O estralo

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- Me pergunto o motivo de Crowley arriscar toda a sua existência por você, você nem parece fazer o tipo dele... - o demônio no banco do passageiro falou quase para si mesmo, enquanto olhava a paisagem neblinada - ... Se bem que ...Lembro de ter ouvido falar que vocês eram um casal a 80-90 anos atrás.
Isso me deixa em pânico e também me traz lembranças.
1941 foi quando um sentimento confuso por Crowley brotou e nunca saiu da minha cabeça além de uma preocupação constante que só aumentou ao passar dos anos. Uma raiva voltou a me tomar, não por culpa de Crowley, mas sim minha.
Não podia deixar de sentir o que sinto.
Embora também não tem como esquecer o que se passou de fato naquele mesmo ano.

Onde tudo ficou "tom de cinza".




Aziraphale On

Não é que eu não entendo o limite.
Entendo bem o meu lugar e entendo bem quem o Crowley é.
Talvez seja isso que mais me apavore, afinal mesmo sabendo de tudo como preto no branco...

Não consigo deixar de olhar para esse demônio dirigindo enquanto desviava das ruas em chamas e destroços deixados pela bomba.

 Londres estava toda destruída.
 Estamos em tempo de guerra final.

Olho para uma bolsa bem cuidada de couro e abraço com carinho no meu colo.

 Além de me ajudar ele também salvou meus livros, sabendo o que eles são para mim.

Um estralo dentro de mim apitou.

De

Foi uma noite realmente animada, Aziraphale queria ajudar Crowley como ele o ajudou.


Sabia que as bebidas estavam quebradas porque Crowley foi ao seu resgate, por isso ele se ofereceu como mágico, embora -obviamente- não soubesse nada a respeito.

Algo que foi só para devolver o favor se tornou divertido de fazer, o anjo não sabia ao certo se era porque apreciava a arte da magia ou só porque estava com o Crowley o deixando feliz, empolgado e as vezes até nervoso.


Tudo acabou bem quando Aziraphale e Crowley foram para a Livraria Fell, uma livraria simples entulhada de livros e objetos antigos estava ativa um pouco mais de 200 anos no Soho, Londres.

Mesmo em tempo de guerra isso não mudou. 

 Livros são como nossa era, os narcisistas e seus apoiadores queimavam todos os tipos de livros pela cidade.

E por conta disso, Aziraphale tinha que tomar mais cuidado, mas não havia como abandonar seus livros, que virariam -de fato- um tesouro para ele.

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- Você disse "confia em mim" Crowley respondeu o seu amigo anjo calmamente como se fosse algo natural.

- E você confiou.... - O anjo olha de canto de olho para Crowley escondendo seu tímido sorriso sentindo que só por olhar estava fazendo algo muito mal. - se fosse tão ruim como adora dizer que é, teria apenas ido embora. - Aziraphale fala com esperança.

Crowley bufa ao ouvir o anjo.

- Naahhh - Tudo para você é sempre preto no branco, as vezes é só cinza. - Crowley pensou um pouco percebendo o que disse e limpou sua garganta meio atrapalhado - Er... tom escuro de cinza.

- Prefiro os tons de cinza claros... bem clarinhos esses são meus favoritos - Aziraphale da um sorriso meio fogoso devido ao vinho.

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As velas no candelabro sobre a mesa e alguns abajures de luz falharam ao redor iluminavam o local.


- Eu pensei que era amarelo. Talvez até mais tons pasteis do que tons cinzas - Crowley fala leve para alcançar a roupa de Aziraphale. 

- Bem, você acertou. - Aziraphale responde sorrindo entrando na conversa fiada, acariciando um pouco o seu sobretudo. - Tenho essa peça única feita a mão em Paris a linho na Gagelin et Oblige pelo Le créateur, Charles Worth, em 1850. - Aziraphale faz bico e com confiança tenta imitar o sotaque francês não chegando nem perto.


De uma forma que apenas um bêbado faria.


- Deve gostar mesmo deste terno, é só o que veste a mais de... - O demônio encheu a boca com ar e assopra em um gesto exagerado enquanto pensava. - Sei lá, a mais de 90 anos? - Aziraphale parecia tão entretido acariciando a peça que Crowley esticou o seu braço se inclinando na cadeira e tocando com as costas dos dedos no sobretudo. - Oh, realmente é bom.

Aziraphale On

Estava tão distraído na conversa que apenas esqueci novamente minha guarda baixa, o toque do Crowley em mim me fez ficar extasiado, mesmo que por dois segundos, talvez seja apenas o corpo que me deu que estava com defeito?

Impossível.

Eu o tenho a mais de 5 mil anos e nunca tive problemas. Então por que tudo em mim arde quando ele nem mesmo tocou em mim direito?

Coloco a mão no mesmo lugar no terno quase como uma barreira.

Me caio em pensamentos estranhos e me levanto com rapidez enquanto limpo minha garganta fingindo indiferença. 


- Quer mais bebidas? Eu tenho muitas aqui - Me guio atrás da gente onde tinha uma pequena adega espelhada grudada na parede como uma prateleira. Olho para ele de canto de olho.

- Vamos lá anjo - O Crowley sorria enquanto rosnava entre os dentes com sua voz relaxada - Quero o seu pior - ele disse em tom de brincadeira colocando mais vinho na minha taça.

viro o meu rosto rápido e olho para a minha coleção de bebidas, pego sem pensar muito algo mais forte.


Of

A noite foi divertida e calma, o anjo e demônio passaram horas falando sobre besteiras naquela sala mal iluminada.

Riam e brigavam por trivialidades enquanto colocavam os assuntos do último século em dia.

- Eu não aguento mais. Esse papo sobre o cinema mudo acabou comigo - Crowley se levanta apoiando as mãos na mesa forma desleixada.

- Mas é a verdade - O anjo se levanta junto revoltado - Com toda certeza uma ideia genial... Bom, não é nenhuma peça, é claro. - Ele gesticula com a mão colocando a taça na mesa - Mas é muito engenhoso.

- Pelo menos agora está assistindo coisas que são divertidas, não apenas tragédias. - Fala Crowley abotoando o seu terno da forma mais elegante que podia - Sempre tragédia, tragédia. - O demônio fala balançando a cabeça em tom de "bla-bla" como se fosse chato só de pensar. - Tragond-O-onde está meu chapéu - ele fica olhando ao redor se balançando pela sala quase esbarrando nas coisas.

- Crowley - O Aziraphale foi até o demônio - Ele esta na sua cabeça, na sua cabeça. - Crowley toca na sua cabeça até chegar no chapéu - Pelo amor d-Não é possível que bebeu ao ponto de não sentir seu chapé-Onde você vai?

O anjo percebe que o Crowley andava para perto da porta.

- Onde acha que vou? Para casa. - Crowley tira seus óculos do bolso e os coloca , não antes de da uma boa olhada de cima a baixo para o anjo no tom de "não é óbvio".

- Pelo menos pare de ficar bêbado.

- Foi mal, anjo. - Crowley fala abrindo a maçaneta e saindo fazendo o Aziraphale pegar o seu chapéu que estava na mesa ir com ele até a porta.
- A minha cota de milagres hoje já deu, e tem mais, eu quero ficar bêbada mais um pouco.  Ele fala quase gritando gesticulando ao redor da rua escura enquanto andava quase tropeçando até seu carro.
- Que desperdício de bebida, francamente...  - Depois falando baixinho entre os dentes.

Ele abre o carro-
-Espere Crowley! - O anjo corre até a rua que é sempre movimentada agora vazia. - Não quer ficar aqui esta noite?

- O que? - O demônio fala meio tonto e baixinho voltando seus olhos para o anjo na sua frente - Está mesmo me falando para ficar a noite? - O demônio da um sorriso malicioso e risonho para o anjo como se debochasse. - Está convidando um demônio para sua casa, Anjo?

- Como se você já não tivesse ficado a noite toda aqui mesmo. - Aziraphale fica meio nervoso com o comentário e se limita a olhar para o lado vendo a rua silenciosa segurando o seu chapéu com as duas mãos de forma inquieta. - E-Eu sei que não precisamos dormir, mas as vezes pode ser muito bom.... eu já tentei algumas, muitas vezes e posso dizer que é, bem, digamos, esclarecedor e muito relaxante. - Crowley apenas olhou escondendo o seu sorriso risinho com a cara que o anjo inquieto fazia na frente dele. - E Tem uma cama lá em cima, se quis-Quer saber? Esquece - O anjo da meia volta voltando para a escadaria da sua livraria.

-Epa, epa, epa - O demônio fecha o carro e corre até o anjo que estava envergonhado demais para olhar para o Crowley - Para que isso? Calma.
Crowley seguiu o amigo até a porta - Eu fiquei surpreso só isso. - Ele da um largo sorriso brincalhão para quebrar o gelo - Me deixa ficar por favor? - Ele pergunta virando o rosto de lado.

Sem esperar a resposta ele entra como um penetra tirando o chapéu e os óculos

- No meu lado da cidade está meio que todo destruído mesmo, as estradas podem ser uma bagunça e bem desafiadoras. - Ele coloca os objetos em uma mesa cheia de livros perto da porta. - Então - Ele bate nas mãos como uma palma e depois as esfregou uma na outra. - Onde eu fico?

Aziraphale fecha a porta atrás dele apenas revirando um pouco os olhos.

Ele aponta para a escada espiral preta no meio da sala.

- Francamente - O anjo resmunga vendo o Crowley subir saltitando pela escada em passos largos- Tem água quente também caso queira tomar banho! - O anjo grita na esperança do demônio ouvir.













(Oii gente se tiver qlqr coisa errada em vem depois corrigir, espero que gostem da historia, que vai ser curta, mas prometo que vai ser legal)


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