Dupla

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Tudo estava envolto em escuridão, uma experiência familiar para mim. Ao acordar, não conseguia enxergar o mundo como estava acostumada. Era como se nunca tivesse essa habilidade. No entanto, quanto mais eu despertava, gradualmente minha percepção voltava a se restabelecer. Linhas e formas começaram a se formar, moldando silhuetas e dando vida a tudo ao meu redor.

Estiquei meus braços e me sentei na cama, respirando profundamente o ar matinal, sentindo o leve arrepio do frio que me acolhia. Voltei a me deitar na cama, me cobrindo novamente com os lençóis, querendo dormir mais um pouco. A ansiedade para me tornar desbravadora, no entanto, agitava meu estômago, tornando impossível relaxar. Parecia cedo demais, e o frio da manhã tornava a cama irresistivelmente aconchegante.

Flora ainda estava adormecida na cabeceira da cama, confirmando minhas suspeitas de que era cedo demais. Porém, isso não era desculpa suficiente. Em minhas viagens futuras, talvez tenha que resistir a noites inteiras de vigília para evitar ser pega desprevenida. Preciso levantar... Mas a cama é tão quentinha...

Lutei contra a tentação sedutora da cama e, com relutância, levantei. O choque térmico do piso de madeira gelado sob meus pés, me fez arrepiar. Sentei na beira da cama, buscando na pequena mochila minhas roupas limpas. Troquei o pijama a qual havia dormido por uma nova muda de roupa e, em seguida, me encaminhei para o banheiro da estalagem, localizado no primeiro andar, para realizar minhas higienes matinais. Após terminar, retornei ao quarto, subindo as escadas com passos cauteloso até o segundo andar.

Antes de entrar no meu quarto, passei pelo quarto de Nina e Kiara, que ainda estavam mergulhadas em sono profundo. Era intrigante perceber a dualidade entre elas. O lado de Kiara era notavelmente mais organizado em comparação ao lado de Nina. Parecia dois lados que se completavam: o lado racional e o lado emocional.

Segui para meu próprio quarto, fechando a porta silenciosamente atrás de mim. Flora ainda dormia elegantemente na cabeceira da cama. Enquanto ela descansava, decidi fazer a cama, seguindo as lições que Laila havia me ensinado. Sentia que dentro da minha mochila, havia apenas duas mudas de roupas restantes, talvez precisasse lavar as outras antes de ir para alguma missão.

Após terminar de arrumar minha cama, mergulhei em pensamentos, relembrando a conversa que ouvi na noite anterior. Meu coração se apertou por um momento, pois entender o peso da perda não era uma tarefa fácil. Já havia experimentado algo semelhante cerca de um ano atrás, quando Laila se lançou em minha frente, recebendo um golpe que seria fatal para mim.

Lembro-me da sensação sufocante, do gosto amargo que se instalou em minha garganta. Tudo ao meu redor parecia desmoronar, e por um breve momento, minha percepção do mundo desapareceu, mergulhando-me em um breu completo. Nos meses em que Laila se recuperou, minha mente e meu coração foram atormentados pela culpa. Eu sabia que era minha culpa, se eu não tivesse saído naquele dia, ela estaria bem. Jurei a mim mesma que não permitiria que algo assim acontecesse novamente.

Estava em uma jornada em busca de força, não apenas para me proteger, mas também para proteger aqueles que eram preciosos para mim. Minha missão era manter Flora segura, proteger minha família e garantir que Laila nunca mais corresse perigo. Não quero sentir aquilo de novo...

Quando me dei conta, Flora já havia acordado e emitido um corujar suave, como se me chamasse de volta para realidade.

- Finalmente acordou dorminhoca – Comentei com um sorriso – A gente precisa ir na guilda, então é melhor nos apressarmos – Falei, enquanto pegava minha mochila.

Flora voou até meu ombro e se acomodou ali enquanto eu transferia algumas coisas da bolsa que havia trazido da floresta para a minha mochila de viagem. Tudo estava em seu devido lugar: a pederneira, um cantil de couro e uma pequena caixa de palha seca para acender uma fogueira. Com a mochila nas costas, saí do quarto em direção a guilda, deixando a chave na recepção da estalagem, onde uma simpática recepcionista a guardou em um baú atrás do balcão.

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⏰ Última atualização: Oct 12, 2023 ⏰

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