Kurdis chegou na hospedaria escoltado por quarto guardas particulares da Casa Tannis. Antes de subir até seu quarto, foi falar com Djista.
— Eu vim acertar as contas. Vou partir.
Ela apertou os lábios e crispou as mãos.
— Isso foi por causa do meu irmão? Eu conversei com ele. Ele vai pedir desculpas...
— Não é isso. Eu não pude ser sincero com você antes, e também, não posso contar tudo agora. Meu passado...
— O que é?
— Meu passado é complicado. Não vou poder ficar mais, sinto muito.
— Ainda vou vê-lo? — ela indagou com os olhos aquosos.
— Eu não sei, Djista. Acho que vou ficar longe por uns tempos. Talvez nos vejamos... Talvez não.
Ao escutar aquilo, a mulher abraçou Kurdish com força. E em seguida levou seus lábios de encontro aos dele. Se beijaram.
— Vou fazer o possível...
Lágrimas escorreram pelo rosto de Djista, mas ela manteve a expressão firme.
— Bem... Adeus! E muito obrigado. Você foi muito boa para mim.
Kurdis deixou o pagamento e todo o dinheiro que tinha (não era muito) sobre a mesa e subiu até o quarto. Ali, desfez o feitiço que prendia a madeira no assoalho, retirou a foice de guerra empacotada e deixou a hospedaria.
Os guardas o levaram de volta ao barco que o levou ao escritório central da casa comercial, não muito longe da residência de Jargen Tannis.
O senhor Kravel estava no local.
— O Rainha Lucca irá partir para Jaffe em dois dias. Você irá embarcar na nau e deixar Dera.
— Ora, mas que conversa é essa? Por acaso vocês não tem honra?
— Acalme-se, você não será deportado. É apenas um movimento necessário para enganar nossos inimigos. Assim que o navio sair da cidade, irá se encontrar com outra nau. Ela o levará para a Zanzídia. É importante que você não seja visto por algum tempo em Dera, para acreditarem que você voltou para seu reino.
— Zanzídia? Mas eu detesto navegar.
— O plano já está traçado. Irá aproveitar seu tempo na Zanzídia para estudar nosso idioma. Sabe ler bem o deravo?
— Sou quase um analfabeto...
— Você terá cerca de três meses para aprender. Vamos mandar um bom professor.
— Por que isso?
— É que em três meses, o escriba tradutor do kedpirense da biblioteca real irá se aposentar. O senhor Jargen já está fazendo os movimentos para que você possa assumir esse cargo.
— Cargo de tradutor? Eu pensei que ele queria acabar com a concorrência.
— Tudo a seu tempo, meu caro. É preciso agir com muita cautela quando o assunto é esse tipo de ilegalidade. Não podemos ser descobertos, entende?
Kurdis encolheu os ombros — Suponho que sim...
Colocaram um colchão no sótão do escritório, no meio de pilhas de antigos livros contábeis e caixas com documentos. Ele dormiu ali e no dia de zarpar, sua despedida foi cuidadosamente planejada. Os seus colegas do armazém, Turzo e Gustapo estavam presentes.
O tempo estava bom, céu aberto, sem nuvens, e a brisa empurrava o mau cheiro do porto. A nau fora carregada no dia anterior, mas todos os estivadores estavam ali para vê-lo partir.
— Adeus! Agradeço pelo que fizeram por mim.
— Ora, strobo! Como já disse, você é um desgraçado sortudo! — disse Turzo.
— Finalmente você pensou direito! — disse Gustapo. — Ouvi dizer que sua relíquia foi vendida a um bom preço ao Duque de Corbal!
— Sim, com o dinheiro, vou poder voltar a Kedpir e recomeçar os negócios da minha família.
— Adeus, Kurdish! — disse Judu. — Se voltar a Dera, venha nos ver.
Barsu subiu no convés e apertou as mãos de Kurdis com firmeza. — Vou sentir sua falta! Que a Senhora dos Mares o leve em paz!
— Entregue essa carta para Djista.
— O que é isso, hã? Um pedido de casamento?
— Não se meta na vida dos outros, Barsu! — Nimbvo gritou lá de baixo. — Faça uma boa viagem, Kurdish!
— Obrigado! Fiquem bem! Fiquem todos bem!
Tule acenou — Adeus, Kurdish!
— Vamos de uma vez, seus mexilhões-fedorentos-e-lerdos! Ao trabalho! Ninguém aqui está recebendo para ficar papeando com um strobo-escroto-e-ingrato que montou na grana e nem pagou uma rodada de bebida aos colegas de trabalho. Strobo-sovina-filho-duma-strucha-cocha!
Kurdis deu uma gargalhada e percebeu que ia sentir falta daquele bando. — Adeus! Até a vista! — acenou vigorosamente para os estivadores que iam ficando distantes no píer.
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O Bruxo e a Foice Sombria
FantasyKurdis Le'Daman é um bruxo cuja magia desperta de forma sombria, desencadeando uma tragédia que o obriga a ingressar na escola de magia da ordem Maihari. Em um mundo repleto de forças sombrias ele deve aprender a lidar com poderes obscuros que o cer...