o início

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-A senhora não vai se arrepender desse negócio Dona Cândida. -afirma o pai de Irene ao receber o dinheiro da proprietária do bordel.

-Espero mesmo que ela não me traga mais problemas do que eu já tenho, não é mesmo querida? -diz ficando cara a cara com a menina.

Irene, que até então estava de costas para os dois, se vira e os encara firmemente.

-Sendo bem sincera, eu quero que vocês vão para o quinto dos infernos!

Ao mal terminar a frase, sente a sua face esquerda queimar. Havia acabado de levar um tapa de Cândida.

-Acho bom você começar a me respeitar aqui, se não eu mesma vou fazer da sua vida um verdadeiro inferno, fui clara!?

Irene que estava processando todos esses acontecimentos, tira a sua mão do rosto e levanta seu olhar novamente.

-Como um cristal, Dona Cândida.

-Ótimo!

A menina repara na expressão de espanto do pai e se aproxima dele.

-Espero mesmo que você olhe bem para mim...porque esta é a última vez que você vai me ver.

Irene respira fundo e solta um suspiro.

-Eu nunca senti tanta raiva de você em toda a minha vida e tudo isso para quê!? Alimentar um vício? Vocês são nojentos! Você e aquele jumento do meu irmão!

O homem apenas absorve as palavras da filha sem responder nada e vai embora, contando as cédulas que havia recebido. Irene sente um incômodo por não ter conseguido causar reação alguma em seu pai. Percebe seus olhos marejarem conforme a figura dele se perde em sua visão, mas segura as lágrimas quando nota uma mão em seu ombro...a mesma mão que havia acabado de lhe dar um tapa.

-Eu sei que começamos de uma forma horrível, mas o quão cedo você aceitar o seu destino, menos dolorosa será essa trajetória.

A moça apenas olha para a mais velha assentindo com a cabeça.

-Vamos, me acompanhe, vou lhe mostrar os seus aposentos.

Irene a segue até a parte de trás do bar. Ao adentrar em seu novo quarto percebe que é tudo bem modesto, as paredes tinham uma tintura amarelo claro, praticamente, toda desbotada, havia uma cama de casal, um guarda-roupa de duas portas, uma cômoda que ficava na frente da cama, um espelho, uma poltrona vermelha e um banheiro minúsculo.
A dona do bar se escora no batente da porta e toma a iniciativa da conversa.

-Bom, aqui é onde você irá receber os nossos clientes. É simples, mas acredito que já tenha visto coisa pior. Vou te deixar a vontade para se ajeitar, cuidado para não perder o horário, começamos a trabalhar às 18:30.

Ao fechar a porta do quarto, Irene se joga na cama e se permite chorar, liberando todas as lágrimas que estava segurando desde o início, suas dores e mágoas.

-Por que meu Deus!?!? O que eu fiz para merecer tudo isso... -diz entre soluços.

A mulher acaba pegando no sono por conta do cansaço proveniente de todos esses recentes acontecimentos e acorda assustada ao escutar batidas na porta de seu quarto acompanhadas de uma voz desconhecida.

-Ô moça nova, tá viva aí dentro?!? A Dona Cândida te mata se você se atrasar pro seu primeiro dia.

A novata levanta meio sonolenta e confusa. Ao abrir a porta de seu quarto, uma mulher, um pouco mais alta do que ela e de cabelos negros, entra com tudo em seu quarto.

-Você só pode estar louca pra dormir até esse horário, como raios vai se arrumar a tempo??

A mulher olha para Irene e percebe a expressão de desolada da recém chegada.

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