Kurdis acordou com a claridade que entrava no quarto pelas festas e furos da janela. Usou a água fria da jarra e a bacia para lavar o rosto.
Quando desceu, encontrou-se com Djista.
— Bom dia — ela disse.
Kurdis retribuiu.
— Peço desculpas pelo que meu irmão lhe disse ontem.
— Não tem problema...
— Por favor, aceite um chá e biscoitos como um pedido de desculpas da hospedaria.
Kurdis seguiu a mulher até a cozinha. Havia ali uma mesa para dois lugares. Ele se sentou e aguardou que ela servisse o chá no caneco de cerâmica crua.
Ela tem olhos bonitos.
— Você me lembra meu marido.
— Ispto é bom ou ruim?
— Acho que os dois. — ela deu um sorriso torto.
O sorriso é desigual, mas adorável. O que estou pensando? A última coisa que quero é arranjar problemas com uma mulher. Minha vida já está complicada demais!
Kurdis bebeu o chá. Estava adoçado com melado.
— Obrigado pelo chá. Eu ter sorte de encontrar pessoas quel tu e Gustapo.
— Gustapo passou por maus bocados.
— Saber o que aconteceuro?
— Ele ficou aqui. Tinha muitos ossos quebrados. A boca estava muito machucada... Perdeu muitos dentes. Ele trabalhava para os Varuingos, mas alguma coisa deu errado e ele foi espancado e atirado ao mar. Os Tannis o pescaram e cuidaram dele. Isso aconteceu há muitos anos. Eu era jovem e tola, minha mãe ainda dava conta de todo o serviço junto com meu pai.
— Por que jovem e tola?
Ela se sentou, serviu chá para si mesma, mas não bebeu. Ficou apenas olhando para dentro do caneco com um olhar triste e cansado.
— Eu acreditava que poderia escapar ao destino. Que me casaria com alguém que ia me tirar desse buraco. Agora entendo... Não se foge do seu destino.
— Mas você se casou...
Ela bebericou o chá e espremeu os lábios.
Torce a boca do mesmo jeito que a Estirga.
— Outra tolice. Caí nos encantos de uma pessoa... Eu engravidei, me forçaram o casamento. Depois a criança se foi. Fiquei presa a um marido que raramente estava aqui. Que tinha uma mulher em cada porto... Alguém que não me valorizava. Quando soube que ele não voltaria mais... Que a Senhora dos Mares me perdoe, mas fiquei contente. Estava livre. Me desculpe... Desculpe falar sobre meus problemas.
— Não se preocupe. Eu saber como é... Sentir o pesado do passado.
— Enfim! Minha mãe sempre me falou que o certo é se conformar. Que a Senhora dos Mares escreve o nosso destino nas conchas. E que temos que aceitar.
Não é a primeira nem última vez que vou ouvir alguém com discurso conformista. É... isso não é pra mim.
— Muito obrigado pelo chá e pela conversa, senhora Djista. Mas estou atrasado e sei bem que meu destino, por hoje, é ser xingado pelo Turzo.
Ela riu.
Maldito sorriso encantador...
— Eu o conheço bem. Há muitos homens com a boca suja nessa vizinhança, mas Turzo é o mais boca podre de todos! Aqui... Leve uns biscoitos para ele. Diga que seu atraso de hoje foi por minha culpa e que peço desculpas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Bruxo e a Foice Sombria
ФэнтезиKurdis Le'Daman é um bruxo cuja magia desperta de forma sombria, desencadeando uma tragédia que o obriga a ingressar na escola de magia da ordem Maihari. Em um mundo repleto de forças sombrias ele deve aprender a lidar com poderes obscuros que o cer...