Cap. 6 | Essas coisas

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Estávamos correndo risco de vida, era um fato.

Só me dei conta que estávamos vulneráveis quando notei que não tinha pra onde correr caso o cara da cabana, por ventura, seguisse o mesmo caminho que nós. Ele iria nos devorar viva, no mínimo iria arrancar todos os meus dentes e fazer de colar. Eu não queria arriscar.

A estrada se prolongava por vários quilômetros á frente, não havia casas pelos arredores, muito menos alguma alma viva que ajudasse a ter comunicação com alguém são da cabeça.

Éramos nós duas e a densa floresta cobrindo parcialmente a estrada deserta.

Demos a cartada final sobre as pessoas com quem trombamos nessas últimas doze horas: Eram fugitivos da polícia.

Fazia sentido se seguíssemos a lógica que as pessoas eram hostis, possuíam armas, eram bastante estranhos e circulavam perto da floresta de Concord, que venhamos e convenhamos, era o lugar menos habitado da região e o mais apropriado para se esconder de qualquer tipo de perseguidor.

Levando em consideração os acontecimentos mais recentes e que não teria condição de seguirmos até Atlanta por aquela longa estrada em linha reta tempo o suficiente para que o homem se mantivesse desacordado na cabana, decidi que era necessário sairmos do campo de vista o mais rápido possível.

Então cortamos caminho pela floresta adentro.

Era irônico estar indo justamente para a cidade a qual passei dias planejando não chegar nem perto.

Movida pelo cansaço, meu corpo desfaleceu no tronco de uma árvore. Eu estava um caco, precisei cortar a calça jeans por conta dos ferimentos na perna, minha blusa que antes era branca estava suja, cheia de mato e banhada de suor.

Encostei a cabeça no tronco procurando vestígios do que um dia foi um pulmão saudável. Estava ofegante. Por mais que estivéssemos no meio de uma floresta fechada, o sol nos castigava como podia, enviando ondas de calor terríveis que chegava a me dar tontura.

- O que a gente vai fazer? Andar até os dedos caírem? - A mulher que descobri ter por volta dos seus vinte e três anos, murmurou tão cansada quanto eu.

- Queria muito uma resposta pra isso. - Respondi com sinceridade. - Eu... não sei, não sei o que fazer.

- Minha ficha ainda não caiu - Ela raspou os indicadores pelas sobrancelhas, nervosa, agachada em um tronco próximo. - Parece que a qualquer momento eu vou acordar e ver que isso não passou de um pesadelo maluco.

- Eu sinto a mesma coisa.

- Será que a polícia vai acreditar no que aconteceu com a gente? Sobrevivemos a um massacre e fomos atacadas por um cara esquisito na estrada.

- Meio que nós atacamos ele primeiro.

- Ele tinha uma arma. - Gracie se defendeu e eu concordei de imediato.

- É verdade, fomos coagidas a atacar primeiro.

- Isso é insano.

- E não faz o menor sentido - Bufei - Espero que não achem que nós somos as desequilibradas da história.

- Só se... Puta merda, Katrina, aquilo é uma pessoa?! - Os olhos de Gracie pareciam que iria saltar de órbita a qualquer segundo enquanto chacoalhava a mão para detrás de mim.

Girei o pescoço tão rápido que quase o desloquei do lugar. Apertei os olhos forçando a vista e reparei na figura que Gracie indicava, estava de costas, longe, mas tinha corpo de uma mulher e se vestia como uma, andava vagarosamente e se eu não estivesse tão afobada com aquela informação, teria percebido que ela andava tropeçando nos seus próprios pés.

DOCE OBSCURO | Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora