Chapter-5

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Ontem foi um dia caótico.
Desde o comentário de Medlock, fiquei pensativa.
Na minha infância, sofria bullying das outras garotas indianas por ter a aparência diferente da delas... E, como se fosse um sinal, ouvi vozes se aproximando do meu quarto.

Marta (sussurrando para si mesma):
— Medlock vai me matar se descobrir isso...

Mary:
— Marta?

Marta:
— Mary! Colin mandou eu te entregar isso.

Era um papel de carta, dobrado com cuidado, lacrado com um selo de lírio.
Assim que Marta saiu, me senti à vontade para abrir o bilhete.

Querida Mary,

Sinto muito pelo ocorrido de ontem.
Sei que exagerei no meu surto e acabei me exaltando demais com você.
Sinto muito pelo que Medlock lhe disse.
Eu não concordo com ela — acho você linda, e com um corpo belo também.
Se me perdoa, venha ao meu quarto às dez horas. Preciso da sua ajuda para um plano... pois acredito que não estou tão doente quanto Medlock diz.

Com carinho,
Colin

Fiquei pensativa.
O que ele quis dizer com "um corpo belo"..?
Será que ele tem olhado para o meu corpo?
Perdi o fio dos pensamentos quando o relógio bateu dez horas.
Peguei as pantufas às pressas e fui discretamente ao quarto de Colin.

Colin:
— Mary, você veio!

Mary:
— Vim. Eu te perdoei.

Colin:
— Obrigado... me senti tão culpado por tudo.

Mary:
— Mas tá tudo bem agora. Dicon me ajudou ontem, quando eu estava mal.

Colin (num tom mais fechado):
— Hum...

Mary:
— Então... por que você acha que não está doente?

Colin:
— Ontem, depois do meu surto, me deram um calmante... só que colocaram uma dose fraca. Eu não apaguei, só fiquei meio grogue.

Mary:
— E aí?

Colin:
— Eu ouvi a Medlock falando com o suposto médico. Ela disse pra me afastar de você, porque você poderia descobrir que eu não estou doente... e estragar o plano.

Mary:
— Meu Deus... mas que plano?

Colin:
— Acho que Medlock foi contratada só pra cuidar de mim. Se eu não estiver doente, ela vai ser demitida... e não vai poder terminar o plano — que deve ser roubar o dinheiro do meu pai.

Mary:
— Que maldade...

Colin:
— Por isso você precisa me levar amanhã ao jardim. Quero tomar sol, pegar cor, e tentar andar sem as muletas. Assim eu provo que estou saudável.

Mary:
— É uma boa ideia! Vou falar com o Dicon — ele deve estar no lago!

Colin:
— Mary... espera!

Mas eu já tinha corrido, tão animada que mal ouvi. Peguei uma lanterna e fui direto ao lago.
Lá, vi Dicon com a lanterna e uma pequena faca, cortando uma maçã, com algumas flores ao lado.

Mary:
— Dicon!

Dicon:
— Mary?

Mary:
— Tenho novidades!

Dicon:
— Espera... com essas roupas você vai passar frio.
(disse, tirando o casaco dele e colocando em mim)

Foi então que percebi — estava só de camisola. Corei.

Dicon:
— Pronto. Agora, o que aconteceu?

Contei tudo. O que Colin havia dito.
Então perguntei:

Mary:
— E aí, o que acha?

Dicon:
— Acho incrível.

Mary:
— Você vai me ajudar, né?

Dicon:
— Mas é claro! Não perderia essa aventura por nada.

Mary:
— O que você está fazendo?

Dicon:
— Uma coroa para uma princesa.

Mary:
— E quem seria a princesa?

Dicon:
— Você.
(falou, enquanto colocava a coroa de flores na minha cabeça)

Mary:
— Ô... obrigada.
(falei corada)

Dicon:
— Você fica fofa quando está vermelha.

Na hora, cobri meu rosto, tentando esconder o quão vermelha estava.

Dicon:
— Está na hora.

Mary:
— Hora de quê?

Dicon:
— Venha comigo.

Ele me puxou correndo até o estábulo.
Lá, vimos uma égua deitada, a barriga enorme, respirando ofegante, inquieta.

Dicon:
— Ela está prestes a ter seu primeiro potrinho.

Mary:
— Deve estar com medo... e sentindo dor.

Dicon:
— Sim. E ela não deixa nenhum tratador chegar perto.

Mary:
— Deve ser porque são homens... ela precisa de apoio de alguém que entende. Qual o nome dela?

Dicon:
— Meg.

Fui me aproximando, devagar.
Meg me olhava atenta. Sentei no chão e, surpreendentemente, ela deitou a cabeça no meu colo.
Fui falando baixinho, palavras de calma e coragem.

Olhei para Dicon — ele tinha ora uma expressão de surpresa, ora de admiração.
Seus olhos brilharam quando o pequeno potro nasceu.
Era desengonçado, negro como a noite, com olhos azuis.

Fiquei emocionada ao ver o potrinho tentando se levantar.
Foi então que senti os braços de Dicon envolverem minha cintura, num abraço calmo e apertado.
Ficamos ali, juntos, admirando Meg e seu filhote.

O jardim secretoOnde histórias criam vida. Descubra agora