† 01 - A chegada

93 22 4
                                    


Lúcifer desejou morrer mais vezes do que poderia contar numa eternidade

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.




Lúcifer desejou morrer mais vezes do que poderia contar numa eternidade.

Era incapaz de dizer quanto tempo ele passou cravado de cabeça para baixo na areia da praia do inferno. Alguns minutos? Anos? Eras inteiras? Impossível dizer... mas qualquer que fosse a resposta, era indiferente.

Seu corpo inteiro sangrava e doía, cada gota de sangue fétido entope suas narinas e o enjoa, fazendo com que vomite sobre sua própria face.

Chuva...— sussurrou, sentindo as gotas congelantes tocando sua face com gentileza e violência. Parecia que pequenas agulhas o furavam sem parar, mas era bom.

Lúcifer sabia que sua aura de anjo deveria estar atraindo inúmeros predadores, mas agradeceu por ter caído num local bastante isolado, o que provavelmente afastava os sanguessugas.

Respirou profundamente e sentiu as correntes de prata partindo-se ao meio, liberando seu trono e seus pés, o que o fez cair, mas ainda estava com os punhos acorrentados. Respirou fundo e fechou os olhos, lembrando-se de como a prece daquela humana fora tão forte que foi capaz de fechar novamente as correntes de Miguel ao redor do punho livre dele.

De olhos fechados e concentrados, Lúcifer puxou os dois braços com força inúmeras vezes, sangrando sobre sua cruz até que seus ossos das mãos estivessem moídos. Assim, passou-as pelas correntes.

A dor era tanta que apenas se sentou, com as costas coladas em sua cruz, e chorou.

Chorou até lembrar-se das palavras do Pai Celestial. Palavras que diziam que ele se arrependeria no instante em que pisasse no inferno.

Maldito seja — praguejou. Engoliu o choro para não dar o braço a torcer, mas estendeu a língua para fora e lambeu as próprias lágrimas.

Lágrimas de anjo possuem princípios curativos, e pouco a pouco ele pode sentir seus ossos voltando para o lugar, consertando-se pouco a pouco. A dor foi se atenuando até desaparecer, e logo Lúcifer encontrou alguma paz.

De olhos abertos, estava nu, sujo e raivoso, sentado sobre um chão de areia preta e encostado em sua cruz invertida.

Virou-se para a cruz e pode ver o próprio reflexo. Ainda estava com a mesma aparência que assumiu quando caiu. Aparentava ser homem, a pele clara como mármore e longos fios cor de mel. Parecia-se com um anjo pintado nas catedrais.

Apertou os olhos, irado com tal aparência e desejou mudar, mas não conseguiu. Não tinha forças suficientes para tal. Socou a areia e depois a apertou entre os dedos, tentando se controlar.

Não há mais motivos — sussurrou para si mesmo. — Estou no inferno... posso me irar!

Novamente encarou o próprio reflexo na cruz, mas desta vez ergueu as asas, encontrando apenas as estruturas sólidas completamente enrugadas e sem nenhuma pena.

A Luz do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora