Era manhã outra vez.
Mas não era uma manhã de inverno qualquer — o sol brilhava, espalhando sua luz dourada pelos jardins e aquecendo o ar frio. Eu estava tão empolgada que, quando Marta chegou com meu café da manhã, já estava pronta, descendo as escadas com pressa.Ao sair, encontrei Dicon. Ele trazia várias mudas de plantas nas mãos, e aquilo fez meu coração bater mais rápido.
— Bom dia, Dicon! Isso é o que eu tô pensando?
— Bom dia! Se você está pensando que são brotos, é sim.— Então vamos logo pro jardim!
Corremos juntos e, assim que chegamos, começamos a plantar os pequenos brotos no solo frio e úmido. Eu estava radiante.
— Esse aqui foi o primeiro brotinho que eu achei. Está crescendo rápido.
— É uma Imperatriz da Índia. Quando floresce, tem ramos maravilhosos.Fiquei encantada.
— Que incrível! Vamos plantar algumas mudas ao redor dela, pra serem suas aias.
— O que são aias?
— São damas de companhia das nobres indianas.Dicon sorriu.
— Você tinha uma aia?
— Tinha duas.— Então você é uma imperatriz da Índia... a imperatriz do jardim.
— Gostei disso. E você pode ser o imperador.— O que imperadores indianos fazem?
— Eles só ficam acenando de cima de seus elefantes.Rimos. Dicon então subiu numa árvore e começou a acenar como um nobre indiano que minha mãe costumava descrever. Eu, lá embaixo, fiz uma reverência e acenei de volta. Foi uma manhã tão agradável que nem percebemos o tempo passar. Já era tarde, mas eu não estava com fome — Dicon havia trazido amoras e morangos da horta de seu pai.
Enquanto eu comia, ele apontou para meu rosto.
— Mary, está sujo aqui.
— Aonde? — perguntei, tentando limpar.
— Aqui. — ele disse, passando o dedo de leve pelo canto da minha boca.Nos encaramos por um instante. Havia algo no ar, e só nos demos conta de onde estávamos quando sentimos gotas geladas tocarem nossos rostos — era a chuva.
Corremos, de mãos dadas, rindo feito crianças. No meio do caminho, nos despedimos rapidamente. Entrei no castelo ofegante e... dei de cara com senhorita Medlock.
— Meu Deus, garota, está toda molhada!
— Foi a chuva, senhorita Medlock.
— Você está parecendo um moleque! Olhe essas unhas sujas de terra e esse cabelo todo despenteado! Vá se limpar agora!
— Claro, senhorita Medlock.
— Essa menina... não tem limites... — murmurou ela, enquanto se afastava.Corri para o meu quarto. Enquanto me trocava, percebi — eu estava usando o casaco de Dicon! Devíamos ter trocado na correria da chuva. Minha única opção era ficar com ele ou passar frio. Preferi o casaco.
Depois de me limpar, decidi me esgueirar pelo castelo até o quarto de Colin.
— Colin, está acordado?
— Estou, Mary.— Hoje foi um dia tão legal...
— Me conte. Como é lá fora?Abaixei a voz.
— Tenho um segredo, mas não pode contar a ninguém.
— Não contarei.Então contei tudo: o jardim, os brotos, Dicon, a chuva, e como tínhamos nos proclamado imperador e imperatriz do jardim.
Mas Colin, de repente, ficou sério.
— Não.
— O quê?
— Não podem ser imperador e imperatriz.
— Por quê, Colin?
— Porque imperadores e imperatrizes... se casam, se beijam... e têm filhos.Corei na mesma hora, só de imaginar essas coisas com Dicon. Disfarcei, tocando no casaco que ainda usava.
— Espere... esse casaco... é de Dicon?
— Sim... trocamos sem querer quando corremos da chuva.
— Mary, vá embora.
— O quê?
— Não quero você aqui. Você pegou germes... da terra, da chuva... de Dicon!
— Colin, isso é loucura!
— VÁ!Sai correndo, decepcionada com ele. Lá no meu quarto, prometi a mim mesma que não iria mais vê-lo.
Mas, antes de dormir, me lembrei do que ele dissera... imperadores e imperatrizes se casam... se beijam.... E, em meio a esses pensamentos confusos, adormeci.

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O jardim secreto
FantasyMary Lennox é uma jovem garotinha que perdeu seus pais em um trágico acidente na Índia. Após essa perda, ela é enviada para a Inglaterra, onde vai morar com seu tio em um imenso e misterioso castelo. Lá, Mary descobrirá segredos escondidos, fará nov...