this is me trying

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— Eu tô tentando Helena. — Clara suspirou em um fio de voz, os olhos vermelhos, e sentindo o chão se abrindo. — Eu tô tentando. — Ela não poupava lágrimas. Clara sabia que se estivesse em pé já teria caído no chão.

  20 anos casada com Theo, anos de puro abuso e manipulação, a criação preconceituosa com a madrinha, o pai bruto durante a infância e a mãe calada, a casa vazia, a depressão pós parto, Helena foi a primeira a saber de tudo isso e querer ficar.

Mas Clara sempre sentiu o frio na barriga, a voz do Theo sussurrando que Helena iria embora quando se cansasse dela, a voz da tia dizendo que era uma fase também não saia da sua cabeça, ela sabia quando Helena começou a falar que ela se arrependia. Ela sentia que sua namorada se arrependia de ter sido amante, de ter começado a namorar, se mudar para lá, de todos os problemas que começaram, dá mudança para SP, mas mesmo assim a voz da Helena dizendo eu te amo sempre era mais alta do que tudo de ruim, menos naquele dia.

  Clara havia ido a academia mais cedo para chamar Helena para almoçar fora juntas, algo que não faziam a tempos, namorar na calçada da praia, ouvir a namorada contar sobre sua manhã agitada, se sentir um pouco parte daquela rotina gostosa da personal. Ela só queria estar com a Helena fora do apartamento e sem problemas para variar.

Ela estava se sentindo tão mal, mas não queria contar a amada, só queria sua companhia para calar as vozes na sua cabeça que a culparam pela noite com as amigas da Helena, noite na qual elas haviam quase brigado, tudo porque Clara quis ir embora mais cedo, se sentindo fora do mundo da Helena, ouvindo histórias que ela nunca tinha ouvido, as citações sobre as ex, sobre a família da namorada que Clara só havia conversado por telefone uma vez, sobre a faculdade, as conversas sobre se aceitar e ser querem elas eram, sendo a Clara ainda tinha pesadelos com Theo pelo menos uma vez por semana, não sabia como havia chegado tão fundo no poço, ainda chorava quando se via no espelho, se sentia insegura ao segurar a mão da Helena pensando se a namorada não merecia mais do ela, como ela ia dizer orgulhosamente se era lesbica ou bissexual, se antes da Helena ela nem sabia como era amar a si mesma quanto mais outra pessoa.

Mas tambem ela sabia que era muito peso responsabilizar Helena por todo o avanço que ela tinha dado, avanço que parecia estar voltando duas casas para trás, com a falta de grana a terapia estava parada e todos os outros problemas vieram sem dó do casal, e Clara sentia falta de poder chorar pela vida dela sem que Helena sentisse a responsabilidade de lhe acalmar, não queria que Helena se sentisse assim, uma boia de salvação pois ela era muito mais, ela era a luz do farol que guiou Clara para fora do mar, e a personal já tinha tido que sempre quis a salvar do relacionamento com Theo, mas Clara fez sozinha.

Mas mesmo assim, analisando tudo isso, as amigas da Helena trouxeram a insegurança da Clara de volta no momento mais inoportuno, depois de semanas de brigas silenciosos por contas de problemas elas juravam que drinks e risadas iam fazer bem, mas Helena só se afastou mais, era difícil para a professora ouvir que era uma espécie de salvadora e não amor da vida Clara, era difícil amar uma pessoa que não sabia o que era, e ela tentava entender, mas Clara só se afastava conforme os dias se passavam, e o medo atacava Helena de uma forma avassaladora, a fazendo ficar distante na mesma forma, e em silêncio pois tinha medo de dizer "Oi" e Clara dizer "tchau", ela queria ficar, dizer que amava e que tudo ficaria bem, mas não ficaria, Clara nunca havia dido se quer um "Eu também" nem mesmo um "idem" a cada "Eu te amo" que Helena dizia, isso a machucava, mas ela não sabia como expressar isso, por isso culparia o afastamento, o ciúmes, que era inútil em sua visão, mas não diria tudo que queria, ainda mais porque tinha medo de ouvir um "Eu te amo" sem sentimento e acabar ficando do lado da modelo por pura pressão.

Clara se arrependia de ter tido ciúmes, era um dedo no ombro da aluna, mas um dia ela também foi só mais uma aluna, e olha onde elas chegaram, e a moça era tão mais bonita, jovem, provavelmente não chorava de noite por se sentir insuficiente, e olhava Helena com um olhar doce como se a boca da profissional fosse um fago de mel, e ela sabia no seu interior que era aquilo que Helena merecia, alguém mil vezes melhor do que ela, que não tinha gastado "Eu te amo" para um ex marido horrível durante tanto tempo que não conseguia dizer a Helena, alguém que não tinha medo de fazer memórias boas com declarações de amor porque sentia que ia ser abandonada com as memórias no fim. Tudo que envolvia Helena, Clara queria fazer com cuidado, ela era a primeira que a modelo amava assim, que a segurou sem machucar, ela tinha muito a dizer sobre seu amor, claro que tinha, mas era mais fácil receber calada já que sentia que ia ser abandonada.

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