbulo.

Os olhos do "casal" pesaram antes de se abrir por completo. Num pulo ligeiro, César se aprontou de pé em frente a cama, vestiu a primeira camiseta que encontrou e partiu ao banheiro para higiene pessoal.

A mulher ainda recobrava os sentidos, a boca seca, o corpo fraco e a vista sensível eram alguns infelizes sintomas de uma condição muito bem conhecida: A ressaca.

Ela se sentou no meio da cama e todas as memórias da noite passada vieram num turbilhão insensível, trazendo tudo à tona de uma vez só. As bebidas, os olhos verdes, a sacada, César, o orgasmo.

Liz se perguntou se deveria tocar no assunto com César, mas afinal, o que ela diria?

"Olá, César. Como foi gozar me vendo nua ontem?"

Estúpido.

Ela não sabia o que dizer e ainda começava pensar se tudo isso estaria certo. Ela sabia sua dinâmica, sabia seus limites, limites de César, sabia como tudo ali funcionava, e ainda assim, na última noite as coisas fugiram dos trilhos.

Na melhor das hipóteses, o homem a chamaria pra conversar em algum momento. Na pior, acabou tudo ali.

"Maldito álcool." Ela pensou "Custava manter a postura, Liz? Custava?"

César por outro lado, se encarava no espelho do banheiro, um semblante explicitamente decepcionado. Decepcionado com Liz? Decepcionado consigo mesmo? Na última noite ele vacilou, ele quebrou as regras que ele mesmo havia instalado.

Antes de sair, ele respirou fundo e olhou para o relógio do celular. 08h13, sendo manhã ele teria a desculpa perfeita pra não ter que lidar com todo esse circo logo tão cedo.

- Bom dia, Liz. - Ríspido mas não grosseiro. - Eu vou sair, comprar café da manhã. Deseja algo?.

Ele disse. Ainda não havia olhado para a moça, apenas disfarçava revirando algumas gavetas à esquerda.

- Bom dia! - Ela tentava ser mais receptiva - Não quer ficar um pouco? Deita comigo ou sei lá...

- Não, Liz. Não quero que ela pense que... Sei lá, nós estamos...

- Transando? - A garota interrompeu impaciente. - Nós somos um "casal", César. - Ela dizia desenhando aspas no ar. - Qual seria o problema disso?

- Eu não quero, esse já é um bom motivo.

- Ontem não era motivo...

- Ontem foi um erro, ontem não aconteceu.

Ela bufou com um riso irônico e apenas repetiu os passos dele, se trancou no banheiro. E então quando ouviu a porta do quarto se fechando logo após ele sair, sentiu uma raiva imensurável.

Que porra César tem na cabeça? Ele quebrou a própria regra e agora quer agir como se nada tivesse acontecido? É fácil querer ignorar agora, é fácil querer fugir do problema. O problema existe e é inevitável.

Depois de longos minutos de auto martírio, ela se lembrou que abrigava o ser humano mais hiperativo do mundo em sua casa. Liz se organizou e decidiu ir ver como estava sua amiga.

Já descendo as escadas era possível ouvir o som da música vindo da sala. Ou Édra estava escutando toda trilha sonora do Disney Chanel, ou a própria Hannah Montana estava fazendo um show particular naquela casa.

PERSONA: Jogos De Dominação.Onde histórias criam vida. Descubra agora