XIII - Quatro meses depois...

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- Você não vai contar pra ele que é seu irmão?

Tristan pensou em James antes de fechar os olhos. A espreguiçadeira era pequena, mas ele estava muito bem. O sol brilhava, os pássaros cantavam e ele tinha o corpo seminu de Atlas contra si; tudo estava perfeito. E ele não tinha vontade de falar em James ou no pai dele.

- Não. - ele murmurou, pressionando o nariz contra o braço de Atlas. - Por que deveria? Tudo que temos em comum é o cara que colocou o pau em nossas mães sem camisinha.

Dedos começaram a acariciar seu cabelo. Tristan se inclinou para o toque, uma parte dele ainda surpresa por não se importar com esse gesto. Ele costumava suar frio toda vez que imaginava alguém lhe acariciando. Mas agora não dava a mínima. Além do mais, ele ainda desvendava as vantagens de estar fora dos holofotes. Ele não era mais uma estrela do futebol. E talvez nunca mais voltaria a ser. E embora Atlas continuasse dizendo que a sua recuperação completa era provável, Tristan não achava que voltaria ao campo.

Sentia sua perna melhor a cada dia, e na maioria das vezes sua lesão não era muito incômoda, mas ele não tinha mais a mesma confiança de antes. E ele duvidava que a teria outra vez; ao menos não suficiente para jogar futebol profissionalmente. E ele nem sabia se queria. Mesmo pensando em fingir ser alguém que não era e constantemente esconder o seu relacionamento com Atlas estressava Tristan. Seria quase impossível, de qualquer maneira.

Esconder um relacionamento gay no meio futebolístico não era fácil. Não ajudava o fato dele estar vivendo com Atlas. Tristan ainda não tinha muita certeza de como isso tinha acontecido. Ele nunca se mudou oficialmente, mas migrou lentamente: sua escova de dentes, seu pijama favorito, seu tablet, um de cada vez. Um dia ele percebeu que tinha um monte de coisas suas no quarto de Atlas e não voltou para sua própria casa em uma semana.

- Eu estou morando com você? - Tristan perguntou, olhando para sua marca favorita de grãos de café na cozinha de Atlas.

Atlas acabou por rir, roçou os lábios no pescoço de Tristan e disse, sua voz ainda rouca de sono:

- Hospedado por tempo indeterminado, eu diria. - Diante de sua expressão confusa, o personal acrescentou sorridente. - Bom dia!

Era nauseante, doméstico e embaraçoso. Tristan estava feliz por não ter amigos para zombar dele. Gabriel era ruim o suficiente. O idiota ria toda vez que via Tristan na casa de Atlas - o que era muito frequente, já que, ao contrário dele, Atlas tinha vários amigos e o seu irmão e o Dr Bernie estavam entre eles.

Por enquanto eles eram os únicos que sabiam oficialmente sobre sua relação. Os demais amigos e familiares seriam informados aos poucos, mas obviamente todos já suspeitavam da permanência do jovem ex-jogador na casa do personal que não parecia ter tempo para mais ninguém. E ele leu em algum lugar que sua ex assistente, Lydia, havia aceitado dar entrevista para falar sobre como foi trabalhar com uma das promessas do futebol inglês.

- Talvez James adoraria ter um irmão. - Atlas disse, devolvendo-o ao presente.

Tristan bufou.

- Ele nem gosta de mim.

- Eu não consigo imaginar o porquê. - Atlas disse sarcástico. - Você é tão legal com ele.

Tristan abriu os olhos e deu a Atlas um olhar inocente.

- Ah, agora que não tenho uma assistente pessoal, tenho que me divertir como posso.

Atlas balançou a cabeça em desaprovação, mas seus olhos eram divertidos e calorosos. Tristan reprimiu um sorriso vertiginoso. Ele odiava essa coisa que havia se tornado.

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