Cap 18 | Cada escolha tem sua consequência

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As horas se arrastavam, e eu continuava grudada na janela. De vez em quando, Daryl dava uma olhada também, mas logo voltava a se deitar, como se a gente nem estivesse no mesmo espaço.

Ele não parecia nem um pouco afim de conversa, e eu, por mais que estivesse com a cabeça cheia de perguntas, me segurava. Onde Merle se metia quando sumia? Por que ele desaparecia? Do que ele estava fugindo? Como diabos Daryl e Merle passaram três anos sem trocar uma palavra? Que tipo de vida eles levavam para serem tão... eles? E o principal: por que Merle foi embora e deixou o irmão para trás?

Nada fazia sentido.

Daryl parecia ter uma consideração enorme por Merle, então, se a ligação deles era tão forte, por que Merle ficou fora por tanto tempo? No último dia que vi Merle, ele disse algo sobre ter ido embora para não acabar como o pai. Então o problema era o pai? E se era, por que Daryl não foi junto? Por que ele ficou?

Cada vez que eu pensava nisso, parecia que as peças se encaixavam, mas logo depois tudo embolava de novo.

A curiosidade estava me corroendo por dentro, mas eu sabia que não podia despejar essas perguntas de uma vez. Não pro Dixon.

Quando me dei por mim, o céu já estava clareando.

Dixon se levantou, ajustando a besta no ombro e verificando o curativo.

Eu respirei fundo, nervosa. 

Era hora de encarar o mundo lá fora de novo.

Ele pegou a pedra que eu havia encontrado no dia anterior, afastou o sofá da entrada e, ao abrir a porta, jogou-a na floresta. O barulho chamou a atenção de alguns errantes. Não eram muitos, mas todo cuidado naquele momento era pouco. Ele saiu primeiro, e eu fui logo atrás, faca na mão, alerta a qualquer movimento.

Andávamos em passos rápidos, e mesmo que ele parecesse bem, notei alguns suspiros pesados de cansaço. Minhas pernas chegaram ao momento que estavam me matando, a fome e a sede me desolavam e me deixava fraca.

E de repente, senti uma dor insuportável na minha perna. Minha perna prendeu em alguma coisa, e a dor foi instantânea. O grito entalou na minha garganta e eu desabei no chão.

- Dixon! - grunhi, tentando não gritar. 

Assim que o chamei, ele já estava agachado, arrancando a armadilha de ferro da minha perna. Uma porra de armadilha de animais. Dois segundos depois, a dor já estava me fazendo ver estrelas, pôneis e gatos no céu.

- Estamos perto do acampamento deles, perto da clareira - Ele disse, rasgando um pedaço da própria camisa e amarrando minha perna onde a armadilha tinha perfurado. Soltei um gemido baixinho, mas contive o resto. - Precisamos seguir pela rodovia. 

Ele apertou o tecido e eu balancei a cabeça, mordendo o lábio para não gritar de dor. Daryl Dixon não era delicado nem pra fazer o cacete de uma amarração. Inferno. Aquilo doía como o inferno. Eu sentia que estava tocando na mãozinha do demônio.

- Ficaremos expostos - Alertei, um murmúrio dolorido.

- Eu sei.

Daryl me ajudou a levantar, mas logo se posicionou a minha frente, atento a tudo ao redor. Eu mancava atrás, sentindo a perna latejar a cada passo, mas fiz o possível para não reclamar. 

Ele olhava para mim de vez em quando, disfarçando, como se estivesse verificando se eu ia desmaiar ou se já estava estatelada no chão. Um verdadeiro cavalheiro, pra falar a verdade.

Finalmente, chegamos à rodovia. Nada. Nem carro, nem gente, nem mortos se arrastando. Só vento e poeira. Daryl olhou em volta, um pouco desconfiado, e seguiu para uma área mais densa de árvores, como se soubesse onde estava indo. Claro, eu segui, mesmo com minha perna implorando por um descanso.

DOCE OBSCURO | Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora