Cap. 8 | Nervos a flor da pele

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Narrado por Daryl Dixon.

- Você vai mesmo deixar elas saírem em pune? Mesmo depois do que eu te contei? - Vociferei, sentindo as veias da minha garganta saltarem.

- Você acabou de enfiar uma flecha no braço dela! - Rick exasperou, nervoso. - O que quer que eu faça? Termine de matar?

Ele não sabia o que fazer, era nítido, estava tentando arranjar tempo para conseguir me dizer que não faríamos aquilo. Não éramos esse tipo de pessoa. Principalmente depois de ter dado cabo do melhor amigo na mesma noite que a fazenda foi invadida. Fazia quanto tempo? Uma? Duas semanas? Ele não estava pronto pra matar a sangue frio, não agora, mas isso não quer dizer que eu estivesse sofrendo desse mesmo mal.

Eu sentia o gosto amargo queimando pela minha boca.

O gosto da repulsa.

Eu estava decidido, pelo menos um olho daquela maldita eu iria arrancar.

Voltei para onde minha moto estava estacionada, impaciente, a cada dois passos pra direita, retornava com cinco pra esquerda. Podia sentir os olhos de Rick e Glenn observando cada movimento.

Eu não estava só irritado, eu estava puto, prestes enfiar uma flecha na cabeça do primeiro idiota que me contrariasse, e ao que parecia, estes seriam Rick e o Glenn. Os dois imbecis que me encaravam como se eu fosse o diabo na terra, como se... Como se eu estivesse errado em querer torcer o pescoço das duas vadias.

O que mais me deixava transtornado era ter as  pessoas mais conscientes do grupo tentando colocar panos quentes na situação.  

Eu não estava errado.

Já havíamos perdido tanto nesse pouco tempo que vivemos em grupo e os babacas não aprendiam a não confiar em desconhecidos, qual é, isso até minha mãe me ensinou quando eu ainda mijava nas calças. Era o básico da sobrevivência. O mundo tinha mudado, mas muita das coisas ainda continuavam como antes, não confiar em qualquer pessoa era uma delas.

Estavam esperando elas oferecerem um pirulito envenenado pra abrir os olhos?

Ter um pé atrás era algo que eu fazia desde que me entendo por gente.

Will Dixon era um desgraçado, um péssimo pai e um marido ainda pior, mas antes de virar um inconsequente bêbado que sequer conseguia se aguentar nas próprias pernas, nos ensinou que o mundo era traiçoeiro, as pessoas se aproveitavam das nossas fraquezas para no fim nos dar uma rasteira e esfregar a nossa cara em um monte de merda.

Por muitas vezes fechei os olhos quanto aquilo e me fodi, até aprender que meu pai tinha razão. Era um desequilibrado, no entanto, poucas das insanidades que saíam da boca dele faziam sentido.

Estar com o grupo e confiar neles me fazia me sentir um maldito hipócrita, levando em consideração que Rick deixou meu irmão algemado no alto de um prédio infestado de errantes. Deveria ter sido o sinal para eu seguir meu caminho sem eles.

A paçoca de merda era que eles eram boas pessoas, me salvaram até mesmo quando quiseram me matar, o tiro que Andrea me deu na fazenda que o diga. As situações recorrentes foram obrigando a nos unir cada vez e mesmo tendo uma proteção contra pessoas no geral, eles eram o que eu tinha no fim do mundo. Pessoas que se importavam com a minha proteção, com a minha vida.

E eu estava lá pra protegê-los. Mesmo que isso significasse matar duas pessoas, não seriam as primeiras, muito menos as últimas.

Eu podia ver a loucura estampada no olhar da mulher que me deu a pedrada na cabeça. Ela era uma desequilibrada, poderia surtar e acabar com metade do nosso grupo em uma noite de sono.

As listras das unhas no meu braço e a dor de cabeça causada pela pedrada me lembravam disso a cada segundo desperdiçado naquela conversa.

- Daryl, você precisa se acalmar... - Glenn se enfiou na minha frente quando tentei ir em direção ao trailer.

- Porque? Vai defender aquelas duas vagabundas? Você escutou o que eu falei? - Berrei aproximando o rosto do Coreano e soltei pausadamente como quem soletra para uma criança de cinco anos. - Elas tentaram me matar! 

- Eu sei que isso vai parecer loucura, mas elas estavam tentando se proteger...

- Me acertando com uma pedra?! Foda-se, tô cagando, tudo tem consequência nessa merda... Não me olha assim, não me chama de dramático, porra!

- Eu não chamei. - Se defendeu, encolhendo os ombros, confirmando o que eu tinha acabado de falar.

Enfiei o indicador próximo ao nariz dele.

- Mas tava pensando, conheço essa sua cara de bunda.

Glenn revirou os olhos, afastando meu dedo para o lado. 

- Temos que ser racionais, a menina está ferida, a outra desapareceu no meio do mato. Elas não sabem lutar, estão desarmadas, não podemos jogar elas no meio do mundo assim.

- O que elas fizeram pra você? Entraram na sua cabeça em cinco minutos? Tá querendo comer ela, Corea?

- Você se ouve? 

- Daryl tem razão - A voz de Rick se fez presente, fazendo-nos desviar o olhar para trás. O meu particularmente, bem confuso, estava acostumado a lidar com um líder pacificador contrariando minhas opiniões. - Não as conhecemos, independente do motivo, Daryl foi ferido. Podemos achar um lugar seguro no caminho, mas vou deixar claro que não seguiremos juntos.

Meu semblante de quase alegria se desmanchou na última parte. Arranjar um lugar seguro. Tinha que deixar a própria sorte como ficamos desde o começo. A vontade era de  arrancar os ouvidos fora só pra enfia-los na boca de Rick e faze-lo engolir.

- Você é um covarde. - Murmurei.

Travamos uma batalha por alguns segundos até o barulho da porta do trailer chamar minha atenção e eu precisar desviar o olhar. De lá saía a mulher loira com o braço já enfaixado, carregando no rosto uma ira tão maior do que quando arranquei um tufo dos seus cabelos. Ela pisou duro na nossa direção e quando chegou á uma distância segura, sequer me olhou, encarou Rick e foi então que percebi que o foco não era nenhum de nós, e sim a moto de Merle, agora minha.

- Cadê o dono dessa moto?!

Capitulo pequenininho só pra mostrar um pouco da visão do Daryl, mas prometo que os próximos serão maiores.

DOCE OBSCURO | Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora