capítulo um - o julgamento

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     Filha caçula de Hades e Perséfone, Veronica, sempre conseguira destinguir o certo do errado, o bom do mal e o que lhe favoreceria do que lhe prejudicaria. Porém, quando ainda jovem, tomou a atitude decisiva que, seria mais que mal vista pelo tio.

      A menina é claramente uma deusa, porém, até então não sabia de quê. "Qual seria tua benção?", todos se perguntavam.

        — Oh, por favor, querido irmão! Todos sabemos que minha sobrinha, não possui nenhum dom — disse o deus dos céus, raivoso e um tom claro de zombaria, durante uma das frequentes discussões entre os dois. Até desceu de seu trono para falar com o deus do submundo.

        — É claro que ela possui, seu idiota! — todos ficam abismados com a forma na qual Hades fala com Zeus.

      Perséfone correu para tentar impedi-lo de falar besteiras e acabar sendo punido por isto. Quando então chegou perto, Zeus, com uma poderosa magia, a empurrou para longe, incapacitando-a de voltar.

        — Ora, então, qual seria?! — falou sarcástico, se o tal continuasse uma guerra começaria ali mesmo.

      Hades por sua vez, não encontra uma resposta, baixando a cabeça e ficando em um profundo silêncio. Zeus, percebendo que concluira a discussão, voltou-se para o grande trono e sentou-se antes de dizer:

        — Então, isso acaba aqui! Volte para teu inferno e deixe-me em paz, seu estúpido! — ainda com fúria em seu coração, mas sabendo onde aquilo poderia acabar, Hades o obedeceu e sumiu da frente dele em segundos.

      Hades, com tua cavalaria, chegou ao submundo em minutos. Quando abriu as portas do que alguns chamam até hoje de inferno, deparou-se com Perséfone, preocupada com o amor de sua vida. Logo a deusa correu até ele e, com espanto nos olhos, perguntou-lhe:

        — E então?

        — Ele tem certeza de que nossa filha é uma criatura sem bençãos — respondeu, sem dar muita atenção para a outra, andando até o salão principal.

      Perséfone o seguiu o enchendo de perguntas que nem mesmo o mais sábio dos deuses saberia responder.

        — Chega! — Hades gritou, sem mais paciência para os questionamentos, ao seus olhos estúpidos, da esposa, que calou-se no mesmo instante. — Eu preciso descansar! Se algo acontecer estarei no quarto.

      Veronica, que havia se escondido atrás de algumas cortinas, ouviu cada palavra. Poderia ter corrido até mãe e lhe feito dezenas de perguntas, mas sabia que Perséfone não poderia responder-lhe ao menos uma delas. Voltou para seu quarto depois da mãe ter ido para outro canto do submundo — provavelmente Campos Elísios, parte favorita de todo o universo de Perséfone —, pôs-se à cama e, depois de milhares lágrimas escorrerem por seu rosto, adormeceu.

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         — Tu tens a ciência do porquê está aqui! Tu cometeste um erro! Um erro que, possa ser nossa sina, garota insolente! Se não fosse por mim, deus dos céus, teu erro poderia destruir Olimpo! — Zeus gritava, gritava e gritava mais. Se, por acaso, Veronica não o conhecesse, estaria apavorada no momento do próprio julgamento.

     Veronica estava preparada para enfrentá-lo, ir contra todas as regras que seu pai, Hades, lhe passou. Iria bater de frente com o autointitulado maior deus existente. E foi o quê aconteceu. Lá para o meio do julgamento de seu maior erro, retrucou irônica, seu tio. E isso foi a quebra de todos os limites e ele não deixaria passar. Ela chacoteou-lhe:

        — Engraçado que o que eu mais tenho é primo semideus que é seu filho! Que loucura, não é, tio?

     E, mesmo tendo dito uma das frases mais atrevidas já ouvidas no Olimpo, nem ao menos era isso que enfureceu Zeus. Foi o deboche na fala, foi o jeito humano de se expressar.

        — Basta! Tu estais condenada à tortura perpétua! Nunca mais pisará do mundo dos deuses e... — antes que pudesse continuar à lançar palavras violentas, Hades o interrompeu.

      Hades sabia que o que faria a seguir era arriscado, entretanto pela filha e pela esposa faria qualquer atrocidade. Ainda mais para salvá-las de Zeus, a ira daquele ser nunca foi tão exposta quanto naquele momento. Ele estava se queimando por dentro, e isso poderia comprometer não somente à Veronica, mas à tua família também. E Hades não poderia permitir que isto acontecesse.

        — Veronica não sabia o quê estava fazendo! Ela é só uma adolescente que não sabe o que faz! Entrar em contato com um humano nunca foi a intenção dela! — o rei do submundo se posicionou, se pondo em frente à filha.

        — Não importa! Esta menininha quase acabou conosco! — Zeus esvairava sua raiva, relutante.

        — Eu proponho que ela tenha um castigo menos exagerado! Não é como se ela houvesse exposto uma única palavra sobre nós! — Zeus revirou os olhos, porém pensou no que Hades lhe disseste. — Está agindo como se nunca houvesse entrado em contato com a humanidade, irmão.

        — Os tempos mudaram! Eles não são como antes!

     A plateia de deuses murmurando foi a única coisa que poderia se ouvir, tanto Zeus, quanto Hades se calaram. Depois de um pouco pensar, Zeus propôs:

        — Se ela ama tanto assim conversar com um humano, por que não a transformar em uma? Essa raça burra nunca identificaria uma "deusa" facilmente! Ora então, porque não se enturmar com alguns deles? Veronica será transformada em uma humana até segunda ordem!

      Burburinhos fizeram o som ambiente, todos ficaram surpresos com a decisão de Zeus. Todavia, Veronica não poderia ter se sentido melhor, era sua chance de conhecer novos ares e viver novas experiências. Tudo o que sempre desejou: sair daquela pequena ilha no céu.

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ᴡᴏʀʟᴅꜱ ᴄᴏʟʟɪᴅᴇ ▪︎ ʙᴇʀᴏɴɪᴄᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora