01. Cheguei, família.

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Sexta-feira, 17 de janeiro.


Eram exatas 11 da manhã e Lis esperava ansiosamente sua amiga no aeroporto, era um milagre que Édra tivesse conseguido fazê-la levantar logo pela manhã para aguardar sua chegada. Até porquê, Grécia e Amsterdã pareciam bem mais distantes quando sua única ocupação era sentar e esperar.

O relógio corria em slow motion para Lis.

- Édra Bernnadi, eu espero que você esteja me trazendo ótimas fofocas para compensar ter que acordar 7h da manhã pra acompanhar sua ansiedade. - Ela resmungava rindo consigo mesma enquanto circulava a pequena colher em sua xícara.

Conforme o fluxo de pessoas aumentava no saguão, Lis reforçava sua atenção nos portões de desembarque.

Quando, enfim, ela apareceu.

A figura saltitante parecia até dançar entremeio as pessoas, seus itens pessoais quase se perdiam a cada pulo, a mochila nas costas balançava, e o cabelo cacheado espalhava seu cheiro doce pelo ar.

- Puta que pariu, caralho!!! - A viajante exclamava em alto e bom tom.

- Fala baixo, Édra! Tá maluca??

- Porra, como é bom xingar em português. - Numa felicidade sem noção, a garota estava a um passo de provocar uma advertência no aeroporto.

As duas se abraçaram por longos minutos e então foram em direção a esteira das malas.

- Me conta, me conta tudo. Onde tá o César em? Achei que ele viria com você me buscar.

- César ficou em casa, disse que queria preparar algo pra você almoçar hoje. Aahh, e eu esqueci de perguntar, você ainda tá com aquela pira de veganismo ou já passou a obsessão do mês?

- Primeiro, não é "pira" e nem "obsessão do mês" era pelo bem dos animaizinhos do planeta, eles mais do que ninguém, precisam de apoio por quem tá na linha de frente no combate a essa exploração sem fim. E segundo: Sim, passou. - As duas gargalharam, as obsessões de Édra eram totalmente previsíveis. Ela se apaixona por algo, aprende tudo sobre, faz tudo que está ao seu alcance e em um mês, acabou.

- Ah, se é assim sim. - Disse Lis - Eu não faço ideia do que ele está cozinhando, mas vindo de um chef de cozinha especializado em carnes, não dá pra esperar algo muito além.

- Eu entendo, mas é a comida do César, docinho, eu literalmente gosto mais das comidas dele do que dele. - Édra, dizia num tom que não dava pra afirmar se aquilo era brincadeira ou não. - Eu vou gostar até se ele refogar as pedras do seu quintal.

- Aí como você é exagerada...

- Agora sim, aí estão elas - A cacheada dizia enquanto recolhia duas enormes malas que vinham da esteira, malas que facilmente caberiam ela mesma lá dentro. - Anda, Lis, me ajuda aqui.

- Édra, mas o que é isso? Você tá se mudando pra minha casa é? Quanta roupa tem aqui dentro?

- Agora você quem tá sendo exagerada, viu? E não tem só roupa, tem mimo, acessórios, minhas coisinhas...

- Coisinhas? Que coisinhas?? - As duas agora já caminhavam em direção à saída, rumo ao estacionamento.

- As minhas ué... Nossa esse é o teu carro? Tá rica e não tá dividindo o pão? Isso é pecado...

- Rica eu não tô, mas vou ficar depois que começar a cobrar a sua estadia lá em casa.

- Aí que pecado mesmo viu, a mulher tá derramando dinheiro e ainda quer roubar dos pobres, Deus tá vendo viu!!

PERSONA: Jogos De Dominação.Onde histórias criam vida. Descubra agora