As pequenas coisas te entregam

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«Freen, esses são doze minutos da minha vida que nunca vou recuperar.»

Becky estava de pé na praça pavimentada olhando para a torre de relógio enquanto cavaleiros automatizados e dançarinos festivos giravam em círculos na sua frente. Não poderia discordar que a construção era linda com suas pedras góticas cinza e torres espirais gigantes, mas o relógio era outra história. Sabia que era um monumento nacional e também uma das coisas que tinha que ver se viesse aqui, mas a mera visão dele estava deixando a garota louca.

Freen estava ao seu lado rindo enquanto Becky encarava o monumento com olhos arregalados e sobrancelhas levantadas. Turistas enchiam a praça, câmeras disparando enquanto os últimos sinos tocavam.

«Você entende o que são doze minutos?» Becky reclamou, virando-se para a morena. «Castigos cruéis e incomuns significam algo para você?»

«Desculpa, eu tinha que fazer isso.» Freen conseguiu dizer em meio a risadas. «O olhar em seu rosto não tem preço.»

A garota se virou e começou a andar para sair da praça, murmurando a maçante melodia que o Glockenspiel estava tocando momentos antes. Becky bufou e correu atrás dela enquanto entrava em outra rua, passando por uma multidão de homens situados na frente de uma cervejaria.

Após acordar suando frio naquela manhã, Becky não conseguiu voltar a dormir. A imagem de Freen gemendo em seu ouvido e mordendo seu pescoço foi o suficiente para deixar seus olhos abertos e fixados na forma da garota ao seu lado. A pacífica respiração dela foi com um relógio, constante e rítmico.

Inspira, expira.

3:53 da manhã.

Inspira, expira.

4:16 da manhã.

O sol matutino começou a aparecer por entre a janela aberta, iluminando todos os traços de Freen, os quais a loira tinha memorizado na última semana e ainda mais nas últimas horas. Becky se viu querendo alcançar a garota e tirar o cabelo escuro da frente de seu rosto, as mechas bagunçadas atrapalhando seus olhos. Passou a maior parte do tempo imaginando o quão suave deveria ser, qual seria a sensação de tocá-lo.

Queria que tivesse um pouco de coragem e falasse o que sentia para a garota.

Mas com você não é tão simples.

Quando Freen abriu os olhos, Becky já estava de pé tomando banho, sua bagagem ao lado da porta. Saiu do banheiro minutos depois para encontrar a mais velha com o cabelo sexy bagunçado e um sorriso preguiçoso que quase fez com que voltasse para tomar outro banho.

Deveria ser ilegal ser tão linda assim às sete da manhã.

Elas entraram em um trem para Munique, atravessando a fronteira da Alemanha. Becky não percebeu outras mudanças além dos prédios e que a cultura parecia mais velha de alguma maneira. Os sotaques eram mais fortes, a comida mais saborosa. Só era mais.

Freen parou de repente do lado de fora de uma porta de madeira com tintura verde e um quadro negro pregado na parede à esquerda. Ela girou e sorriu para Becky, antes de entrar pela porta.

«É nesse momento que você vai me matar?» Becky perguntou.

«Se eu quisesse fazer isso, teria feito enquanto tivesse dormindo.» Freen respondeu.

Tarde demais.

Becky tirou as imagens que as palavras a lembraram de sua mente e a seguiu pela porta. O cheiro de cerveja e carne assada atingiram ela antes que conseguisse fechar a porta. As paredes de pedra fizeram com que apertasse mais a jaqueta de couro contra si, se protegendo do frio. Degraus levavam a um cômodo parecido com uma adega, luminárias penduradas nas paredes iluminavam o caminho para baixo. Cada passo que dava ecoava na pedra, o som sendo misturado com as vozes que ficavam mais altas à medida que desciam.

Como se nunca tivessemos dito adeus [Versão FB]Onde histórias criam vida. Descubra agora