A última cena de dificuldade

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As ruas escuras passavam rápido por trás das janelas pintadas, as luzes dos postes piscavam e espalhavam brilho pelo asfalto úmido. Deixava ambas as garotas numa sobra enquanto Becky observava longos dedos brincarem com um fio solto no assento entre elas. Eles passavam pela costura desgastada, apertando mecanicamente o algodão fino. Becky os encarou desanimada, mantendo os olhos no couro cinza, sem querer olhar para aqueles olhos castanhos perfeitos.

Não sabia o que iria encontrar se levantasse o olhar.

Raiva.

Tristeza.

Arrependimento.

Mas preferia não saber, tendo em vista a tarde que tiveram. Ao invés disso olhou para Tia, o homem silenciosamente na frente das duas ocupado enviando uma mensagem em seu telefone. Ela sabia que ele conseguia sentir a tensão entre as duas; teria que ser um idiota para não notar. Pairava sob elas como uma nuvem espessa, lentamente a sufocando.

Estava assim desde que Freen saiu de perto dela. Becky a seguiu, assim que conseguiu se recompor, mas não fez diferença. A morena nem olhou em sua direção. Dava respiradas fundas a cada minuto, a loira mantendo os olhos no piso de madeira e longe da garota. A sensação em seu estômago também não melhorou.

Tentou engolir o nó em sua garganta enquanto o garoto vietnamita as levava por estradas de terra, pela vila local, e por cima de pontes antigas que dava para ver todo o resto de Delta. Em circunstâncias normais seria pacífico e lindo. Mas a atmosfera estava pesada, alongando a tarde para os três. E quando finalmente entraram na van, o silêncio estava insuportável.

E mesmo assim ninguém parecia preparado para quebrá-lo.

Becky ainda estava se recuperando das palavras brutas de Freen, cada sílaba se repetindo em sua mente. Uma parte de si sabia que era verdade, mas ainda não conseguia aceitá-las completamente. Se o fizesse, os últimos três anos teriam sido sua culpa. E as coisas não deveriam ser tão simples assim, apenas seguí-la não deveria ser tão simples assim.

Eu realmente poderia ter deixado tudo de lado por você?

O fato de que Freen esperava que o fizesse era difícil de engolir. Francamente, irritava Becky. Fazia com que a dor em seu peito se espalhasse para seus ombros e em seguida para seus braços de forma que seus punhos ficassem cerrados em seu colo. Becky teve que respirar fundo, forçando seus olhos a não procurarem a morena sentada ao seu lado.

Becky estava mais uma vez no meio dessa guerra com Freen. Batalhando com se sentir culpada por nem considerar a ideia e brava com Freen por ser tão teimosa e não fazer a pergunta ela mesma. E ainda mais, por se manter em silêncio por anos e apenas trazer o assunto de volta como se fosse um motivo para afastá-la ainda mais.

Isso está uma bagunça.

Becky olhou de soslaio para Freen com o canto dos olhos. Seu olhar estava fixo na rua escura de Saigon, sua testa contra o vidro gelado. Estava passando as pontas dos dedos pela superfície suave, suas sobrancelhas franzidas. Suspirando audivelmente, Becky se moveu no banco de couro, olhando pela própria janela para o rio extenso paralelo à rua.

Por que eu apenas não fui com você?

Eu estava assustada?

Ou era tão teimosa quanto você?

Becky olhou de volta para Freen no mesmo momento que o motorista parou no meio fio. A garota ainda estava com os olhos no vidro e no tráfego intenso da rua. A loira bufou e se aproximou da porta traseira. Thai desceu do assento da frente, indo para o lado e abrindo a porta. Os sons e cheiros da cidade a atingiram assim que desceu, seu tênis preto indo de encontro com o concreto irregular. Se virou, colocando a mochila nas costas para ver Freen descendo atrás de si, apenas para se virar para o guia com um sorriso fraco.

Como se nunca tivessemos dito adeus [Versão FB]Onde histórias criam vida. Descubra agora