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"Você não pode negar o quanto eu tentei
Eu mudei quem eu era para colocar vocês dois em primeiro lugar
Mas, agora, eu desisto" - Song: easy on me.

- Allysson -

O dia passou no ritmo normal, e eu arrumava minhas coisas com a ajuda de Pâmela, para ir a casa da mulher que me colocou no mundo.

- preciso mesmo ir? - indaguei fazendo carinha de cachorrinho pidão para a senhora a minha frente.

- sim, vai ser só um mês - disse meu pai encostando na porta do quarto e Pâmela saiu.

- qual é? Ela nem liga pra mim, e vai querer me levar nos jantares de negócios e me obrigar a usar coisas que não gosto - reclamei.

- filha, pega leve. Ela te ama, mas do jeito dela - justificou meu pai.

Cruzei os braços e meu pai suspirou cansado, o motorista da minha mãe havia chegou pouco tempo depois. Me despedi dos dois e sai.

- boa tarde, senhorita Nieves - disse Alfredo e apenas acenei.

Meus pais são divorciados há dois anos, minha mãe é socialite. Ela e meu pai são de famílias ricas o que ajudou eles se conhecerem. Só que ao contrário do meu pai, minha mãe é super controladora.

A porta do carro se abriu e sai.

- eu posso ajudar a carregar, não vou morrer por conta disso - falei para o motorista, que com muita relutância deixou eu carregar uma mala.

Entrei na enorme casa, que parecia ser um castelo. Assim como a casa do meu pai, porém a diferença e que com meu pai me sinto confortável.

- filhinha, quanto tempo - minha mãe veio em minha direção e me abraçou.

- oi - respondi seca e ela me encarou séria - oi, mamãe - me corrigi.

- que roupas são essas? Seu pai não tem o mínimo de noção - reclamou, olhando pra mim. Eu usava uma calça wide leg, uma blusa de alças finas justa, minha jaqueta de couro, um Jordan preto.

- não vejo problemas nelas - disse me olhando.

- mas, eu vejo. Isso não é jeito de uma futura socialite ou juíza se vestir - me olhou em reprovação e revirei os olhos ajeitando a alça da capa de minha guitarra nas costas.

Ela me acompanhou até meu quarto, paredes brancas como a neve, detalhes rosa choque. As coisas eram todas rosas, ou beje. Bem sem graça e muito cheio de frufru decorativo.

- sabe que não sou uma princesinha, e que estou longe de gosta disso aqui, né? - indaguei a olhando.

- pra mim você é. Seu gosto para roupa é péssimo, então fiz algumas compras - apontou para cima da cama onde tinha umas 15 sacolas de lojas de marcas mais caras que minha vida.

Nas sacolas havia de tudo.
Vestidos, de todos os tipos dos mais provocantes até os mais formais. Sapatos de salto que só de olhar meus pés já doíam, bolsas e maquiagens.

- gostou? - perguntou minha mãe, me encarando profundamente.

- claro... - forcei um sorriso. As maquiagens e algumas bolsas dava pra salvar.

Mas, de resto eu só usava vestidos e saltos quando ia alguma festa, que é difícil e só porque Dix pede. Ou quando estou na casa de minha digníssima mãe, porque ela me obriga.

- ótimo, daqui a umas duas horas o jantar estará servido - avisou e me encarou minhas roupas outra vez.

- já sabe - falou e entendi que deveria usar algo mais "apresentável".

- ok, mamãe - disse em deboche.

Coloquei minhas coisas no closet, mudei algumas coisas de lugar, me arrumei e fui para a sala de jantar. A enorme mesa estava arrumada formalmente. Minha mãe usava um vestido, preto até os joelhos, saltos e os cabelos perfeitamente presos. Ela estava impecável.

- gostou do vestido? - indagou sorrindo satisfeita ao me ver usando uma das roupas que tinha me comprado.

- odiei - sorri sem mostrar os dentes e ela fechou a cara. Sentou em uma extremidade da mesa e eu em outra.

Parecíamos tudo, menos mãe e filha. Começamos a jantar em silêncio, até que ela resolveu o quebrar.

- soube que as dores oncológicas voltaram - falou e assenti.

- achei que seria bom estar mais perto de você. Mesmo que a imprensa não saiba sobre seu estado de saúde, é ótimo para meus negócios, que me vejam como uma boa mãe - falou simples.

- agora você lembra que, sou sua filha e que tem um câncer me corroendo. Tudo porque não quer manter um padrão perfeito? Patético - falei rude.

- eu faço de tudo por você, compro tudo que você quer. Sou uma ótima mãe. Você deveria reconhecer - bateu as mãos na mesa e se levantou.

- eu me visto pra te agradar, faço aulas de balé pra te agradar, tiro as melhores notas, não me meto em confusão para não sujar sua reputação, deixo você me expor com um prêmio, mudo meu jeito para caber no seu mundo. Pra ver ser você se orgulha de mim. Mas eu cansei de tentar ser a filha perfeita que você quer! - bati com as mãos na mesa e me levantei também.

Não dá pra negar, tenho o temperamento da minha mãe, mas nossas ideologias são completamente opostas.

- você é uma péssima mãe, egoísta pra caralho. Maldito dia que eu nasci! - gritei saindo da sala de jantar.

- Allysson, me respeita! E volte já aqui! - exigiu.

Não falei mais nada, subi para meu quarto, peguei uma bolsa coloquei meu celular, dinheiro, fones de ouvido, um maço de cigarro fechado. E desci novamente.

- vai pra onde? - perguntou minha mãe de forma áspera.

- pro inferno, Sra Nieves - gritei andando rapidamente até a porta, ouvindo ela me mandando voltar.

𝐋𝐎𝐕𝐄 𝐈𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐃𝐀𝐑𝐊 ✓ Onde histórias criam vida. Descubra agora