Kurdis chegou à biblioteca arrastando os pés.
Que dor de cabeça! Prometo que nunca mais vou tomar tanto vinho!
Antes de subir, foi até o jardim de inverno onde havia uma fonte d'agua. Bebeu fazendo concha com a mão, lavou o rosto e molhou a nuca.
Bem melhor!
Por um instante, Kurdis parou, olhando para o vão de três andares que deixava um pouco da luz solar penetrar o local.
Eu nunca fui forte para bebida...
Um pouco antes de tudo mudar em sua vida, o incêndio que ele provocou e que trouxe Lorran para sua casa... Kurdis não tinha imaginado que perderia o contato, seu lar, seu pai... Em algum momento, ainda havia fio de esperança de revê-lo. Ainda estaria preso? Recordou-se de um jantar ocorrido poucos dias antes do incidente que mudara sua vida.
— Você não deveria deixar um rapaz dessa idade beber, Jan Mussak! — dissera Rollu, um comerciante vindo da distante Guin'uji.
Kurdis preesionou os lábios ao ver em sua mente a imagem de seu pai, recordar sua voz. Era um homem de postura ereta, nariz erguido, bigodes bem penteados. Ele fora sempre tão seguro. E de algum modo, gentil.
— Uma criança só aprende a andar, caindo, caro Rollu! Eu não era mais velho que ele quando tomei meu primeiro porre.
— Vá com calma, meu jovem. Isso aí não é suco de uva. — advertiu Rollu.
— Eu consigo beber tantas taças quanto meu pai!
Rollu e Jan Mussak riram muito daquilo. E Kurdis estava determinado a cumprir sua palavra. No dia seguinte, Kurdis acordou muito mal. Fortes dores de cabeça, enjoo terrível.
— Isso, meu filho. É o que chamam de ressaca. Sabe porque estou bem e você não?
— Não pai...
— É porque bebi duas vezes mais água do que vinho. É preciso diluir o vinho... Assim como é preciso diluir todos os males dessa vida. Acredite, você ainda os verá, em abundância. Venha, vamos beber água para diluir esse vinho que ainda está em seu sangue!
— Por que você não me disse isso ontem?
— Bem, filho. Há coisas que é preciso sentir na pele para realmente compreender. Nenhum livro de sabedoria, ou sermão, consegue suplantar a experiência direta.
O pai o conduziu até a fonte da casa e ali, disse para ele molhasse o rosto. Enquanto isso, ele próprio pegou água com as mãos e molhou a nuca do garoto.
— Assim vai molhar a minha roupa! — protestara o jovem Kurdis.
— Sim, é preciso molhar um pouco a roupa para curar uma ressaca. Assim como é preciso macular o espírito para eliminar certos problemas que ocorrem na vida. Não há ganho sem dor, e nem qualquer consequência sem causa.
— Eu não entendo, pai.
— Olhe para nossa casa. Você acha que ela sempre esteve aqui?
— Suponho que não. Um dia foi construída...
— Sim, e certamente havia plantas, árvores neste local. Talvez aqui, fosse a toca, a casa de uma família de vulpecinos. Mas tudo isso foi destruído, para que a casa pudesse ser construída. Nada de bom, vem de graça nessa vida, filho. Um bom comerciante precisa aprender isso, saber avaliar o valor das coisas. Sente dor de cabeça?
— Sim.
— Então agora, talvez, aprenderá a valorizar seu autocontrole. Ontem você se divertiu muito. Riu, embalado pela embriaguez do vinho, não é mesmo?
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O Bruxo e a Foice Sombria
FantasyKurdis Le'Daman é um bruxo cuja magia desperta de forma sombria, desencadeando uma tragédia que o obriga a ingressar na escola de magia da ordem Maihari. Em um mundo repleto de forças sombrias ele deve aprender a lidar com poderes obscuros que o cer...