Cap. 7 | Estamos em guerra

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- Meu Deus, isso dói demais! - Grunhi baixo ao sentir outro pedaço de vidro sendo retirado da minha panturrilha.

O homem sabia o que tava fazendo, pelo menos tinha experiência com vacas, cachorros e cavalos. Era um veterinário. Mas na situação que eu estava, não tinha nem como reclamar de alguma coisa.

Pelo o que eu havia entendido naqueles poucos minutos sentada em um tronco de árvore enquanto o senhor gentil cutucava minha perna, foi que o mundo havia desabado sobre nossas cabeças há pelo menos uns três meses.

O líder deles, Rick Grimes, nos contou com toda paciência do mundo sobre o que havia acontecido. A história era semelhante a alguns livros de terror trash que eu lia anos antes de entrar na faculdade: Pessoas retornando a vida com fome de carne humana.

Os relatos sobre o motivo da contaminação em toda humanidade iam de bomba de gás lançadas pela Rússia até um simples vírus, nada que fosse comprovado cientificamente, só especulações. Até porque o grupo de Rick tinha se refugiado no CDC em Atlanta e não conseguiram muitas respostas. Não muitas. Mas uma em específico que me deixou apavorada.

Estávamos todos contaminados.

Se morressemos por qualquer merda, voltaríamos como um daqueles monstros. Loucos para morder o pescoço de alguém.

Não tinha como não acreditar neles.

Fazia sentido, considerando as últimas coisas que passamos e ignorando a descrença que insistia em me seguir. Não tinha nem como me julgar, era muita informação pra tão pouco tempo. Minha cabeça estava prestes a explodir. Rick relatava sobre os monstros e minha mente disparava um "não pode ser real, é mentira". Sendo que ali estava a prova, há menos de três metros, mortos depois de tentar atacar eu e Gracie.

- Depois do CCD, estávamos na floresta quando o Carl levou um tiro e nós encontramos a fazenda do Hershel - Rick ergueu o queixo para o senhor que cuidava da minha perna. - Longe da cidade, floresta em volta, era um lugar bom até eles nos encontrarem. Ficamos cercados, perdemos pessoas no caminho...

Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e se inclinou um pouco para frente, diminuindo o tom de voz.

- Desde que saímos de lá está sendo difícil achar um lugar para vivermos. Em alguns meses minha esposa irá dar a luz, as coisas vão ficar ainda mais complicadas com uma criança se estivermos aqui do lado de fora.

Eu neguei com a cabeça, tentando tirar os pensamentos ruins que me ocorreram.

- Há quanto tempo estão aqui fora? Desde que saíram da fazenda?

- Uma semana, acredito.

- Como vocês conseguem se alimentar? Tomar um banho? Beber água? E dormir? - Disparei, horrorizada, começando a perceber que as necessidades básica naquele mundo já não era tão importante quanto antes.

- A gente pensa primeiro em estar vivo pra depois tentar conseguir fazer outras coisas. - O senhor respondeu, bem humorado, amarrando minha panturrilha com uma camisa velha.

- Quando demos sorte, encontramos enlatados ainda na validade.

Minha cara se transformou em um puro horror.

- Pai! - O menino chamou, indicando alguma coisa no mapa que ele e os demais estavam vendo.

Rick suspirou angustiado, expirou todo o ar e levantou-se do tronco dando um sorriso forçado, recuperando toda a postura de líder.

- Somos sobreviventes, Katrina, é de nossa obrigação conseguir sair de situações assim.

A primeira imagem que surgiu em minha mente ao considerar esse apocalipse foi a do meu pai, o temor dele não estar mais vivo subiu em forma de calafrio pela espinha. Charles e Conrad eram a única família que restava, as únicas pessoas que permaneceram comigo durante todos esses anos depois da morte da mamãe.

DOCE OBSCURO | Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora