O Segredo das Sombras

Orgulho

O vento frio da noite soprava, causando arrepios em meus braços e rosto. À minha frente, uma criatura com a qual nunca sonharia em enfrentar. O monstro felino se movia cautelosamente ao meu redor, rosnando baixo enquanto me estudava. Suas presas eram grandes e sua postura me causava temor. A criatura, com certeza, era maior que eu e estava acostumada a enfrentar adversários. Eu, por outro lado, tinha saído recentemente de minha casa e tinha pouco treinamento, mas precisava colocar em prática o que tinha aprendido até agora.

O animal devia estar caçando; sua estrutura indicava que não estava desnutrido. Causar algum dano para afugentá-lo deveria ser o suficiente. Não queria entrar em um confronto prolongado com ele. Porém, enquanto minha mente vagueava em possibilidades sobre o que fazer, o animal avançou.

Com puro reflexo, posicionei meus pés de modo a recuar, enquanto minhas mãos executavam movimentos rápidos e precisos. A terra a minha frente tomou forma, erguendo-se como uma parede que bloqueou o avanço da criatura. No entanto, ela contornou a parede protetora, mantendo-me em seu campo de visão. Sem me dar tempo para reagir, avançou novamente em minha direção e saltou, ficando momentaneamente invisível para mim. O desespero tomou conta de mim em questão de segundos, pois sabia que logo ela estaria sobre mim, pronta para me devorar. Minhas mãos seguiram até meu rosto, buscando protegê-lo, mas uma imagem e uma vontade surgiram em minha mente.

Era Nina, e ela dizia: "Nunca desista antes da hora!". Então, minhas mão mudaram seu curso. Antes de chegarem ao meu rosto, as ergui de palma aberta em frente ao meu rosto, com as palmas viradas uma para a outra e a direita um pouco à frente da esquerda. Não sabia onde o animal estava, mas tinha uma vaga noção de sua trajetória. Firmando um de meus pés no chão, girei para a direita, sentindo o vento ser cortado à minha frente. Momentos depois, a criatura felina tomou forma novamente diante de mim. Ela rosnava, expressando sua insatisfação enquanto feria o solo com suas garras.

Inspirei pelo nariz e soltei o ar pela boca, acalmando meu coração que havia aumentado seu trabalho por causa do desespero momentâneo, e intensificando minha concentração na luta que se desenrolava à minha frente. As decisões que tomei foram rápidas, assim como aquela de fugir com Nina. Essas decisões haviam mudado o curso de minha vida, alterando completamente meu destino. Não era mais a Nature que se entregava ao medo e ficava paralisada diante do perigo eminente. Eu agora era uma nova Nature, aquela que enfrentava seus temores de frente e estava determinada a superá-los, disposta a se esforçar ao máximo para crescer a cada dia. Não é um gatinho bravo que vai me amedrontar.

O animal se preparou e mais uma vez se lançou em minha direção. Temendo sua investida, executei um movimento circular com a perna esquerda enquanto movimentava meus braços. O solo sob as patas do grande felino se alterou, tornando-se irregular e fazendo com que perdesse o equilibro, derrapando diante de mim. Em questão de segundos, ele se reergueu, demonstrando grande agilidade, mas não podia dar para ele o tempo de respirar.

Caminhando em direção a ele com firmeza, movendo meus braços de maneira ascendente. Erguendo pequenas rochas e as lançando em direção a criatura. Esta, por sua vez, se esquivava com agilidade, evitando a maioria dos projéteis, mas não antes de ser atingida por alguns deles.

Apesar de estar indo bem em combate, havia cometido um erro. Ao dançar com a terra para lançar as rochas na direção da criatura, me aproximei demais do animal. Ele, aproveitando minha falha, desferiu um poderoso golpe com sua pata dianteira em minha direção. Tentei evitar o ataque me afastando, mas fui atingida em meu braço direito, que começou a sangrar.

A dor era excruciante, sentir a carne rasgar era uma sensação estranha de se presenciar. Senti o líquido quente percorrer toda a extensão de meu braço, manchando o chão e meus pés. Aquilo era dor de verdade, não era comparável a ralar o joelho ou cortar levemente o dedo. Não posso parar agora!