Trauma

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Uma brisa refrescante fluía através da janela do meu quarto, preenchendo o ambiente com sua suavidade. Sentada em minha cama, aproveitando o sopro revigorante do vento, uma velha amiga se aproxima pelo corredor, abrindo a porta.

- Senhorita Nature, precisa de alguma coisa? – Uma figura gentil pergunta, sua voz carregada com um tom de preocupação. Suas roupas eram comuns, tecidos de lã que formavam um vestido simples, e um pequeno avental de cozinheira.

- Não Laila, estou bem – Respondo-a com um sorriso reconfortante.

- Se a senhorita precisar que eu leia algum livro ou esteja com fome, por favor, não hesite em chamar, Estarei à disposição.

- Não há necessidade, Laila. Vou até a cozinha eu mesma.

- De qualquer forma, minha senhorita, insisto em estar à disposição – Laila faz uma reverencia graciosa antes de se retirar, fechando a porta com delicadeza atrás dela.

Ouço ela atravessar o corredor e entrar na cozinha, iniciando os preparativos para o almoço. Uma sensação incomoda começa a se acumular em mim; ser tratada como incapaz e ter alguém vigiando meus passos a cada hora do dia me sufoca. Queria sair, conhecer o mundo e viajar... conhecer pessoas novas. Não ficar confinada pelo resto da minha vida.

Me levanto e saio do meu quarto, dirigindo-me até a cozinha. Laila continua focada em seus afazeres culinários, apenas me percebe quando estou adentrando o cômodo. Ela vira-se abruptamente em minha direção.

- Senhorita, precisa de alguma coisa? – Ela pergunta, limpando as mãos em um pano e colocando-o sobre mesa.

- Não, vim apenas ouvir você trabalhando, gosto da sua companhia – Digo enquanto me acomodo em uma das cadeiras. Meus pés balançam de um lado para o outro, como se dançassem a própria melodia dos meus pensamentos.

- Fico imensamente lisonjeada, senhorita – Ela sorri e retorna às suas tarefas, enquanto o aroma apetitoso da comida começa a envolver o ambiente.

Laila é uma amiga de longa data dos meus pais e empregada de nossa casa. Ela tem cuidado de mim desde que eu tinha sete anos de idade. Sempre que lhe peço, ela pacientemente lê histórias de aventura para mim. Ela não parece se incomodar, mas me pergunto se ela é realmente feliz onde está. Se não deseja algo a mais, para além de ser uma empregada doméstica.

- Laila... – Minha voz sai quase como um sussurro, carregada de desânimo.

- Sim, senhorita? – Ela me responde sem desviar sua atenção das atividades da cozinha, suas mãos hábeis continuando sua tarefa de preparar a refeição.

- Você acha que algum dia eu vou poder sair?

A atmosfera que antes era calorosa e reconfortante de repente se enche de tensão. Os movimentos rápidos e rítmicos de Laila pausam abruptamente ao som da minha pergunta. O silencio parece se espalhar como uma sombra, preenchendo os espaços entre as paredes de madeira e o piso de pedra com uma sensação opressora.

- Senhorita... Eu não... – Ela começa a falar, mas suas palavras parecem vacilar no ar, como se não soubesse responder.

- Está tudo bem, desculpe a pergunta. Vou para o meu quarto... – Interrompo sua fala e me levanto da cadeira.

- Senhorita... – Sua voz é suave, mas repleta de preocupação não dita.

Caminho apressadamente em direção ao meu quarto, sem esperar que ela complete sua frase. Fecho a porta, não com força, mas com urgência, e me deixo cair nos lençóis da cama. Minha mente era um turbilhão de pensamentos confusos, uma mistura de emoções e incertezas.

O Segredo das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora