Irene encarou pela última vez a lápide de Daniel antes de decidir ir embora, deixou as flores lá e saiu. Não queria ir pra casa, mas pelo horário disse a Antônio que voltaria a tempo do jantar que ele estava tão animado para fazer. Andou em passos lentos até o carro, encarando os túmulos e parando no de Agatha. Respirou fundo e seguiu porta a fora, encostou a cabeça no volante tentando decidir se aquilo era mesmo uma boa ideia, voltar para "casa".
Encarou a maçaneta da porta e encarou os funcionários que a olhavam com pena, odiava aqueles olhares mas não tinha forças para pedir que parassem. Rodou a maçaneta e ouviu as gargalhadas alegres vindo da sala, seu corpo não queria mas ela sabia que tinha que encarar aquilo de frente. Olhou para Angelina que também a encarava com pena, mas quando seu rosto virou abriu um sorriso encantador.
Seguiu para a sala e encontrou todos juntos, alegres. Olhou para Petra e a filha sorria radiante, Caio era o mais feliz e Graça acariciava a barriga enquanto olhava para Caio. Seu coração doeu quando viu Antônio com o sorriso mais puro no rosto.
Agatha era o centro das atenções, todos estavam encantados por ela e principalmente Antônio. Irene passou por eles e Antônio gritou pelo seu nome, resolveu ignorar e subiu as escadas. Seu corpo todo tremia e ela procurava algum lugar para desabar, se encolheu no quarto de Daniel e assim permaneceu. Agarrada a almofada com o cheiro dele, ela chorou tudo o que estava entalado desde a chegada de Agatha.
Antônio só falava com ela se fosse para resolver algo para a primeira esposa. Se sentia uma peça descartada, algo inútil. Até sua filha resolveu preferir Agatha do que ela, Irene estava cansada de toda a situação e não tinha forças para mais nada, aguentava aquilo tudo como um fantasma.
Desceu para o jantar mas ficou quieta durante toda a refeição e negou a sobremesa, Antônio segurava a mão de Agatha e seus olhos brilhavam quando ela falava qualquer coisa. O cúmulo da situação foi quando Caio insistiu para que os dois se beijassem, e ignorando totalmente a existência de Irene, assim fizeram. Levantou da mesa com as mãos trêmulas e Petra até tentou segurá-la, mas foi em vão. Subiu as escadas correndo e fez uma mala.
Não sabia mais quem ela era. Se sentia somente a Irene Pinheiro, não existia mais o La Selva. Se é que um dia ela foi uma La Selva, não tinha forças para planejar qualquer coisa contra a falecida, não tinha forças para bater de frente com Antônio. Não tinha nenhum motivo para permanecer ali, Petra estava tão bem sem ela que absolutamente nada a segurava naquela casa. Nada a segurava nessa vida.
Desceu as escadas e entregou as malas para Ramiro, pediu que colocasse no carro e depois fosse até a pousada com ela.
— Mãe. – Petra tinha os olhos marejados. — Não vai, por favor.
— Irene, não precisa desse drama todo. – Antônio a encarou sem paciência, e Agatha o repreendeu apertando seu braço.
— Definitivamente casar com você foi o maior erro da minha vida. – Irene o encarava incrédula e Antônio enfraqueceu com a fala, voltou sua atenção para Petra. — Filha, eu sempre vou estar aqui por você. Mas toda essa situação é humilhante demais.
— É pouco, perto do que você merece. – Caio a encarava e ela ignorou.
— Cala essa boca, Caio! – Petra esbravejou e Irene segurou a mão da menina. — Mãe, você sempre foi mais forte do que a situação.
— Mas agora não. – ela suspirou, acariciando os cabelos da menina.
Irene puxou a garota para os seus braços e permitiu que Petra desabasse, o choro da garota era agoniante e Irene permaneceu com ela até que conseguisse se acalmar. Decidiu subir com Petra e adiar minimamente sua saída, fez a garota adormecer com um cafuné e quando teve a certeza que estava tudo bem, deixou um beijo na testa dela e desceu.