Algo bom...

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Dizer o que estou sentindo é algo tão inexplicável e tão absurdamente perturbador.

Eu sempre fiquei imaginando como seria quando encontrasse meu pai. Constantemente idealizava as circunstâncias que nos encontraríamos. Ficava pensando se ele me abraçaria, se ele gostaria de mim.

Quando criança desejava a todo custo que ele aparecesse e nos dissesse que ficaria para sempre ao nosso lado. Queria tanto ter um pai comigo...

Eu nunca imaginei que minhas imaginações um dia poderiam se tornar realidade e muito menos que meu encontro com ele seria assim, em um hospital, onde ele estivesse tão debilitado e fraco.

Tenho certeza de que meus olhos estão arregalados enquanto meu coração está pulando, se sacudindo, querendo de alguma forma fugir. Acho que nem só meu coração como eu também.

Seus dedos pararam de mexer a alguns minutos, o que me faz achar que ele não vai acordar como estava pensando. Minha respiração se tranquiliza um pouco.

No entanto, quando retorno meu olhar, que estava posicionado em sua mão, para seu rosto novamente, seus olhos já estão abertos, encarando o teto.

Um pequeno som indistinguível sai da minha boca pelo susto rápido que tomei. Fico o encarando sem saber o que fazer. Não sei se eu falo algo ou se vou embora daqui o mais rápido possível.

Seus olhos continuam abertos olhando para cima. Tenho a impressão de que ele não notou minha presença.

- Como a mãe, sempre tão indecisa. - o som da sua voz rouca e grave chega aos meus ouvidos, alterando novamente a velocidade das batidas do meu coração.

Permaneço calada, o observando fielmente. Ele me olha pelo canto do olho, pois a posição em que está não o deixa ter uma visão privilegiada de mim.

Dou um passo para trás e viro as costas, caminhando rapidamente em direção à porta.

- Não. - ele diz com dificuldade como se sentisse alguma dor. Eu paro, mas continuo de costas. - Não vá. Fique, por favor.

Eu hesito. Uma parte de mim quer ir embora daqui, mas a outra quer desesperadamente ficar. Sua maneira de falar me tocou. Então eu giro meus calcanhares e volto lentamente para perto dele.

- Aproxime-se mais. Quero ver seu rosto de perto. - ordena.

Eu me aproximo a uma distância considerável para que possamos ter uma completa visão do rosto um do outro. Ele me encara profundamente. Seus olhos estão carregados de dor.

- Sei que isso não é o suficiente para apagar tudo que eu fiz. Mas... eu te peço perdão. - ele fecha os olhos bruscamente, obviamente está sentindo muita dor. - Perdão por ter te abandonado, minha filha - ele diz ainda de olhos fechados.

Eu permaneço sem falar nada. Um bolo se forma em minha garganta e não sei por quanto tempo poderei conter as lágrimas.

Eu deveria sentir muita raiva desse homem que me abandonou, que é um bandido e que acabou com a vida do pai de Edward. Mas simplesmente não consigo. Não consigo ter ódio, mágoa ou rancor.

Tudo que sinto é pena.

Tenho pena do estado deplorável em que ele se encontra. Tenho pena de ele não ter seguido outra direção em sua vida ao invés da que ele seguiu.

- Perdão... Por incrível que pareça eu sinto algo profundo por você. Eu acho que é isso que os pais sentem por seus filhos... - ele diz, com um pouco de dificuldade em articular as palavras.

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