- Meu Deus, isso dói demais! - Grunhi baixo ao sentir outro pedaço de vidro sendo retirado da minha panturrilha.
O homem sabia o que tava fazendo, pelo menos tinha experiência com vacas, cachorros e cavalos. Era um veterinário. Mas na situação que eu estava, não tinha nem como reclamar de alguma coisa.
Pelo o que eu havia entendido naqueles poucos minutos sentada em um tronco de árvore enquanto o senhor gentil cutucava minha perna, foi que o mundo havia desabado sobre nossas cabeças há pelo menos uns três meses.
O líder deles, Rick Grimes, nos contou com toda paciência do mundo sobre o que havia acontecido. A história era semelhante a alguns livros de terror trash que eu lia anos antes de entrar na faculdade: Pessoas retornando a vida com fome de carne humana.
Os relatos sobre o motivo da contaminação em toda humanidade iam de bomba de gás lançadas pela Rússia até um simples vírus, nada que fosse comprovado cientificamente, só especulações. Até porque o grupo de Rick tinha se refugiado no CDC em Atlanta e não conseguiram muitas respostas. Não muitas. Mas uma em específico que me deixou apavorada.
Estávamos todos contaminados.
Se morressemos por qualquer merda, voltaríamos como um daqueles monstros. Loucos para morder o pescoço de alguém.
Não tinha como não acreditar neles.
Fazia sentido, considerando as últimas coisas que passamos e ignorando a descrença que insistia em me seguir. Não tinha nem como me julgar, era muita informação pra tão pouco tempo. Minha cabeça estava prestes a explodir. Rick relatava sobre os monstros e minha mente disparava um "não pode ser real, é mentira". Sendo que ali estava a prova, há menos de três metros, mortos depois de tentar atacar eu e Gracie.
- Depois do CCD, estávamos na floresta quando o Carl levou um tiro e nós encontramos a fazenda do Hershel - Rick ergueu o queixo para o senhor que cuidava da minha perna. - Longe da cidade, floresta em volta, era um lugar bom até eles nos encontrarem. Ficamos cercados, perdemos pessoas no caminho...
Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e se inclinou um pouco para frente, diminuindo o tom de voz.
- Desde que saímos de lá está sendo difícil achar um lugar para vivermos. Em alguns meses minha esposa irá dar a luz, as coisas vão ficar ainda mais complicadas com uma criança se estivermos aqui do lado de fora.
Eu neguei com a cabeça, tentando tirar os pensamentos ruins que me ocorreram.
- Há quanto tempo estão aqui fora? Desde que saíram da fazenda?
- Uma semana, acredito.
- Como vocês conseguem se alimentar? Tomar um banho? Beber água? E dormir? - Disparei, horrorizada, começando a perceber que as necessidades básica naquele mundo já não era tão importante quanto antes.
- A gente pensa primeiro em estar vivo pra depois tentar conseguir fazer outras coisas. - O senhor respondeu, bem humorado, amarrando minha panturrilha com uma camisa velha.
- Quando demos sorte, encontramos enlatados ainda na validade.
Minha cara se transformou em um puro horror.
- Pai! - O menino chamou, indicando alguma coisa no mapa que ele e os demais estavam vendo.
Rick suspirou angustiado, expirou todo o ar e levantou-se do tronco dando um sorriso forçado, recuperando toda a postura de líder.
- Somos sobreviventes, Katrina, é de nossa obrigação conseguir sair de situações assim.
A primeira imagem que surgiu em minha mente ao considerar esse apocalipse foi a do meu pai, o temor dele não estar mais vivo subiu em forma de calafrio pela espinha. Charles e Conrad eram a única família que restava, as únicas pessoas que permaneceram comigo durante todos esses anos depois da morte da mamãe.
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DOCE OBSCURO | Daryl Dixon
RomanceDe uma hora pra outra, Katrina se vê no meio de um apocalipse zumbi, sem contato com a família, com amigos e sem a mínima noção do que está acontecendo, ela acaba - por meio de um destino traiçoeiro - encontrando o grupo de Rick Grimes. O que Katrin...