Five.

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Me contorci em meu lugar, ouvindo a voz de Elizabeth ecoar pela sala de aula cheia. A chuva caia forte do lado de fora, fazendo a loira aumentar o volume da sua voz, fazendo o tom autoritário parecer ainda mais autoritário.

Com os olhos fixos na figura elegante de Elizabeth, eu tentava decifrar as emoções confusas que pulsavam dentro de mim. Observando cada movimento que ela fazia com uma mistura de curiosidade e frustração. Seus olhos azuis brilhavam com um brilho intenso quando ela se expressava, prendendo meu foco a sua presença magnética. Trazendo toda a atenção para si, ela conduzia a aula com uma segurança que beirava a intimidação, sua marca registrada.

Sua voz ecoava pela sala de aula, despertando em mim um misto de coisas que eu não era capaz de decifrar. Um encontro tão breve, um contato tão raso não poderia ter tamanha influencia em mim, poderia?

Enquanto eu lutava para me concentrar nas explicações de Elizabeth, seus olhares rápidos vinham em minha direção. Eram breves, mas cheios de algo que eu não conhecia. Eu podia ver um brilho diferente, uma faísca de algo que eu não sabia como interpretar.

A forma como ela conseguia controlar a sala de aula, seus gestos enérgicos, seu autocontrole, sempre foram capazes de me fascinar.

Não tinha como negar quem era Elizabeth. E por mais que eu pudesse tentar, eu sempre voltaria a estaca zero, afinal, ela era elegante, linda e realmente boa no que fazia. A paixão em seus olhos, em seus gestos, denunciava isso. A forma como ela era capaz de passar a diante o que sabia e como seu nome tinha um prestígio totalmente compreensível. Elizabeth era, no final das contas, tudo que eu almejava. Ela tinha sucesso, uma carreira sólida, ela tinha o respeito, mesmo que acompanhado de uma dose generosa de pavor.

E desde o nosso último encontro, ela tinha os meus pensamentos também, ou pelo menos grande parte deles.

Eu não podia negar que os últimos acontecimentos entre nós praticamente moravam em minha mente. Eu sentia vontade de vê-la ao mesmo tempo que desejava estar o mais distante possível. Queria mais daquela interação, queria mais daquilo que senti, uma maré de confusão, curiosidade e... Desejo. Desejo por mais!

A imagem dela no meu apartamento, me devorando com seus olhos, era algo nítido e constante em minha mente, me deixando claramente afetada. A ansiedade de estar em sua presença me deixava desconcertada.

Por que me sentia assim? Por que queria sentir aquelas coisas de novo?

Era apenas uma mulher bonita na minha sala de estar, não era pra tanto! Uma mulher bonita, que era minha professora e claro, a única pessoa capaz de me fazer perder a fala.

E é claro que aqueles olhos resolveram me assombrar muito mais desde então.

Nossos olhos se encontraram e foi como uma explosão de coisas que nenhuma das duas parecia disposta a dizer. Um jogo de alfinetadas, poder e sarcasmo, um jogo que jogávamos desde o início, desde que aqueles olhos azuis se cravaram nos meus pela primeira vez, mas de uma forma diferente naquele momento.

- Vejo vocês na próxima aula! - Ela disse, organizando suas coisas. - Mandarei um e-mail com tudo o que foi dito referente ao trabalho e estarei disponível para responder as suas dúvidas.

Os alunos foram saindo, assim como eu também deveria ter feito, mas ao voltar meu olhar da minha bolsa para Elizabeth, vi a pilha de livros que a mesma parecia dispostas a carregar sozinha.

- Droga! - Sussurrei pra mim mesma, colocando a mochila em um dos ombros.

Tomei alguns livros para mim, esperando sentir algo vindo dela, algo além de indiferença.

- Pra onde eles vão? - Perguntei, vendo a mais velha erguer seu olhar para mim.
- Para a minha sala, por favor!

Caminhamos em silêncio, cada uma com uma pilha de livros.

Nada foi dito além das coordenadas até sua sala. Elizabeth abriu a porta com certa dificuldade, graças aos livros e me deu passagem, me deixando entrar primeiro.

- Pode colocar tudo na minha mesa! - Elizabeth disse, encostando a porta, me seguindo até sua mesa.

Deixei os livros onde ela pediu, me sentindo desconcertada no mesmo momento.

A desculpa de estar ali para ajuda-la simplesmente foi embora e eu precisava deixar sua sala, mas estar em sua presença parecia me imobilizar.

Elizabeth colou os livros em sua mesa e então largou sua bolsa em sua cadeira.

- Se eu soubesse que uma visita a sua casa faria com que chegasse no horário, teria ido há algum tempo atrás. - Ela disse após erguer seu olhar para mim, me fazendo encarar aquela imensidão azul.

- Acho melhor eu ir embora! - Foi tudo o que consegui dizer, sentindo uma pontada de irritação.

- Katherine... - Ela disse mais baixo, segurando-me pelo braço, sem deixar que eu me afastasse.

Meus olhos se fixaram em sua mão, sentindo a firmeza do seu toque, a temperatura em meu punho.

- Por que eu te deixo tão irritada? - Seu tom era baixo e nós estávamos mais próximas. - Por que não pode apenas rir de uma brincadeira que eu fiz?

Nossos olhos estavam grudados um no outro e a única coisa capaz de me fazer desviar o olhar foi a sua boca, entreaberta, convidativa.

- Elizabeth. - Eu sussurrei seu nome, voltando a olhar para os seus olhos.

Ela deu um pequeno passo a frente, fazendo meu coração bater cada hora mais rápido.

Uma única coisa passava pela minha cabeça naquele momento, eu queria que ela me beijasse. Queria sentir sua boca na minha, queria ela mais perto.

Era como o encanto de uma sereia, eu só conseguia deseja-la.

- Elizabeth? - Uma voz feminina soou do outro lado da porta e logo após, uma batida suave.

Elizabeth não desviou o olhar, não me soltou, mas depois de uma segunda batida a mesma deu um passo para trás, soltando meu punho, me fazendo sentir a falta do seu toque.

Ela sorriu um sorriso sem vontade para mim, voltando a sua postura dura e inflexível mais uma vez.

- Entre! - Ela disse, se afastando de mim.

Angie, professora do curso de química entrou na sala, me cumprimentando brevemente.

- Obrigada pela ajuda, Srta. Ballard. Nos vemos na próxima aula! - Seu tom era formal e eu apenas assenti, deixando a sala o mais rápido que podia, sentindo como se não pudesse respirar.

Deixei o corredor dos escritórios dos professores apressada.

- O que acabou de acontecer? - Perguntei a mim mesma, baixinho.

Queria que ela me beijasse. Eu quis que ela acabasse com a distância entre nós, desejei que ela tivesse me tocado muito além do que havia.

Deixei o campus desnorteada.

O tom de voz dela, a proximidade. Ela queria também, não queria?

Fechei os olhos com força, tentando não pensar tanto nisso, sabendo que era em vão, esse pensamento tomaria o lugar de todos os outros.





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