Ainda de olhos fechados, estico minha mão à procura do despertador, que não para de soar esse barulho irritante. Ao desligá-lo, me levanto e fico sentada na cama por um instante, lembrando ter ficado ontem pensando sobre se devo ir ou não a festa. E a que decisão cheguei? Nenhuma.
Vou para o banheiro, tomar um banho rápido. Ao terminar, escovo meus dentes.
Quando estou penteando meus cabelos, escuto meu celular tocando lá no quarto, termino de penteá-los rapidamente e o amarro em um rabo de cavalo.
Olho o aparelho e vejo que tem duas chamadas perdidas da minha mãe. Conhecendo muito bem ela sei que deve ligar novamente em 9,8,7,6,5,4 ...
- Oi mãe! Como vai?
-Oi. Sophie! Tudo bem?
- É... Vou vivendo, está tudo ok. - digo, meio confusa , enquanto termino de calçar os tênis.
- Você e esse mau humor. Porque nunca me fala sobre isso? - Ela diz, com um ar de decepção na voz.
- A senhora também nunca fala do meu pai. - retruco, arrumando os meus materiais na bolsa.
- Já disse quantas vezes que não sei nada do seu pai? - ela diz ,irritada. Sempre que toco nesse assunto, é essa a sua maneira de agir.
- Mãe, eu quero detalhes! Isso que me diz não é suficiente. - digo, exaltada, saindo do meu apartamento. Permanece o silêncio do outro lado da linha.
- Filha, e como está indo aí? Já se adaptou direitinho? Você anda se alimentando direito, não é? E os estudos? - pergunta compulsivamente, mudando de assunto, assim como das outras vezes que questiono sobre o meu pai.
Entro no carro, mas não dou a partida. Nesse momento, gostaria que minha mãe estivesse bem aqui na minha frente só para poder tirar essa história a limpo de uma vez por todas.
É claro que das outras vezes eu estava frente à frente com ela, mas como eu disse sempre dava um jeito de escapar, mudava de assunto ou dava uma desculpa e me deixava lá sozinha, ou as duas coisas. Afinal, sempre uma atitude contraditória. Porém, se ela estivesse aqui do meu lado, hoje não a deixaria fugir.
- Mãe, já que você gosta tanto de mudar de assunto, também vou fazer o mesmo. Hum... Ah, preciso desligar, estou atrasada para a faculdade. Tchau! - digo, com sarcasmo.
- Espere, Sophie! - ela diz, e eu desligo a ligação.
Ligo o carro e me dirijo para a casa de Della. Fico pensando, por que minha mãe nunca fala dele. Será que ela não vê que eu cresci? Que tenho maturidade o suficiente para entender tais questões? A única coisa que ela disse a seu respeito foi o fato de que meu pai a deixou antes mesmo de eu nascer. Só isso. E o resto? Como se conheceram, como ele era, por que a deixou? Entre várias outras dúvidas que rondam a minha mente.
Quando viro a esquina, Della já está me esperando. Paro e ela entra toda sorridente, com certeza está pensando na festa de amanhã e, claro, na minha decisão.
- Bom dia, Sophie. Olha como hoje o dia está lindo! - ela diz de bom humor.
- Bom dia Della. Vejo que hoje seu humor está ótimo.
- Claro! Na verdade a maioria dos dias estou de bom humor, mas hoje é um dia especial : É a véspera da festa! - Isso realmente é verdade para ambas as coisas que ela disse.
- Uau! Se na véspera já está assim imagine no dia: Será uma explosão de felicidade! - digo, meio risonha. É disso que eu gosto nela, seu humor sempre me coloca para cima.
- Com certeza, é tão bom se divertir, dançar bastante, encontrar os gatinhos... - não sei por que, mas tenho a leve impressão de que esse argumento foi mais uma maneira de me convencer.
- Você está muito animada. A senhorita vai em quase todas as festas de fim de semana, por que por acaso está mais animada com está em especial? - pergunto, jogando um verde para ela.
- E não era para estar? Não é uma festinha, uma baladinha. É a festa mais esperada do momento! - ela diz, dando bastante ênfase no final.
- Não vejo a mínima diferença. - digo.
- E você também não era para estar da mesma forma? Porque é claro que você vai, não é mesmo? - engulo em seco, prometi a ela que iria pensar, mas até agora não me decidi.
- É... é... o que você disse mesmo? - finjo não ter escutado sua pergunta. Sinceramente não estou com vontade de falar nesse assunto. Sabe o que é se sentir completamente idiota pela simples atitude de querer ignorar um fato que geralmente outros não fariam? Então esse é meu caso. Identifico-me como um "peixe fora d'água". Pela maneira como Della me olha, também já deve ter percebido este detalhe.
- Argh! Nem adianta repetir que não entendeu, porque sei que sim. Eu já te falei o quanto você é estranha? - Ela questiona meio irritada. Desde que a conheço já me disse isso uma porção de vezes, fazendo-me perder a conta de quantas foi.
Concentro-me na direção do veículo e como das outras ocasiões em que falou da minha "estranheza", apenas dou de ombros, reviro os olhos e não menciono nada. Pelo canto do olho percebo que ela continua focada em mim e pela sua expressão posso dizer que está indignada.
Depois pega um espelho e um batom, passando-o em sua boca. A conheço o suficiente para saber que quer falar algo, mas por enquanto o que reina é o silêncio, por sinal muito irritante.
Della fica inquieta no banco do carro. Ora coloca os pés no painel, ora mexe nos cabelos. O que será que ela está pensando? Por que não me fala de uma vez por todas? Como não ela não diz nada resolvo tomar a iniciativa:
- Eu sei que sou estranha. Não precisa ficar me lembrando, e nem se perguntando o porquê. - digo, acabando com o silêncio. Procuro um lugar para estacionar enquanto que ela parece escolher as palavras, o que é raro de acontecer.
- Eu não fico me perguntando porque, muito menos te julgando por isso. É só que às vezes eu acabo extrapolando nas minhas palavras. Também não gosto de te ver sozinha enquanto que estou saindo por aí, quero que você venha comigo, poxa! - ela desabafa.
- Não tenha pena de mim. - resmungo. Abrimos a porta do carro e nos direcionamos para nossas salas.
- Quem disse que tenho pena de você, eu poderia ter é inveja! - olho para ela confusa - Olha só, você tem uma pele de pêssego, cabelo liso, corpo perfeito, tem carro... só te acho estranha...ops!
Caímos na gargalhada, depois fico séria de repente para corrigir o que ela disse.
- Ei! Não tenho corpo perfeito e nem pele de pêssego. - chamo sua atenção.
- Já que diz, não vou contestar! - ela diz querendo mudar de assunto - Será que com toda essa conversa você se decidiu em alguma coisa? - Della olha para mim com um sorrisinho no rosto. Só ela mesmo! Voltou ao ponto inicial de toda a discussão.
Reviro os olhos, sorrindo.
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Inalcançável
Novela Juvenil"Sinto-me tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Você é como a estrela mais distante ... Como o fogo que não queima... " Sophie é uma jovem que mudou-se para Houston com o objetivo não só de se ingressar na faculdade, mas também de fugir de tudo aq...