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Já era manhã quando Irene finalmente conseguiu despertar depois de ter tido uma das piores noites de sono da sua vida. Seu corpo estava todo dolorido e a mão já estava dormente, afinal Antônio só pegou no sono por estar segurando a mão dela. Até tentou se levantar, mas a mão que segurava a dela a puxou de volta para o colchão. Irene bufou sem paciência, afastando as cobertas e olhando a figura ao lado dela.

— Antônio. – tentando desvencilhar a mão que apertava a sua. — Larga a minha mão.

A resposta veio em forma de resmungo.

— Antônio, tá apertando demais. – tentou de novo, o aperto ficou mais forte. — Antônio você tá acordado né?

Agora a resposta veio em forma de risada.

— Você é bem infantil. – finalmente tendo a mão livre, Irene se levantou. — Você vai se atrasar.

— É. – ele se levantou, coçando a cabeça sem saber como agir. — Obrigada.

Irene deu um meio sorriso e ele se aproximou, Irene se virou e se assustou com a iniciativa que ele tomou, mas se afastou.

— Não, Antônio. – Irene jogou o chapéu na direção dele. — Não vou ser um estepe pro seu coraçãozinho quebrado.

— Mas… você é minha esposa.

— Ah jura? Se você não falasse. – Irene se aproximou da porta e a abriu. — Melhor você ir.

Antônio assentiu e saiu. Fechando a porta, ela finalmente pôde respirar com o pouco de paz e sossego que restou naquela manhã. O restante do dia passou extremamente devagar, Petra encheu a mãe de mensagens e ela sequer teve tempo de responder.

A noite caiu rapidamente e tinha alguém praticamente arrombando a sua porta. Irene abriu e se assustou com Petra, Luigi e Anely com sorrisos assustadores.

— Você tem exatos 5 minutos para se arrumar.

Decidida a não contrariar a filha, Irene se arrumou em alguns minutos e deixou que a filha a guiasse. Se arrependeu no mesmo instante quando as luzes do bar de Cândida iluminaram o carro, jogou a cabeça pra trás e choramingou.

— É sério, Petra? – encarando a filha no volante, Irene recebeu um sorriso junto com um aceno de cabeça.

— Vocês… – arranhando a garganta, Petra olhou para a mãe. — Digo, você precisa se distrair um pouco.

Irene preferiu ignorar e saiu do carro, ajeitou a bolsa e adentrou o bar. Um grito estourando o microfone fez ela sentir uma agonia no ouvido, era Kelvin quem havia gritado assim que a viu entrando. Os olhares, infelizmente, foram todos para ela. Rebatendo todos os olhares, ela se chocou ao ver o marido a olhando (também chocado).

Óbvio, Petra arquitetou tudo aquilo. Irene encarou a menina que saiu correndo até o pai, sozinha no meio de um bar lotado Irene foi pro balcão atrás de uma bebida. Da última vez que tomou gin não deu muito certo, mas dando de ombros ela pediu um drink. Em poucos minutos Antônio estava ao lado dela, bebendo um uísque.

Luigi teve a péssima ideia de pedir uma rodada de vodka para eles. Quando viraram, a maior surpresa foi Petra não ter feito nenhuma careta e beber aquilo como se fosse água. Irene estava começando a ficar zonza, a voz começando a ficar arrastada e aquele bar começou a ficar interessante.

Antônio também já estava em outro universo e Irene estava cambaleando. Irene olhou para o pole dance e aquela proposta era tentadora, se apoiando no marido e saindo do banquinho, ela cambaleava até a barra de ferro. Ignorando os olhares que recebia por ser Imperatriz do Soja, ela rodava naquela barra de ferro como quem brincava de cirandinha.

Antônio observava a esposa bater os cabelos e se esbaldar no pole dance e seu cérebro dizia para tirá-la de lá, mas seu corpo não se movia e seus olhos adoravam o que viam.

Passou a tarde remoendo o que fez na manhã, Antônio digitou inúmeras maneiras de pedir desculpas mas desistiu. Largou o celular e quando estava pronto pra ir embora, Luigi apareceu o arrastando para o bar.

Saiu de seus pensamentos quando a melodia de Sinônimos começou a tocar.

— ESSA EU SEI! – Irene gritou, correndo até o palco, Ramiro ajudou ela a subir e ela puxou o rapaz para cantar com ela. — Vai você!

Ramiro prontamente obedeceu a patroa e começou a cantar. Irene balançava o corpo de um lado pro outro, em alguns momentos cambaleava e Ramiro a segurava.

— Num aroma de amores pode haver espinhos… – Irene cantou arrastado, Ramiro teve uma crise de riso. Ela decidiu encarar Antônio na próxima estrofe. — É como ter mulheres e milhões, e ser sozinho!

Maldita.

Antônio se levantou com dificuldade e caminhou até o palco, Kelvin cedeu o terceiro microfone para o produtor rural e deixou os três livres. Irene esperava a segunda parte da música mas já estava abraçada em Ramiro e os dois moviam o corpo lentamente de um lado pro outro.

Decidido a rebater a direta que levou, Antônio aproveitou a deixa da música que se encaixava direitinho com ela.

— Quem revelará o mistério que tem a fé… – se aproximando dela, ele quase tropeçou nos fios do microfone.

— E quantos segredos traz o coração de uma mulher?! – os três cantaram juntos e foram muito bem aplaudidos.

Seguiram cantando empolgados, Irene dançava e rodopiava com Ramiro e Antônio tentava acompanhar o passo da esposa e a letra na TV.

Extrapolaram todos os limites, ficaram até cinco da manhã naquele bar e Irene perdeu os saltos e a presilha de cabelo. Saiu arrastada por Petra e quando chegou em casa, o banheiro foi sua melhor companhia. Vomitou até o que não precisava com Petra segurando seu cabelo, ainda estava meio bêbada então a filha a ajudou no banho.

Antônio não estava diferente, mas bebeu um pouco menos do que Irene, então conseguiu se firmar e a bebida já estava se esvaindo do seu corpo. Depois de um banho deitou-se na cama, a porta foi aberta por Petra carregando a própria mãe.

— Deita mãe. – desistindo de qualquer possibilidade de fazer a mãe adormecer, Petra apenas a deixou deitada e saiu do quarto.

Ótimo. Juntaram a graça e a desgraça. Irene estava agitada e ainda por cima não parava de soluçar, Antônio só queria dormir e ela não deixava.

— Fica quieta pelo amor de Deus! – ele se virou pra ela, que soltou um soluço.

— Não consigo parar.

Deu-se um tempo, a esposa continuava a soluçar. Antônio se lembrou de uma crise de soluço em que ele foi obrigado a beijá-la para poder parar. E assim faria.

— NÃO! – ela deu um salto. — Tô bêbada, mas não esqueci.

Antônio nada disse, apenas se virou e dormiu. Irene demorou alguns minutos e finalmente pegou no sono.

Era pouco mais de 16:00 da tarde quando Antônio acordou, olhou para Irene e ela dormia tão serena que ele sorriu. Ela tinha uma mão apoiada na bochecha e a outra segurava, do mesmo jeito que ela dormia enquanto estava grávida.

Antônio abriu a porta do quarto na esperança de achar a esposa acordada mas foi em vão. Irene dormia como um anjo, uma mão apoiada na bochecha e a outra mão repousava em sua barriga. Ele riu, se aproximou e deixou um beijo na testa dela e outro na barriga, o bebê deu um chute em troca.

Irene soltou um resmungo e fez uma careta de dor, reprimindo o riso. Antônio foi se trocar e se deitou com eles.

Sua mulher e o neném deles.

Abrindo a porta do quarto, Antônio esperava tudo menos a figura de Agatha olhando para ele.

empecilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora