Tudo que podia ser resolvido

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Para Helena ver Clara depois de todos aqueles finitos dias era como ver sentir um dia de verão após um inverno gelado. Sentir seu cheiro dentro do abraço, mesmo sentindo as lágrimas da mesma molhando sua camiseta, ela se sentia tão feliz por ter tido a chance de estar naquele abraço de novo. Tão certa de que era aquilo que ela queria pra vida toda dela, mesmo com medo de Clara não a querer de volta, ou que elas ainda apesar do tempo separadas ainda não estivessem prontas para isso.

— Eu soube do Theo. Vim o mais rápido que pude, a funcionária nova da sua casa disse que você estaria aqui. — Disse Helena trazendo as duas para a realidade.
Clara fungou e assentiu saindo do abraço, e dando dois passos para atrás. Helena estava ainda mais linda naquela manhã, algumas lágrimas discretas caiam pelo seu rosto, e seu olhar transmitia tanto sentimento, era uma das coisas que Clara mais amava nela, como seu rosto angelical era capaz de transmitir tanto do que ela sentia.

— Como você está? O que está sentindo? Tem algo que eu possa fazer? — Helena foi atropelando as perguntas dando um passo para frente. Ela queria tanto estar lá.
— Eu estou bem. Tá tudo bem Helena. — Clara deu a volta na sala ficando de frente para janela. Escolhendo as melhores palavras. — Eu as vezes desejei que ele morresse, ou que melhorasse, desejei até que só sumisse da nossas vidas. Agora eu acho que não sinto nada. Nada em relação a morte dele. Porque de resto... — Bateu a mãos na na calça suspirando fundo e se virou para Helena. —Todo o resto é uma batalha de sentimentos, me sinto exausta com toda essa situação.

Clara automaticamente, como toda vez que estava nervosa levou sua mão direita ao colar de compromisso que tinha com Helena, mexendo frequentemente até se acalmar.

Helena sorriu ao ver quão fofa ela ficava tentando arrumar seus pensamentos, Clara parecia a mesma apesar de parecer diferente, ou será que Helena estava ainda mais apaixonada por ela após esse tempo longe?

A personal deu os passos necessários para voltar a ficar de frente para a Clara e segurou sua mão que estava segurando o pingente do colar, a modelo levou um susto à princípio mas deixou Helena segurar-la e lavar até seus lábios e beijar, numa tentativa falha de acalmar os pensamentos tão barulhentos da amada.

— Eu posso te levar pra casa, te fazer um carinho, você pode desabafar comigo. —  Helena se fez solicita mantendo um sorriso acolhedor.
Naquele momento, a palavra "Casa" fez Clara lembrar de tudo, a dor voltar pro peito, as noites em claro na varanda tomando vinho com Helena, e depois as noites sozinhas esperando ver seu carro entrando na garagem do prédio.

"Eu preciso de um tempo" tempo esse que foi esclarecedor mas tão doloroso, tão inresolvido.
Clara largou a mão da Helena, e suspirou, tão pesado que parecia que o ar não era o suficiente. Ela fechou os olhos por um instante, e olhou para o outro lado da sala, ela precisa tanto daquele momento com Helena, fosse ele pra chorar ou sorrir.

— Eu te liguei... Tantas vezes que o dedo perdeu a cor, e foram tantas mensagens que desaprendi algumas palavras. Nada Helena, só silêncio. — a voz de Clara foi se tornando amargurada, ela sentia todas as emoções a sucumbirem novamente. — Mas eu vi as fotos felizes com as suas amigas, as marcações em bares, os pratos de almoço, você com os seus alunos no prédio. Tão feliz Helena. Era assim quando estava comigo também? Era a mesma felicidade? Como... — Suspirou e deixou uma lágrima escorrer pelo rosto. Ela tinha tanto a dizer. — Queria tanto fingir que não me conhecia que simplesmente apagou tudo da memória, foi isso não foi? Foi fácil tão assim pra você Helena? Porque eu ainda não consegui, e eu tento todo dia. — Clara secou a lágrima no meio do caminho pelo sua bochecha com certa raiva e encarou os olhos da personal.

É claro que após as sessões de terapia ela percebeu a necessidade de ficar sozinha para se resolver, mas mesmo assim, sentia tantas emoções em relação a Helena, que ficava impressionada com a facilidade que a mesma teve em seguir em frente, mesmo depois de ter afirmado que era um tempo, e ter deixado claro que era um término em cada uma da suas ações.

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